Risco da volta da poliomielite acende alerta em 312 cidades

Campanha de vacinação contra a pólio começa no dia 6 de agosto

05/07/2018 15:44 / Atualizado em 05/05/2020 10:58

Poliomielite não tem cura e a única forma de prevenção é tomar a vacina
Poliomielite não tem cura e a única forma de prevenção é tomar a vacina - José Cruz/Agência Brasil

O Ministério da Saúde emitiu um alerta nesta semana sobre a baixa imunização contra a paralisia infantil. De acordo com a pasta, 312 municípios brasileiros de diferentes estados não vacinaram nem metade das crianças menores de um ano.

(Veja a relação de municípios aqui)

A poliomielite, que atingiu 26 mil crianças entre 68 e 89, está erradicada no país há 30 anos, mas – com o cenário atual – há o risco de reintrodução do poliovírus. Foi o que aconteceu na Venezuela, que recentemente registrou casos da doença.

“O risco existe para todos os municípios que estão com coberturas abaixo de 95%. Temos que ter em mente que a vacinação é a única forma de prevenção da Poliomielite e de outras doenças que não circulam mais no país. Todas as crianças menores de cinco anos de idade devem ser vacinadas, conforme esquema de vacinação de rotina e na campanha nacional anual. É uma questão de responsabilidade social”, afirma a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde (PNI), Carla Domingues.

O vírus da pólio é transmitido de diversas formas: através de alimentos e água contaminados, pelo contato direto pessoa a pessoa, contato com muco, catarro ou fezes infectadas. Por isso o risco de contaminação é muito alto em países onde a doença circula.

Cerca de 1% dos infectados pelo vírus pode desenvolver a forma paralítica da doença. Estima-se que, no final da década de 1980, cerca de mil crianças perdiam os movimentos de membros superiores e inferiores diariamente.

Foi o caso da aposentada Maria Otília da Silva, de  57 anos, que teve a doença com 1 ano e meio de idade. Ela conta que, além do tratamento, precisou fazer 18  cirurgias corretivas para ter uma melhor qualidade de vida. “Voltei a andar com 7 anos, apoiando as mãos no joelho. Dos 12 anos ao 35 anos andava sem apoio nenhum, depois perdi a estabilidade do joelho e agora fui diagnosticada com a Síndrome da Pós-Pólio”, conta.

Além de dificuldades de locomoção, pólio trouxe fadiga e afetou a respiração de Maria Otília
Além de dificuldades de locomoção, pólio trouxe fadiga e afetou a respiração de Maria Otília

A Síndrome da Pós-Pólio (SPP) acontece com muitos pacientes acometidos pela poliomielite após um período de décadas de estabilidade clínica. Os principais sintomas são novo enfraquecimento muscular de membros, fadiga severa, além de dores musculares e nas juntas.

Alerta para outras doenças

Em 2017, a vacinação de crianças menores de um ano no Brasil teve seu menor índice de cobertura em 16 anos, segundo dados do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.  Além da vacina contra a pólio, houve redução na procura por vacinas contra sarampo, caxumba, rubéola, difteria, varicela, rotavírus e meningite.

De acordo com o Ministério da Saúde, a erradicação de pólio e do sarampo criou “falsa sensação” de que vacinação não é mais necessária. “Pelo contrário, com essa globalização de hoje, a gente facilmente se desloca e há uma chance muito concreta de essas doenças consideradas erradicadas aqui se disseminarem para todo o Brasil”, alerta a infectologista Karen Morejon, da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Apesar do certificado de sarampo recebido em 2016, o país registra 463 casos neste ano, com um surto no Amazonas e em Roraima. Nesses estados, a vacinação foi adiantada e aconteceu em abril deste ano.

Segundo a infectologista, há um desconhecimento sobre a importância das vacinas e, por isso, é preciso desmistificar a ideia de que ela traz malefícios. “Os riscos de reações adversas são muito baixos perto dos benefícios e da proteção que elas trazem”, afirma.

Esquema vacinal contra sarampo

O esquema vacinal contra o sarampo para crianças é de uma dose aos 12 meses (tríplice viral) e outra aos 15 meses (a tetra viral) de idade.

Para adolescentes e adultos até 49 anos:

Até os 29 anos – duas doses, podendo ser da tríplice ou tetra viral

Dos 30 aos 49 anos – dose única, podendo ser da tríplice ou tetra viral

Quem já tomou duas doses durante a vida, da tríplice ou da tetra, não precisa mais receber a vacina.

Campanha de vacinação contra a pólio

Em alerta, o Ministério da Saúde informou que a campanha de vacinação contra a paralisia infantil no Brasil deve começar no dia 6 e ir até o dia 31 de agosto. A meta é alcançar e manter a cobertura maior ou igual a 95%. Todas as crianças menores de 5 anos devem ser vacinadas.

Para os estados que estão abaixo da meta de vacinação, o Ministério da Saúde  tem orientado os gestores locais que organizem suas redes, inclusive com a possibilidade de readequação de horários mais compatíveis com a rotina da população brasileira.

Outra orientação é o reforço das parcerias com as creches e escolas, ambientes que potencializam a mobilização sobre a vacina por envolver também o núcleo familiar. Outro alerta constante da pasta é para que estados e municípios mantenham os sistemas de informação devidamente atualizados.