Chiloé, o Chile isolado que você precisa conhecer
No sul desse país estreito e bem perto da Patagônia, existe um Chile que vai além das areias do deserto mais árido do planeta e das bem estruturadas estações de esqui.
Localizado na Região dos Lagos, a menos de 200 km do aeroporto de Porto Montt, o arquipélago de Chiloé é o Chile que a gente custa a acreditar que existe.
Segunda maior ilha do país, o destino é endereço de esportes de aventura, tem trilhas de cenários surreais, abriga igrejas de madeira declaradas patrimônio da humanidade e ainda consegue encantar com mitos que, mais do que contar histórias de personagens fantásticos, viraram atração da região.
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Por ali, terra e mar parecem um só. Não só na hora de fazer turismo, mas também nas famosas histórias que contam em Chiloé. Uma delas explica a origem desse arquipélago com cerca de 35 ilhas.
Dizem que Caicavilu, serpente do mar e inimiga da vida terrestre, teria inundado toda a região, tentando transformar tudo em mar. No entanto, Tentenvilú, a serpente da terra que protegia a região das invasões marinhas, elevou as colinas chilotes para que a população pudesse se refugiar.
Como dizem por ali, “o que a terra não dá, o mar dá”.
Confira passeios em Chiloé que o Viagem em Pauta conheceu no arquipélago, em sua última visita ao destino:
Caiaque com golfinhos
Uma das atividades marinhas mais marcantes é a travessia de caiaque, entre as ilhas Chelín e Quehui, ambas em Castro.
Localizadas no centro da Ilha Grande de Chiloé, essas duas porções de terra ficam em um emaranhado de pequenas ilhas voltadas para o continente, com águas geladas que recebem a visita de golfinhos.
A experiência dura 45 minutos e é feita em caiaque de travessia, uma estrutura mais pesada que permite que a embarcação deslize melhor na água.
Patrimônio da humanidade
Conhecida por suas coloridas igrejas de tons fortes, a ilha abriga 16 templos religiosos que foram declarados patrimônios da humanidade pela UNESCO, de um total de 60.
Seja nas grandes cidades ou em povoados minúsculos de 200 habitantes, essas construções de madeira podem ser visitadas, mediante colaborações simbólicas.
Uma delas é a igreja Nuestra Señora del Rosario, na ilha de Chelín, que pode ser combinada com a travessia de caiaque.
A Ruta de las Iglesias inclui também a de Nuestra Señora de los Dolores, em Dalcahue, a 78 km de Ancud, erguida no século 19; e a Iglesia de San Francisco, em Castro.
Curiosamente, todas as igrejas de Chiloé seguem um mesmo padrão arquitetônico, como o teto em forma de bote invertido, pilares internos de madeira com pinturas que simulam mármore; e uma coleção de santos em gesso (trazidos sobretudo da Europa) e os de madeira (feitos na ilha).
Cidade dos três andares
Localizada sobre um morro chilote, a cerca 23 km de Castro, Chonchi é chamada de ‘Ciudad de los Tres Pisos’.
O destino é famoso pela produção do licor de ouro, bebida artesanal feita com soro de leite, açafrão e ovo.
Chonchi é conhecido também por suas casas de madeira de cipreste, erguidas no início do século passado.
Embora estejam sendo substituídas por outros materiais como cimento e tábuas de madeira, as construções chilotes são famosas por suas fachadas de tejuela, como são chamadas as madeiras sobrepostas em forma de escamas.
Pacífico selvagem
Realizada em Ancud, a trilha Duhatao-Chepu passa por um dos cenários mais selvagens do Pacífico, no noroeste de Chiloé.São nove km de caminhada pela Costa do Pacífico, passando pela Cordilheira da Costa, considerada uma das formações mais antigas do Chile.De dificuldade alta, a trilha cruza bosques sempre verdes, mesmo no inverno, e diversas colinas que dão acesso à praia do Rio Chepu, isolada no Pacífico.
A trilha não é recomendada durante a temporada de chuvas, devido à alta variedade de altitude e excesso de barro.
