Sintomas de abstinência de antidepressivos e como evitá-los
Quando a medicação é retirada de forma inadequada, o sistema nervoso central precisa se reajustar à ausência do medicamento. É aí que ocorrem os sintomas
Um dos riscos de tomar certos medicamentos é interrompê-los. Para quem deixa de tomar antidepressivos, o risco de apresentar um ou mais sintomas de descontinuação, também chamados de sintomas de abstinência é de 15%.
Esse percentual equivale a uma em cada seis pessoas, segundo revisão sistemática e meta-análise publicada no The Lancet Psychiatry.
A análise também descobriu que os sintomas de descontinuação que os pacientes descrevem como graves aproximadamente 3% (um em 35) dos pacientes que pararam com antidepressivos.
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Como a pesquisa realizou a análise?
O estudo sobre a descontinuação do tratamento com antidepressivos incluiu dados de mais de 20.000 pacientes coletados de 79 ensaios clínicos randomizados e estudos observacionais.
Cerca de 16.532 pararam de tomar antidepressivos, 4.470 receberam placebo, a idade média era de 45 anos e 72% eram mulheres.
O estudo procurou distinguir entre sintomas causados diretamente pela interrupção da medicação e outros sintomas “inespecíficos” que podem estar associados às expectativas dos pacientes ou profissionais.
Estudos anteriores estimaram que mais da metade dos pacientes apresentam sintomas de descontinuação ao interromper os antidepressivos e que metade dos sintomas são graves.
No entanto, muitas destas estimativas baseiam-se em estudos observacionais que não podem determinar de forma segura causa e efeito.
O objetivo deste estudo foi revisar todas as evidências disponíveis para estabelecer a provável incidência de sintomas de descontinuação causados diretamente pela interrupção do uso de antidepressivos.
Quais os sintomas de abstinência de antidepressivos?
- tontura
- dor de cabeça
- náusea
- insônia
- irritabilidade
No geral, a análise constatou que um terço (31%) das pessoas que pararam de tomar um antidepressivo apresentaram pelo menos um dos sintomas acima.
Sintomas graves ocorreram em aproximadamente 3% (um em 35).
A interrupção da imipramina (Tofranil), paroxetina (Seroxat) e (des)venlafaxina (Pristiq) foi associada a um risco aumentado de sintomas graves em comparação com outros antidepressivos.
Por que ocorre abstinência quando se deixa de tomar antidepressivo?
A abstinência ao parar de tomar antidepressivos ocorre porque o corpo e o cérebro se adaptam à presença da medicação ao longo do tempo.
Quando a medicação é retirada repentinamente ou de forma inadequada, o sistema nervoso central precisa se reajustar à ausência do medicamento, o que pode resultar em uma série de sintomas desagradáveis.
Aqui estão algumas razões específicas para isso acontecer:
1. Adaptação neuroquímica
Antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) e os inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina (IRSN), alteram os níveis de neurotransmissores como a serotonina e a noradrenalina no cérebro.
Com o tempo, o cérebro se ajusta a esses níveis elevados. Quando o medicamento é retirado, pode haver uma queda repentina nesses neurotransmissores, causando sintomas de abstinência.
2. Dependência fisiológica
Embora a dependência fisiológica não seja o mesmo que vício, o corpo pode se tornar dependente da presença do antidepressivo para manter o equilíbrio neuroquímico.
Sem a medicação, o corpo precisa reestabelecer seu próprio equilíbrio, o que pode levar tempo e resultar em sintomas de abstinência.
3. Alterações nos receptores
O uso prolongado de antidepressivos pode levar à regulação para baixo (downregulation) dos receptores de neurotransmissores.
Quando o medicamento é descontinuado, pode haver um período em que esses receptores não estão funcionando de maneira otimizada, contribuindo para os sintomas de abstinência.
Como minimizar o sintomas de abstinência dos antidepressivos?
Para minimizar os sintomas de abstinência ao parar com antidepressivos, é essencial reduzir a dose da medicação de forma lenta e controlada, sempre sob a orientação de um médico.
Isso porque, ao diminuir a dose gradualmente, o corpo tem mais tempo para se ajustar à menor quantidade de medicamento, o que pode ajudar a evitar a queda repentina dos níveis de neurotransmissores, como a serotonina.
Além disso, trabalhar em estreita colaboração com um profissional de saúde permite que haja um monitoramento de perto do processo.
O médico pode ajustar o ritmo de redução da dose com base na resposta individual do paciente.
Simultaneamente, o acompanhamento médico regular pode identificar rapidamente qualquer retorno dos sintomas originais de depressão ou ansiedade, que podem ser confundidos com os efeitos de abstinência.