Tenho fibromialgia e sou feminista. Eu que lute

Tenho Fibromialgia e Sou Feminista Eu que lute

Antes de tudo, eu sinto dor. Antes de lutar por igualdade, eu sinto dor. Ter fibromialgia é isso. Ter um “impasse” a mais para demonstrar força.

Antes de falar sobre o direito de fala, em ambientes de trabalho extremamente machistas e misóginos, tenho que trazer a reflexão de quem tem uma doença pouco discutida e divulgada, a fibromialgia.

Fibromialgia caracteriza-se por dor crônica que migra por vários pontos do corpo e se manifesta especialmente nos tendões e nas articulações. Trata-se de uma patologia relacionada com o funcionamento do sistema nervoso central e o mecanismo de supressão da dor que atinge, em 90% dos casos, mulheres. A dor da fibromialgia pode ser intensa e incapacitante, mas não provoca inflamações nem deformidades físicas. O quadro é ainda pior quando o doente sofre com a descrença e desconfiança de quem está ao seu redor, ou que duvidam da legitimidade da condição.

Dor generalizada e redicivante;
Fadiga;
Falta de disposição e energia;
Alterações do sono que é pouco reparador;
Síndrome do cólon irritável;
Sensibilidade durante a micção;
Cefaleia;
Distúrbios emocionais e psicológicos.

É uma doença silenciosa e invisível, então como as pessoas vão entender, que essa irritabilidade que você está não é proveniente do trabalho?! (Ah e nem da TPM claro! Porque quando se é mulher no mercado de trabalho e se demonstra um pouco de firmeza no que fala, se levanta um pouco a voz e acham que você esta irritada, logo falam “deve estar na TPM”).

Por inúmeras vezes fui silenciada no ambiente de trabalho, por chefe que sequer dava oportunidade de me deixar falar e quando eu falava, não prestava atenção ou invalidava o que eu estava dizendo. E quando algum homem dizia algo parecido ele vibrava. Quando eu tentava contra argumentar, era vista como alguém com postura de irritabilidade. E quer saber? Isso pra ajudar só piorava as minhas dores de fibro. E o meu desgosto e descontentamento então, nem se fala.

Você se sente, lutando e lutando sozinha. Indo trabalhar num ambiente nocivo. Mas Se um comportamento deixa alguém desconfortável, ele precisa ser repensado. Eu tentei conversar com o chefe e de nada adiantou, de fato, só piorou. E ainda há quem diga que o feminismo é desnecessário. Meu estomago chega a embrulhar por dentro só de lembrar…

As mulheres recebem menos ocupando os mesmos cargos que os homens, têm menores oportunidades no mercado de trabalho e ainda precisam lutar diariamente contra todos os tipos de abuso. Além de enfrentar os desafios naturais de nascer mulher num país onde a cultura favorece o homem em todas as formas, ao entrar no mercado de trabalho, ela deve lidar com a dupla jornada, salários menores e ainda tende a ser vista com preconceito ao conquistar um cargo de liderança por engravidar.

E você acha que para por aí, não, porque tenho fibromialgia, isso significa que sinto dores todos os dias. Então, além das adversidades de ser mulher tenho que driblar o fato de acordar com fadiga (desanimada/depressiva, com falta de disposição e energia), estar em uma reunião tensa e decisiva e estar com dor intensa, é extremamente desafiador e completamente exaustivo, resumindo, é um desafio diário. Para ter uma ideia, a síndrome já chegou a ser motivo de cancelamento do show da Lady Gaga no Rock in Rio. Parece piegas, mas só quem tem essa dor crônica sabe como é. E dizer pro chefe e ter mais um motivo pra ser julgada? Não, mais um fato pra sofrer calada. Afinal, vivemos tendo que provar nossa competência.

E se não bastasse, ainda temos que lidar com situações como, ser interrompidas quando vamos falar ou explicar algo e nossa condição. Ninguém gosta de ser interrompido, mas essa situação acontece com tanta frequência com mulheres, especificamente no ambiente corporativo, que ganhou um termo próprio: manterrupting.  Além disso, acontece também quando homens roubam ideias de mulheres e não lhe atribuem crédito. Ou seja, dentro do ambiente de trabalho, isso ocorre quando um homem apresenta ideias de sua equipe como se fosse de sua autoria e aceita os créditos por elas, mesmo quando não se envolve na sua execução ou concepção

E qualquer um que não viva em Saturno sabe da diferença salarial entre homens e mulheres, mas isso já seria pauta pra um próximo artigo.

Lívia Soares

Em parceria com LiviajanteOficial

Blog de viagem, dicas, positividade, histórias e muito mais. Por duas melhores amigas. Partiu para: viagens, lugares, conhecer pessoas, vivenciar experiências, positividade...

Este conteúdo - assim como as respectivas imagens, vídeos e áudios - é de responsabilidade do usuário LiviajanteOficial

A Catraca Livre disponibiliza espaço no site para que qualquer interessado possa contribuir com cidades mais acolhedoras, educadas e criativas, sempre respeitando a diversidade de opiniões.

As informações acima são de responsabilidade do autor e estão sujeitas a alterações sem aviso prévio.