Casal viaja pelo Brasil reformando abrigos para crianças
A meta de Ariadne e Valter é percorrer 12 estados e concluir 12 intervenções até julho de 2023
Um motorhome, um casal de especialistas, um cachorro e o desejo mudar a realidade de crianças e adolescentes brasileiros. Essa é a premissa do projeto Arquitetando o Mundo, criado pela psicóloga Ariadne Pereira e pelo arquiteto Valter Strunk.
Com a ajuda de um motorhome que eles mesmos construíram, o casal tem percorrido o Brasil reformando escolas, abrigos e associações comunitárias, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de meninas e meninos em situação de vulnerabilidade.
A meta de Ariadne e Valter é percorrer 12 estados e concluir 12 intervenções até julho de 2023.
O projeto surgiu há cinco anos, no primeiro encontro do casal. Ariadne conta que, na época, trabalhava em um equipamento da Assistência Social da Prefeitura de São Paulo, atendendo menores vítimas de violência que viviam em abrigos. “Quando descrevi como eram esses abrigos, o Valter me fez a pergunta que nos norteia até hoje: essas crianças se sentem em casa?”.
Um mês depois, eles fizeram primeira intervenção, a reforma de uma sala de televisão de um abrigo da zona norte da capital. “Para essa ação, contamos com a ajuda de amigos que se voluntariaram”, lembra Ariadne.
Viajar de motorhome
O casal conta que foram três anos de estudos, preparação e construção do motorhome para usar na empreitada pelo Brasil.
“Nesse período, realizamos mais quatro reformas na cidade de São Paulo, antes de tornar o projeto itinerante, como é hoje. Foi fundamental para entender melhor nosso público, afinar a metodologia e compreender como poderíamos impactar mais pessoas, em outras regiões do país”.
Boa parte desse tempo foi dedicada à construção do motorhome – elemento fundamental para a viabilização do projeto. O veículo é a casa de Ariadne, Valter e da Xurumela, cadelinha vira-lata que acompanha o casal na missão. “Nós vendemos tudo o que tínhamos, inclusive nosso apartamento. Compramos uma van e a transformamos na nossa casa. Foram cerca de 11 meses trabalhando diariamente na construção do motorhome. Fizemos tudo sozinhos e de forma autodidata, um grande desafio”, revela a psicóloga.
Arquitetura afetiva
O casal pegou a estrada em julho do ano passado. A primeira parada foi em São Miguel Paulista, no extremo leste da capital paulista, onde reformaram o espaço de um Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes. De lá para cá, passaram por oito estados: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Piauí, Distrito Federal, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, onde estão atualmente.
Ao todo, eles já percorreram 7.580 quilômetros e transformaram dois abrigos, uma escola e três associações comunitárias. “O desafio é enorme, uma vez que temos um curto espaço de tempo nos vincular à comunidade e edificar uma reforma. Com o tempo, fomos aprendendo a lidar melhor com os imprevistos e desenvolver uma forma de trabalho que se adapta rapidamente às necessidades das pessoas e do local onde estamos realizando a ação”, explica a psicóloga.
Ariadne conta que a promoção de uma arquitetura colaborativa é um dos pilares do projeto e, em cada cidade que passam, estabelecem parcerias locais com o intuito de envolver a comunidade em uma causa social. As ações sociais duram em média seis semanas e incluem encontros com a comunidade, oficinas criativas com crianças e adolescentes, relatório das potencialidades locais, projeto arquitetônico com planta baixa e 3D e mão na massa.
Para conseguir viabilizar as intervenções, o casal utilizou recurso próprio, contou com o apoio de empresas e da própria comunidade das regiões por onde passaram. “Investimos nosso dinheiro nas três primeiras reformas e tivemos apoio de duas empresas para as outras três. Além disso, recebemos apoio pontual de pequenos empresários e pessoas interessadas em ajudar”. Ela revela, no entanto, que percorrer tantos lugares sem a garantia de que as intervenções serão realizadas é desgastante e, por isso, o projeto pode ser encerrado antes da hora.
“Lançamos recentemente um financiamento coletivo para arrecadar o valor total das últimas seis ações sociais da expedição”. A campanha foi finalizada no começo de setembro e arrecadou pouco mais de R$ 24 mil.