Sofre de doença celíaca? Fique atento, pois você pode ter alterações neurológicas
A condição desencadeada pelo consumo de glúten pode ter um impacto muito maior do que muitas pessoas imaginam
Poucas pessoas sabem, mas além dos sintomas clássicos, como dor abdominal e diarreia — muitos pacientes com doença celíaca podem também sofrer com alterações neurológicas.
Essas manifestações neurológicas incluem dores de cabeça, ataxia (perda de coordenação), neuropatia periférica (danos nos nervos periféricos) e até dificuldades cognitivas.
O que é a doença celíaca?
A doença celíaca é uma condição autoimune e genética desencadeada pela ingestão de glúten (proteína presente em grãos como trigo, aveia, centeio e cevada).
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Ela agride as células de defesa do organismo do paciente, causando um processo inflamatório que afeta principalmente o intestino delgado, levando à atrofia das vilosidades no órgão e diminuindo a capacidade de absorção dos nutrientes.
A forma clássica da doença, mais conhecida inclusive entre os próprios celíacos diagnosticados, conta principalmente com sintomas intestinais, como: diarreia, perda de peso, excesso de gases e distensão abdominal.
Muitas vezes, quando os sintomas não são óbvios, existem dificuldades para a identificação por meio de outras manifestações, como as alterações neurológicas.
Apesar de não ser uma doença rara, essa é uma condição ainda incompreendida, principalmente no Brasil: estima-se que 1% da população mundial tem a doença celíaca.
Porém, no país, ainda não existe uma estatística oficial que defina o número de celíacos, segundo a Federação Nacional das Associações de Celíacos do Brasil (Fenacelbra), principalmente devido à dificuldade que muitos pacientes encontram para obter o diagnóstico adequado.
Não há cura e, até o momento, o único tratamento possível é a retirada total de alimentos que contenham glúten.
A doença celíaca e as alterações neurológicas
Na forma não clássica da doença celíaca, os sintomas podem não ser tão claros ou evidentes para o paciente e para o médico, o que dificulta ainda mais o diagnóstico.
“A doença celíaca é considerada multissistêmica, portanto pode acometer inúmeras regiões do organismo, incluindo o cérebro”, explica o Dr. Marcelo Valadares, médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp e do Hospital Albert Einstein.
“Entre as principais formas de manifestações neurológicas da condição estão a cefaleia, a neuropatia periférica e a ataxia”, explica o especialista.
Segundo o Dr. Marcelo Valadares, acreditou-se por muito tempo que as manifestações neurológicas de celíacos estavam relacionadas com a perda de vitaminas ocasionada pelos danos do glúten ao intestino delgado.
“Em 1966, entretanto, uma pesquisa realizou a biópsia de tecidos cerebrais e nervos periféricos, e observou-se que havia inflamação. Essa inflamação teria origem na resposta imunológica adequada, atacando as próprias estruturas dos sistemas nervoso central e periférico”, explica.
Entre as principais formas de manifestação neurológica observada em celíacos, está a ataxia. “As ataxias são sintomas de incoordenação motoras no cerebelo, que é responsável por diversas funções. Pacientes com doença celíaca frequentemente podem ter um processo inflamatório no cerebelo, e isso pode levar à incoordenação da fala e dos movimentos dos braços ou pernas”, esclarece o neurocirurgião.
Além disto, outra reação comum é a neuropatia periférica, que acomete os nervos das mãos e dos pés.
Ela pode causar principalmente alterações de sensibilidade, como percepção do toque, de temperatura, de vibração e, até mesmo, de alteração de força. Outra doença também pode causar neuropatia periférica é o diabetes.
O médico explica, ainda, que a dor de cabeça relacionada à doença celíaca está relacionada a citocinas inflamatórias.
“O contato com o glúten desencadeia uma resposta sistêmica com produção de irradiadores inflamatórios que causariam, por exemplo, os sintomas das dores de cabeça. É por isso que um celíaco diagnosticado que reduz o glúten e tem enxaqueca, por exemplo, diminui a frequência das dores com a retirada da proteína da alimentação”, finaliza o médico.