Itaú Cultural promove debate sobre a prática do “blackface” nesta terça-feira

Após cancelamento da peça, Itaú Cultural e Cia. Os Fofos Encenam convidam público a discutir a questão do racismo no teatro

Nesta terça-feira, o Itaú Cultural realizará o debate “Arte e a Sociedade: a Representação do Negro”, que discutirá a polêmica apresentação do espetáculo “A Mulher do Trem”, da Cia. Os Fofos Encenam, cancelada após a forte mobilização nas redes sociais contra o uso da prática “blackface”. O encontro tem início às 20h e a distribuição dos ingressos acontecerá com 30 minutos de antecedência.

Entenda o Black Face

O blackface surgiu por volta de 1830, quando homens brancos se pintavam de preto – de forma caricata – e se apresentavam para a aristocracia branca com o objetivo de satirizar a população negra.

Anos depois, a prática ganhou popularidade nos cinemas e televisão, como ferramenta de entretenimento cultural. Contudo, como escreveu Djamila Ribeiro, do blog Escritório Feminista, o blackface “serve tanto como estereótipo racista quanto como forma de exclusão, porque se no primeiro caso ridiculariza, no segundo nega papéis a artistas negros”.

Blackface surgiu nos anos 1830, na época dos menestréis, quando atores brancos se pintavam de preto em prática racista

Os convidados 

O debate contará com mediação do DJ e ator Eugenio Lima, membro fundador da Frente 3 de Fevereiro e do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, participam da mesa: Stephanie Ribeiro, estudante de arquitetura, blogueira e ativista; Fernando Neves, professor, pesquisador, ator e um dos diretores da companhia Os Fofos Encenam; Aimar Labaki, dramaturgo, roteirista, diretor, tradutor e ensaísta; Mario Bolognese, professor de teatro da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (Unesp) e pesquisador do circo brasileiro; Salloma Salomão, educador, músico e pesquisador visitante do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, além de coordenador do projeto Arca de Ébano; Roberta Estrela Dalva, atriz do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos; e Dennis Oliveira, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do coletivo Quilombação.

“Nós, da Cia. Os Fofos Encenam, gostaríamos de dizer que estamos ouvindo, respeitando e refletindo sobre todas as opiniões e questionamentos feitos sobre o nosso trabalho. Ficou claro pra nós que black face é racismo. Gostaríamos de, a partir desse fato, dialogar sobre os caminhos possíveis para as manifestações culturais brasileiras que utilizam também o recurso do rosto pintado de preto, recurso este que não se origina, como o black face, no movimento americano, racista nasua origem, e sim nos artistas populares das feiras europeias que desde o século XVI exploravam as relações sociais nas histórias que representavam.

Entendemos a complexidade da questão e que talvez essa diferenciação não seja possível. Mas essa é uma questão que não se restringe ao trabalho dos Fofos. Sendo assim, acreditamos que o debate seja uma escolha política tão importante quanto a apresentação do espetáculo.

Após a repercussão da nossa carta de reação às acusações de racismo, decidimos em comum acordo com o Instituto Itaú Cultural, cancelarmos momentaneamente a apresentação do espetáculo A Mulher do Trem para que possamos juntos, discutir sobre as questões levantadas. Seguimos acreditando no diálogo para construção de uma sociedade mais justa e esperamos que o debate seja benéfico para todos”.