‘Queria ter o meu dinheiro pra conhecer Paris’, a história de uma mulher com Síndrome de Down que enfrenta o mercado de trabalho
No Dia da Síndrome de Down, conheça a trajetória de Luly, que conquistou seu espaço no mercado de trabalho e sonha com mais inclusão
Nesta sexta-feira, dia 21 de março, é celebrado o Dia Mundial da Conscientização sobre a Síndrome de Down.
A data reforça a importância da inclusão e do respeito às pessoas com a Síndrome, além de destacar a necessidade de mais espaço, especialmente no mercado de trabalho.
Apesar dos avanços, ainda há muitos desafios para garantir que mais pessoas com a condição possam exercer suas habilidades e serem reconhecidas profissionalmente.
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Uma trajetória de inspiração
A jornada de Luíza Suaide, mais conhecida como Luly, é um exemplo de como a inclusão pode transformar ambientes e abrir caminhos para mais diversidade.
Aos 26 anos, ela compõe a equipe de marketing e atendimento ao cliente de uma hamburgueria de São Paulo, além de realizar palestras para outras empresas.

Com sua criatividade e bom humor, ela inspira colegas e clientes, mostrando que a Síndrome de Down não é uma barreira para o crescimento profissional.
“Entrei no Patties Burger com 21 anos e estou lá até hoje. Sou a funcionária mais antiga“, mencionou Luly em entrevista à Catraca Livre.
Antes disso, ela teve uma experiência como estagiária em um pet shop, mas não foi efetivada. Para Luly, o maior desafio de quem tem a Síndrome é realmente conseguir um emprego.
“Acho que tem poucas pessoas com Síndrome de Down trabalhando. Eu gostaria que todos os meus amigos pudessem ter um emprego legal como o meu. Tenho amigos [com Síndrome de Down] que não conseguiram trabalhar e fico triste, porque eles se mostram dispostos e competentes, mas ninguém quer dar o trabalho para eles. Queria ver mais gente como eu trabalhando nos lugares, porque ainda tem muita gente que fica olhando estranho pra gente“, desabafa.
Desejo de independência e crescimento
A vontade de se inserir no mercado de trabalho surgiu do desejo de enfrentar novos desafios e conquistar independência: “eu queria um desafio, ter mais atividade, aprender coisas novas e ter o meu dinheiro pra conhecer Paris, que é meu sonho.”
Quando passou na entrevista para trabalhar no atual emprego, ela conta ter ficado eufórica: “fiquei emocionada pulando na sala de casa.”
“Eu comecei no atendimento no balcão e hoje eu trabalho no time do marketing. Eu gosto muito de trabalhar no escritório porque tem pessoas muito bacanas e lá eu aprendo muitas coisas diferentes. Estou me preparando para fazer palestras e estou muito empolgada“, relembra.

Nascida em São Paulo, Luly concluiu o ensino médio e chegou a ingressar na faculdade de gastronomia, mas optou por não seguir o curso.
Além de seu trabalho principal, ela se dedica à dança há 10 anos e está prestes a conquistar seu DRT de bailarina profissional. Luly, inclusive, faz apresentações e ensaios de Ballet contemporâneo em uma ONG.
As responsabilidades no serviço
Sua rotina inclui diversas responsabilidades, como a criação de conteúdos para as redes sociais da hamburgueria, participação em reuniões e interação com consumidores e colaboradores.
Segundo ela, o maior desafio no início foi responder às reclamações dos clientes, mas com o tempo aprendeu a resolver as situações com mais confiança. “Fazer pesquisas, playlists e apresentações são as coisas que mais gosto de fazer no marketing.”
Luly reforça que a Síndrome de Down não deve ser vista como um obstáculo ou uma limitação, pois nunca a impediu de trabalhar e nem a isentou de responsabilidades, sendo que ela é cobrada como qualquer outro funcionário.

Ainda falta inclusão
Quando o assunto é inclusão, Luly opina que muita coisa ainda precisa melhorar e pontua que o preconceito segue presente na sociedade: “tem muita gente como eu querendo trabalhar em vários lugares, mas não consegue porque não tem gente pra ensinar. (…) As pessoas não tem muita paciência e isso é ruim.”
Para ter mais oportunidades de trabalho para PcD, Luly acredita que a inclusão deve começar nas escolas, preparando melhor as pessoas para o mercado.
“Tinha que começar com mais inclusão nas escolas para as pessoas aprenderem e conseguirem procurar um emprego. E também precisa de mais empatia e respeito. Ninguém sabe tudo ou é bom em tudo. Todo mundo é diferente em alguma coisa, mas olham pra nossa cara e já acham que a gente não consegue fazer várias coisas e não é verdade“, finaliza.