Psicoterapia infantil: quando e como buscar ajuda para as crianças?

Dificuldades emocionais, comportamentais ou sociais podem ser sinal de que as crianças precisam de acompanhamento profissional

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
22/11/2024 17:02 / Atualizado em 27/11/2024 13:39

Sucesso de crítica e público, “Divertida Mente 2” arrastou multidões aos cinemas para acompanhar a história de Riley, uma menininha que está entrando na adolescência e precisa aprender a lidar com sentimentos antes desconhecidos. Na realidade, reconhecer e compreender as emoções também pode ser um desafio para muitas crianças e, em alguns casos, a psicoterapia é uma opção para ajudá-las a passar por esse processo.

A professora do curso de Psicologia da Universidade Positivo (UP) – campus Londrina Denise Silveira Barbosa explica que, no caso dos pequenos, a psicoterapia é indicada “quando a criança apresenta dificuldades emocionais, comportamentais ou sociais que interferem em seu desenvolvimento saudável. Mudanças de comportamento, como agressividade ou retraimento, dificuldades na socialização, alterações no sono ou na alimentação, e questões relacionadas à ansiedade ou experiências traumáticas ajudam a identificar essa necessidade”.

Mudanças de escola ou de cidade, separação dos pais, luto e problemas na escola também podem se tornar muito menos dolorosos com a ajuda de um psicólogo.

No entanto, não é necessário um grande evento para que a criança experimente algum desconforto emocional e precise de ajuda para lidar com isso. Situações do cotidiano, como a dinâmica entre irmãos ou a quebra de expectativas parentais também são fatores comuns para que os cuidadores busquem a psicoterapia.

Crianças de qualquer idade podem fazer psicoterapia, e a abordagem muda dependendo da idade do paciente
Crianças de qualquer idade podem fazer psicoterapia, e a abordagem muda dependendo da idade do paciente - Synthetic-Exposition/istock

“De maneira geral, ela é indicada quando pode ser importante que as experiências infantis sejam significadas e experimentadas em um contexto seguro e quando os pais podem se beneficiar de orientações sobre as situações vivenciadas”, explica.

Neurodivergência também precisa de acompanhamento

Diagnósticos de neurodivergência, como transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e dificuldades de adaptação dos pequenos podem exigir acompanhamento profissional. “Essas condições podem estabelecer desafios emocionais, comportamentais ou sociais que impactam o bem-estar da criança. A terapia pode auxiliar na promoção de estratégias adaptativas para lidar com essas dificuldades, proporcionando um ambiente seguro para que a criança desenvolva habilidades de comunicação, interação social e regulação emocional.”

A partir de que idade as crianças podem fazer psicoterapia?

Crianças de qualquer idade podem fazer psicoterapia, mas, naturalmente, as abordagens são diferentes dependendo da idade do paciente. O professor do curso de Psicologia da UP Romano Zattoni afirma que “crianças podem fazer psicoterapia desde uma idade muito tenra, até mesmo no primeiro ano de vida existe o trabalho com psicólogos, caso já se identifiquem questões do desenvolvimento ou indícios de que alguma espécie de problema pode vir a se instaurar”.

Quando o trabalho é iniciado assim, tão cedo, a participação dos pais ou responsáveis é fundamental para o bom andamento do processo terapêutico, “focando na orientação parental e na criação de ambientes mais favoráveis ao desenvolvimento emocional e comportamental da criança”, lembra Denise.

Cuidados necessários

Zattoni ressalta que, ao buscar um profissional para atender os pequenos, é preciso considerar a especialidade desse psicoterapeuta e o acolhimento que ele oferece também à família. É indispensável que seja um profissional especializado na psicoterapia infantil porque esses pacientes têm necessidades específicas que exigem cuidado e conhecimento. Quanto à relação com a família, “os pais também devem se sentir à vontade para compartilhar questões e para se sentir ouvidos também por essa ou por esse profissional, que deve também acolhê-los em seu sofrimento. Isso porque, muitas vezes questões que os pais estejam vivendo terão também influência nas questões da criança”.

Além disso, não se pode esquecer de que o foco do tratamento deve estar na criança e, portanto, o ambiente oferecido a ela, tanto físico quanto emocional, deve ser acolhedor e seguro. “É importante que esse seja um espaço em que a criança se sinta à vontade para expressar suas emoções e comportamentos”, afirma Denise.

Participação da família é fundamental

“O trabalho com crianças em clínica não se constrói sem a presença da família. Os pais e responsáveis atuam como importantes agentes e consolidadores de mudança, pois são eles que vivenciam o dia a dia da criança e podem levar as questões discutidas em sessão para ambiente familiar”, aconselha a psicóloga. Ela pontua que é por meio da família que o terapeuta pode conhecer melhor a criança, visto que, muitas vezes, elas ainda não conseguem falar sobre si mesmas.

Alguns dos fatores necessários para que a família contribua com o processo terapêutico, diz, são honestidade, abertura, comunicação e engajamento.

“É bastante frequente que as fontes de sofrimento e dificuldade das crianças tenham relação com as próprias fontes de sofrimento e dificuldade dos pais. Assim, a honestidade para identificar essas relações e abertura para alterá-las, conforme sugestões do psicoterapeuta, podem ser partes importantes do processo.”

Os pais precisam, ainda, acompanhar regularmente as sessões, com disponibilidade para realizar sessões eles mesmos, e estar dispostos a refletir sobre o papel da dinâmica familiar no comportamento da criança. “Essa parceria entre pais e terapeuta é crucial para que o processo psicoterapêutico tenha resultados efetivos e duradouros”, finaliza.