Por que seu corpo insiste em engordar de novo? Estudo aponta culpado
Estudo revela que o corpo guarda uma memória biológica do excesso de peso, dificultando a manutenção do emagrecimento e revelando o papel da epigenética
Você já perdeu peso e, em pouco tempo, voltou a engordar? Esse ciclo, conhecido como efeito sanfona, é um desafio comum para quem luta contra a balança. Até hoje, a explicação mais popular girava em torno da dificuldade de manter dietas restritivas e do comportamento alimentar. No entanto, um novo estudo científico publicado na revista Nature acaba de mudar essa narrativa.
Pesquisadores do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurique), na Suíça, identificaram um mecanismo biológico surpreendente: as células de gordura mantêm uma “memória” epigenética da obesidade, o que torna mais fácil recuperar o peso perdido após o emagrecimento. A descoberta oferece uma nova perspectiva sobre o porquê de o efeito sanfona ser tão frequente — e tão difícil de combater.
O que é epigenética e como ela interfere no peso corporal?
A epigenética é o ramo da biologia que estuda as alterações na expressão dos genes sem modificar a sequência do DNA. Essas mudanças são influenciadas por fatores ambientais como alimentação, estresse, sono e estilo de vida. Na prática, isso significa que mesmo que uma pessoa perca peso, certas “marcas moleculares” adquiridas durante a fase de obesidade podem permanecer ativas nas células.

As células de gordura, por exemplo, têm uma vida longa — podem sobreviver por até 10 anos — e continuam armazenando essas informações epigenéticas. Isso pode fazer com que o corpo tente, de forma inconsciente e automática, retornar ao estado anterior de sobrepeso.
Estudo revela como o corpo “se lembra” da obesidade
Para entender melhor esse mecanismo, os pesquisadores conduziram testes em camundongos com sobrepeso. Após um período de dieta e emagrecimento, os animais voltaram a consumir uma dieta rica em gordura. O resultado? Eles recuperaram o peso perdido de forma muito mais rápida do que antes. A análise mostrou que alterações epigenéticas nas células adiposas permaneceram mesmo após a perda de peso, comprovando a existência de uma espécie de memória biológica da obesidade.
Segundo o professor Ferdinand von Meyenn, especialista em Nutrição e Epigenética Metabólica da ETH Zurique, “as células de gordura lembram do estado de sobrepeso e podem retornar a ele com mais facilidade”.
Humanos também apresentam esse padrão
Embora o experimento inicial tenha sido feito com animais, os cientistas investigaram biópsias de tecido adiposo de pessoas que realizaram cirurgia bariátrica. Os resultados apontaram para padrões semelhantes: mesmo após significativa perda de peso, o corpo ainda apresentava sinais de expressão genética ligados ao estado anterior de obesidade.
Embora os testes em humanos tenham focado na expressão dos genes — e não diretamente nos marcadores epigenéticos —, os achados reforçam a hipótese de que o corpo “guarda” a obesidade em seu sistema, o que dificulta a manutenção do peso ideal ao longo do tempo.
Por que prevenir a obesidade é melhor do que tratar
A principal lição do estudo é clara: prevenir o ganho de peso é mais eficaz do que tentar revertê-lo depois. Atualmente, não existem tratamentos ou medicamentos capazes de apagar essa memória epigenética das células de gordura. Portanto, manter hábitos saudáveis desde cedo é a melhor forma de evitar o ciclo do efeito sanfona.
“Esse efeito de memória reforça a importância de evitar o excesso de peso desde o início. É a maneira mais simples de combater o efeito sanfona”, afirma von Meyenn.
Além disso, os pesquisadores acreditam que outras células do corpo, como as do cérebro e dos vasos sanguíneos, também possam armazenar memórias epigenéticas relacionadas à obesidade, o que ampliaria ainda mais as dificuldades para quem busca emagrecer de forma duradoura.