‘Ser doador é parte da minha identidade’: conheça doadores regulares que salvam vidas todos os meses
William e Edimarcia fazem parte da pequena parcela da população que doa sangue com regularidade e ajuda a manter os bancos de sangue abastecidos
Em uma cadeira simples, deitado por menos de 30 minutos, alguém pode salvar até quatro vidas. Esse é o gesto silencioso, constante e essencial dos doadores regulares de sangue no Brasil – um grupo ainda pequeno, mas fundamental para manter os estoques dos hemocentros funcionando. Segundo o Ministério da Saúde, apenas 1,6% da população brasileira doa sangue regularmente. É um índice que atende à meta mínima da Organização Mundial da Saúde (OMS), mas ainda insuficiente diante das constantes demandas do sistema de saúde.
Entre essas pessoas que fazem da doação um hábito está o empresário William Hertz, de 39 anos. Ele começou a doar no dia do seu aniversário de 18. “Foi uma verdadeira realização de um sonho que tinha desde pequeno”, lembra, em entrevista à Catraca Livre, para o especial de Junho Vermelho, campanha em conscientização da doação de sangue. Mais de duas décadas depois, doar sangue a cada três meses virou parte da sua rotina.
“Ser doador é parte da minha identidade. É muito mais do que sentar na maca e tirar 450 mL de sangue. É cuidar da minha saúde para servir de apoio para quem precisar, mesmo que eu nunca saiba quem é.”

Um compromisso pessoal com a vida
A neuropsicóloga Edimarcia Virissimo, de 30 anos, também se dedica à causa. Ela começou a doar em 2020, em Nova Prata do Iguaçu (PR), e não parou mais. “Acho que vi alguma propaganda. Como não passei mal, continuei indo”, conta, em entrevista à Catraca Livre. Sua mãe já era doadora, mas tinha dificuldades após as coletas. Edimarcia, que não sente nenhum mal-estar, viu nisso um chamado.
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“No dia da doação vejo como um dia de cuidado e ajuda. É uma sensação boa sair de lá e saber que contribui para a saúde de alguém.”
Ela organiza suas doações a cada três meses, como permitido para mulheres, e não espera campanhas municipais: “Agendo sozinha e vou. A consciência precisa falar mais alto.”

Histórias que transformam
William acumula memórias. Uma das mais marcantes foi em junho de 2023, quando foi chamado para uma doação especial de granulócitos – componente raro – destinada a uma criança que havia passado por transplante de medula. “Foi a mais longa que fiz, com uma agulha em cada braço. Mas sem dúvidas a que mais marcou a minha vida.” O processo envolveu injeções, medicação e uma preparação rigorosa em casa. “Nunca soube quem é essa criança, mas fazemos parte um da vida do outro.”
Já Edimarcia lembra de quando tentou levar dois conhecidos para doar, mas ambos passaram mal. “Me senti responsável. Isso me motivou ainda mais a continuar, já que nunca passei mal.”
Como ser um doador regular
Apesar do impacto social gigantesco, muitos brasileiros ainda não conhecem ou têm receio do processo. Para doar sangue, é necessário:
- Ter entre 16 e 69 anos (menores com autorização dos responsáveis);
- Pesar mais de 50 kg;
- Estar em boas condições de saúde, descansado e alimentado;
- Apresentar documento oficial com foto;
- Respeitar o intervalo mínimo entre doações: 90 dias para mulheres e 60 dias para homens.
A coleta dura em média de 5 a 15 minutos, e todo o processo pode levar cerca de uma hora, incluindo cadastro, triagem e lanche pós-doação. O volume retirado (450 mL) não faz falta ao doador e rapidamente é reposto pelo corpo.
O sangue doado é separado em diferentes componentes – como hemácias, plasma e plaquetas – que podem beneficiar mais de um paciente. Os hemocentros estão espalhados por todas as capitais e centenas de municípios, e alguns permitem agendamento online ou por aplicativos como o Hemovida.
Mais do que inspiração: ação
Mesmo com o exemplo, William não tem certeza se as pessoas se inspiram nele. “O que realmente importa para mim é quando amigos e familiares fazem suas doações, independente do motivo. O que importa é a ação.” Ele utiliza as redes sociais para mostrar suas experiências e encorajar quem ainda tem medo. “A agulha é grande e intimida, mas ela passa e o sangue fica.”
Edimarcia também tenta desmistificar. Para quem acha bonito, mas nunca doou, ela é direta: “Digo que não dói, que é rápido. Se a pessoa for funcionária pública, até menciono que ela ganha o dia de folga.”
Ambos acreditam que a mudança de comportamento depende mais da conscientização do que de campanhas pontuais. “Doar sangue regularmente é reflexo de entender a sua real importância e fazer disso um hábito”, afirma William. “O fundamental é saber que alguns minutos da sua vida podem salvar outras.”

Curiosidades que muita gente não sabe
- O Brasil realiza mais de 3 milhões de doações por ano, mas a maioria ainda é esporádica.
- O sangue não pode ser fabricado: ele só vem de doações humanas.
- Componentes como plaquetas duram apenas 5 dias, por isso a regularidade é tão importante.
- Quem doa sangue tem direito a atestado médico, prioridade em concursos públicos (em alguns estados) e, em determinadas regiões, até meia-entrada em eventos culturais.