Refluxo pode estar associado a agravamento de casos de covid-19
Distúrbios digestivos podem ter ligação com um risco maior de morte pelo novo coronavírus, segundo observado em estudo
A covid-19 ainda continua desafiando a rotina de médicos e pesquisadores da área de saúde em relação a seu agravamento associado a outras patologias. Um estudo recente, ainda sem revisão pela comunidade científica, realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (IB-Unicamp), sugere que o refluxo pode estar associado a agravamento da doença causada pelo novo coronavírus.
Outros distúrbios digestivos como síndrome de Barrett também podem estar ligados a um risco aumentado de morte por covid-19. A pesquisa contou com o apoio da Fundação de Ampara à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
“Nossos dados sugerem que a alteração no pH do tecido esofágico poderia favorecer um aumento da carga viral nesses pacientes”, disse à Agência FAPESP Helder Nakaya, professor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) e coordenador da investigação.
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Médicos especializados no tratamento de doenças do sistema gastrointestinal afirmam que, embora o estudo ainda não tenha sido revisado, não deixa de ser uma importante contribuição para descoberta de novas comorbidades associadas ao agravamento da covid-19.
De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo, o professor da Faculdade de Medicina do ABC, em São Paulo, Eduardo Grecco, a descoberta tem total coerência, pois, segundo ele, demonstra as marcação dos receptores da angiotensina, o ACE2 – gene responsável pela entrada do novo coronavírus na célula. Ele lembra que há outras pesquisas no mundo que apontam para esse mesmo tipo de comorbidade em relação à covid-19.
“Temos registros de muitos pacientes com coronavírus que iniciam com sintomas gastrointestinais. E se a pessoa possui refluxo, ela terá um processo inflamatório ali no esófago, com isso esta pessoa terá em seu organismo uma presença maior dessa enzima (ACE2), que irá facilitar a entrada do vírus”, destaca o médico.
O gastroenterologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, Hugo Gonçalo Guedes, lembra que muitos desses estudos científicos sobre a covid-19 são frutos de constatações e levantamentos feitos pelos profissionais médicos que estão na linha de frente do combate à pandemia.
“No caso da covid-19, as hipóteses estão surgindo após análises retrospectivas de associação. Pega-se uma turma de pacientes que teve a doença, documenta todos os detalhes da evolução da patologia em prontuário e tenta associar com o desfecho.
Em pacientes que tiveram um determinado desfecho, avalia-se qual a característica ou características eles têm em comum. Com isso levanta-se uma hipótese que, obviamente, deverá ser provada estatisticamente e cientificamente. E assim nós médicos contribuímos para esses estudos que a cada dia descobrem novidades sobre essa nova doença”, explica o médico.