Rússia anuncia que sua vacina contra o câncer já está pronta para uso humano

Imunizante de RNA mensageiro teria reduzido tumores em testes pré-clínicos, mas ausência de dados publicados levanta dúvidas sobre eficácia e segurança

08/09/2025 18:59

A Rússia afirmou que sua vacina contra o câncer colorretal está “pronta para uso” após resultados positivos em testes pré-clínicos. A informação foi divulgada por Veronika Skvortsova, chefe da Agência Federal de Medicina e Biologia (FMBA), durante o Fórum Econômico do Leste. O imunizante foi desenvolvido pelo Centro Gamaleya em parceria com institutos de pesquisa em Moscou e teria reduzido o tamanho de tumores entre 60% e 80%, além de aumentar taxas de sobrevivência.

Tecnologia semelhante à da covid-19

A dose utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm), a mesma que revolucionou o combate à Covid-19. Diferente das vacinas preventivas, trata-se de uma vacina terapêutica, criada para estimular o sistema imunológico a reconhecer e atacar células tumorais já existentes. Inicialmente, o alvo é o câncer de intestino, mas autoridades russas mencionam estudos também para glioblastoma (câncer cerebral) e melanoma (câncer de pele).

A Rússia anunciou que sua vacina anticâncer de mRNA está pronta para uso
A Rússia anunciou que sua vacina anticâncer de mRNA está pronta para uso - iStock/Kuzmik_A

Por que o anúncio gera desconfiança

Apesar da empolgação do governo russo, especialistas destacam que os dados não foram publicados em revistas científicas revisadas por pares, etapa essencial para validar a confiabilidade dos resultados. Também não está claro se a liberação anunciada seria apenas para o início dos ensaios clínicos em humanos ou se já haveria planos de aplicação direta em pacientes, algo que foge do protocolo internacional.

Segundo Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações, todo novo imunizante deve passar por fases rigorosas de testes clínicos em humanos (fases 1, 2 e 3) antes de chegar ao público. Sem esse processo, não há garantias de segurança e eficácia.

Panorama global das vacinas contra o câncer

Enquanto a Rússia enfrenta críticas por falta de transparência, outros projetos avançam com mais clareza. A Moderna, em parceria com a MSD, já está na fase 3 de testes de uma vacina contra o melanoma. Publicações no The Lancet mostraram redução de até 62% no risco de metástase ou morte. Há também estudos para câncer de pulmão e bexiga em estágio avançado.

No Brasil, a Fiocruz retomou em 2024 um projeto de vacina com RNAm contra o câncer de mama, ainda em fase inicial. Especialistas acreditam que as primeiras vacinas terapêuticas contra tumores devem receber aprovação mundial até 2030.