Um terço dos médicos não sabe se orientação sexual é doença

Pesquisa constata desinformação dos profissionais sobre homossexualidade e aponta que comportamento pode prejudicar o atendimento médico

05/11/2018 11:47 / Atualizado em 05/05/2020 12:06

Estudo aponta falta de treinamento e práticas consideradas preconceituosas
Estudo aponta falta de treinamento e práticas consideradas preconceituosas - Bandeira LGBT

Um estudo realizado por três pesquisadores da Universidade de Brasília (UNB) constatou o desconhecimento de médicos heterossexuais quanto à homossexualidade. De acordo com o estudo, cerca de um terço dos profissionais não sabe se orientação sexual é doença.

Renata Corrêa-Ribeiro, Fabio Iglesias e Einstein Francisco Camargo questionaram 224 profissionais do Distrito Federal, seguindo um roteiro criado por estudiosos norte-americanos. Eles constataram falta de treinamento de saúde, além de práticas institucionalizadas consideradas preconceituosas.

Os participantes acertaram, em média, apenas 11,8 dos itens (65,5% das 18 respostas dadas). Alguns deles tiveram somente dois acertos.

O número de erros foi maior entre católicos e evangélicos, que indicaram 11,43 alternativas corretas, em média. A pontuação dos médicos que informaram ter outras religiões ou nenhuma foi de 12,42 acertos.

Os participantes tinham, em média, 42 anos de idade, e eram majoritariamente mulheres (149 profissionais – 66,5%). À época da aplicação do questionário, a maioria (208 pessoas – 92,9%) exercia a atividade após concluir a residência médica.

Segundo os autores do estudo, intitulado “O que médicos sabem sobre a homossexualidade”, a desinformação por parte dos médicos aumenta o risco de adoecimento mental, suicídio, câncer e de contração de doenças sexualmente transmissíveis entre o grupo LGBTI ((lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e intersexuais).

Desinformação médica afugenta pacientes LGBTI
Desinformação médica afugenta pacientes LGBTI - BrianAJackson/istock

O artigo também aponta que alguns pacientes homossexuais só procuram o médico em situações de emergência, por receio de enfrentarem discursos homofóbicos, humilhações, ridicularizações e quebra de confidencialidade. Isso pode levá-los a buscar informações fora da rede médica, por  meio de farmácias, de revistas, de amigos e da internet.

Homossexualidade vista como doença

De acordo com os pesquisadores, a questão que apresentou o maior percentual de erro foi a que pedia para classificar a informação de que quase todas as culturas têm mostrado ampla intolerância contra os homossexuais, considerando como “doentes” ou “pecadores”. Nesse caso, 154 médicos (68,8%) erraram a pergunta e julgaram o item verdadeiro, 37 médicos (16,5%) indicaram-no como falso, acertando a questão, e 33 (14,7%) não souberam responder.

Um total de 34,4% dos entrevistados não soube responder se a homossexualidade era doença, 4,9% responderam que sim. O item 10, que afirmava que uma pessoa se torna homossexual por conta própria, foi considerado verdadeiro por 32,1% dos médicos, e 13,8% não souberam responder. “Essa resposta revelou que quase metade dos médicos desconhecia os vários aspectos biopsicossociais relacionados à homossexualidade e a atribuía simplesmente a uma escolha feita pelo indivíduo”, escreveu o grupo de cientistas.

Com informações de Agência Brasil