Uso de analgésicos comuns na gravidez pode aumentar risco de TDAH em crianças

Pesquisadores, no entanto, alertam que o resultado do estudo está longe de ser conclusivo e mais investigações são necessárias

Por Silvia Melo em parceria com João Gabriel Braga (Médico - CRMGO 28223)
19/02/2025 17:01 / Atualizado em 20/02/2025 20:06

O paracetamol, também conhecido como acetaminofeno, é um dos analgésicos mais utilizados no mundo, especialmente por gestantes devido à sua aparente segurança. No entanto, um novo estudo sugere que o uso do medicamento durante a gravidez pode estar associado a um risco maior de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ( TDAH ) em crianças.

Evidências do estudo

A pesquisa, realizada pela Universidade de Washington, nos EUA, analisou amostras de sangue de 307 mulheres negras residentes no Tennessee durante o segundo trimestre da gestação. Nenhuma delas fazia uso de medicamentos para doenças crônicas ou apresentava complicações conhecidas na gravidez. Os cientistas então acompanharam os filhos dessas mulheres até a idade de 8 a 10 anos.

Os resultados mostraram que crianças cujas mães apresentavam marcadores de paracetamol no sangue tinham três vezes mais chances de serem diagnosticadas com TDAH em comparação com aquelas cujas mães não tinham vestígios do medicamento no organismo.

Uso de analgésicos comuns na gravidez pode aumentar risco de TDAH em crianças
Uso de analgésicos comuns na gravidez pode aumentar risco de TDAH em crianças - SVPhilon/istock

Paracetamol e o desenvolvimento fetal

A hipótese de que o paracetamol pode influenciar o neurodesenvolvimento fetal não é nova, mas os estudos anteriores apresentavam resultados conflitantes. Em 2019, uma pesquisa com mais de 4.700 crianças indicou um aumento de 20% no risco de TDAH associado ao uso do analgésico na gravidez. No entanto, uma análise mais ampla, realizada em 2023 com 2,5 milhões de crianças, não encontrou essa relação ao comparar irmãos expostos e não expostos ao medicamento antes do nascimento.

Um dos problemas dessas pesquisas é que elas dependem de relatos das próprias mães sobre o uso de paracetamol, o que pode levar a erros, já que muitas pessoas utilizam a substância sem perceber, por ser um componente comum em medicamentos para gripes e resfriados.

Para contornar essa limitação, o novo estudo usou análises laboratoriais diretas, o que fortalece a hipótese de que há uma relação entre o paracetamol e o risco aumentado de TDAH.

Paracetamol ou fatores externos?

Apesar dos resultados, os cientistas alertam que o estudo não pode provar com certeza que o paracetamol é a causa direta do TDAH. Uma possibilidade levantada por especialistas é que o fator real para o aumento do risco seja a condição que levou a mãe a tomar o medicamento, como dores, infecções ou febre – todas conhecidas por impactar o desenvolvimento fetal.

Por outro lado, análises adicionais revelaram alterações metabólicas e no sistema imunológico das placentas das mães que tomaram paracetamol. Essas alterações foram semelhantes às observadas em experimentos com animais prenhes, nos quais o uso do medicamento sem infecções ou doenças preexistentes resultou em efeitos negativos no neurodesenvolvimento dos filhotes.

Segundo Brennan Baker, um dos responsáveis pelo estudo, essa descoberta fortalece a possibilidade de que o paracetamol tenha um efeito direto no cérebro fetal. Ele destaca que a ativação imunológica elevada durante a gravidez já foi associada a um maior risco de transtornos neurológicos na infância.

O que fazer?

Embora o estudo não seja conclusivo, ele levanta um alerta importante sobre o uso indiscriminado de paracetamol na gravidez. Especialistas recomendam que gestantes consultem um médico antes de usar qualquer medicamento, mesmo aqueles considerados seguros.

Enquanto novas pesquisas são conduzidas para esclarecer essa possível relação, o ideal é buscar alternativas seguras para o alívio de dores e febre durante a gestação, sempre sob orientação médica.