‘Prazerela’, a casa onde as mulheres descobrem sua potência orgástica
Um local seguro e exclusivo para mulheres, que oferece a elas uma experiência transformadora: esta é a proposta do projeto criado por Mariana Stock
Um espaço seguro, exclusivo para as mulheres, que oferece uma experiência transformadora: o descobrimento da potência orgástica e dos estados de prazer do corpo feminino. Esta é a proposta da Casa Prazerela, localizada na Vila Madalena, zona oeste da cidade de São Paulo.
A iniciativa foi criada no início de 2017 pela comunicóloga e psicanalista Mariana Stock com a missão de apoiar as mulheres a se empoderarem de sua sexualidade. Neste começo, a idealizadora do projeto dava palestras sobre o tema, mas, em novembro do mesmo ano, sentiu a necessidade de abrir um espaço físico em que as participantes pudessem se encontrar e viver experiências de descobertas do prazer.
A principal experiência oferecida pela Casa Prazerela é a terapia orgástica, que induz a mulher a ter ou intensificar o orgasmo. “A gente conhece muito pouco dessa descarga de prazer nas relações íntimas porque vivemos numa sociedade repressora da sexualidade feminina. Por isso, a gente busca olhar a sexualidade por um viés da positividade”, afirma Mariana em entrevista à Catraca Livre.
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Além da terapia orgástica, o espaço tem encontros, como palestras e cursos (presenciais ou online), em que são abordadas questões relacionadas à sexualidade feminina e sexo. Para a criadora do local, antes de viver uma experiência no corpo, é muito importante que a mulher seja capaz de refletir sobre o assunto. “Os cursos trazem esse diálogo, pois a primeira carência que temos é a de fala, de não saber nomear o que sentimos.”
Quer saber mais sobre a Casa Prazerela? Confira aqui! E assista ao vídeo abaixo do canal JoutJout Prazer, com a participação de Mariana Stock:
https://youtu.be/VFI1zHEfR8U
Mas o que é a terapia orgástica?
As sessões de terapia orgástica são individuais, sempre feitas com terapeutas mulheres, nas quais a paciente vai viver uma experiência sensorial no corpo. Tudo começa com um processo de consciência corporal e só depois tem início a descoberta da energia vital do genital. Cada sessão dura em média duas horas e as mulheres são convidadas a ficarem nuas para vivenciar a experiência no corpo.
Em geral, o resultado é muito forte porque é uma descarga orgástica que grande parte das pessoas não está acostumada a viver no dia a dia. “Por isso, se a pessoa tem muitas dúvidas e tabus sobre sexualidade e sexo, participar antes dos cursos pode dar uma tranquilizada. Mas não é um impeditivo: é possível fazer a terapia orgástica sem os encontros”, explica Stock.
Sobre o perfil das mulheres que frequentam a Casa, ela relata que, antes, era predominantemente composto por pessoas entre 30 e 40 anos, mas hoje a variedade do público se ampliou. “Cada vez temos recebido mulheres mais velhas. Na terapia orgástica, por exemplo, recebemos mulheres de 80 anos”, diz. A experiência é realizada com mulheres a partir de 18 anos e o número de sessões fica a critério de cada uma.
Após as sessões, muitas pacientes enviam relatos sobre o que sentiram. “O que elas descobrem aqui vai muito além de um orgasmo potente. Quando a mulher vive essa sensação, isso se propaga para todas as esferas da sua vida, nos relacionamentos, no trabalho… Um lugar de segurança, de autoestima e de liberdade. Elas vêm aqui achando que vai ser uma grande descoberta da sexualidade, mas acaba se tornando uma transformação na vida.”
Segundo a idealizadora da iniciativa, muitas mulheres chegam à Prazerela se sentindo extremamente culpadas e envergonhadas. Por isso, a ideia do espaço é acolher e mostrar que essa sensação é reflexo da sociedade, atravessada por questões machistas, em que o lugar do prazer e da libido feminina é muito reprimido.
“Aqui, a gente começa a explicar de uma forma natural, embasada e científica o que é o corpo biológico da mulher, o que é um clítoris, como a gente encontra formas de desconstruir esse julgamento que temos sobre a sexualidade. A principal barreira que a gente tem para viver essa sexualidade de uma forma plena e positiva é a mente castradora que nos boicota”, reflete.
Sexo e sexualidade
Para Mariana Stock, é muito importante a gente entender que sexo e sexualidade são coisas diferentes. Hoje, o que temos de educação não é a respeito de sexualidade, mas, sim, de sexo. “A gente pula justamente o primeiro capítulo dessa história que é a individualidade. Quando falamos de sexualidade, é sobre reconhecer antes o nosso corpo, de reconhecer os nossos limites e as nossas zonas prazerosas e erógenas”, afirma. “Quando falo de sexo, já é a respeito de uma interação com o outro.”
Ao pular a etapa de conhecer a nós mesmos, o espaço do sexo se torna algo baseado em performance, e todo mundo perde nessa história. “A mulher fingindo que goza, e o homem fingindo que está tudo bem naquela performance ‘bate-estaca’. Assim ninguém vive a potência da sexualidade, nem os homens nem as mulheres. Precisamos voltar algumas casas nessa história para aprender sobre sexualidade.” Antes de tudo, é necessário que cada uma entenda o que gosta e o que a faz sentir prazer e gozar.
A grande demanda das mulheres que procuram a iniciativa é falar sobre as dificuldades de gozar, de entender o próprio corpo e de se masturbar. “Essas questões são muito iniciantes. Se a gente tivesse tido educação sexual na infância e adolescência, poderíamos estar em outro patamar da sexualidade. Na nossa sociedade, às vezes nem entre amigas temos esse espaço de troca e diálogo, sempre há um olhar de julgamento. Mas a verdade é que não há mulher bem resolvida porque a gente vive numa sociedade que não incentiva isso”, completa.
Isso tudo é consequência do sexo cisheteronormativo, extremamente falocêntrico. “A gente quer que tudo aconteça em torno do ‘astro’ pênis”, explica. “Esse é um problema para nós, mulheres, porque para a gente a penetração é a parte menos prazerosa de uma relação sexual. Para os homens, embora privilegiados, também é um problema porque gera uma ansiedade, uma angústia de ter que sustentar aquela ereção o tempo todo. O que vem antes da penetração é a melhor parte do sexo para nós.”
E os homens?
Na Casa Prazerela, os homens só estão presentes quando não há mulheres em terapia orgástica. Mariana conta que, durante os cursos, muitas participantes pediram para que ela conversasse com os respectivos maridos sobre o tema. Foi aí que seu marido, Cláudio Serva, que também é terapeuta, decidiu criar o Prazerele, um projeto que fala sobre a desconstrução da masculinidade tóxica e a sexualidade, tanto masculina como feminina. Os cursos acontecem no mesmo espaço — saiba mais aqui.
https://www.instagram.com/p/BsvPuUanbL_/