Bosque alagado
A trilha Duhatao-Chepu pode ser combinada com uma visita a esse cenário impactante, resultado do poderoso terremoto que atingiu Chiloé, em 1960, considerado o mais potente do mundo.
De magnitude 9,5 e seguido por um tsunami, o fenômeno teve epicentro na cidade de Valdivia e alterou o percurso de rios de Chiloé.
É daí que surge esse bosque alagado que pode se visitado em passeios de barco pelos braços interiores do rio Chepu que, após o cataclismo de 1960, tornou-se um dos mais extensos de Chiloé.
Mitos
Em Chiloé, mar e terra sempre estiveram muito conectados por ali. Não só pelas construções sobre palafitas, que ainda podem ser vistas em Castro, mas também pelos personagens mitológicos que rondam o imaginário chilote.Para conhecer alguns desses mitos, não deixe de visitar a Plaza de Armas de Ancud, onde estão obras assinadas pelo escultor Ramón Pérez, o Moncho.Feitas com pedra cancagua (rocha sedimentar de origem vulcânica), as esculturas homenageiam figuras mitológicas como Caicavilu, Tentenvilú, e o Trauco, o feioso que, após seduzir as moças, as leva para um bosque.
Outro mito famoso é o da Fiura, filha e esposa do Trauco, conhecida como a mulher dos pântanos e que se satisfaz com as maldades que prepara para os homens.
Do lado oposto da Iglesia San Francisco, a Plaza de Armas de Castro abriga uma estátua dedicada à Pincoya, figura conhecida por sua dança em frente ao mar. Se no ritual Pincoya termina virando-se para o mar é indício de que haverá abundância. Caso contrário, serão tempos de escassez.
E em terras tão conectadas com o mar, é de lá que surge um dos mitos mais conhecidos de Chiloé: o Caleuche, um animado barco fantasma que desaparece quando não quer ser visto.
Hotel Tierra Chiloé
Para esta reportagem, o Viagem em Pauta se hospedou no Tierra Chiloé.Localizado em San José, a 15 km de Castro e em frente ao pantanal de Pullao, esse hotel rústico de madeira tem arquitetura inspirada nas tradições de Chiloé, como o teto em forma de barco invertido que parece flutuar sobre uma estrutura em forma de palafita.Segundo explica o gerente Andrés Bravarí, os arquitetos responsáveis pela construção sempre levaram em conta a ideia de que não fosse um edifício invasivo, mas com respeito ao entorno.
Em uma área de 23 hectares, na Baía de Rilán, atualmente, o empreendimento tem 24 quartos com janelas panorâmicas com vista para o destino.
Embora conte com instalações cômodas e bem aquecidas, o Tierra Chiloé convida o hóspede a ficar do lado de fora (e é daí que vem a variedade de atrações que provamos em Chiloé).
A rede, que conta também com unidades na Patagônia chilena e no Deserto do Atacama, é conhecida pelo cardápio de excursões ao ar livre que já estão incluídas nas diárias, sem que o hóspede tenha que se preocupar com detalhes de traslados, excursões e alimentação.
Assim como explica Maria José Galleguillos, chefe de excursões do hotel, mais do que mostrar um atrativo local, o conceito do hotel é fazer com que o hóspede se conecte com a ilha, com a natureza e com o silêncio.
E se você acordar sem vontade de fazer nenhuma dessas atividades, tem ainda um banquinho de madeira no alto de uma colina para fazer nada e, ao mesmo tempo, ter uma das experiências mais autênticas no mundo do turismo chileno.
As tradições chilotes estão também dentro do hotel, cuja decoração mescla peças artesanais locais e obras de grandes nomes da arte chilena, como teares, lustres feitos com palha e o mapa do arquipélago pintado pela artista Claudia Peña.
Outro destaque é a culinária do restaurante local, cujas refeições também estão incluídas nas diárias, com pratos que levam ingredientes como ostras e peixes, além do tradicional curanto, mariscos preparados entre pedras quentes, em um buraco na terra.
Tudo servido em um salão de janelões de vidro com vista para uma Chiloé inteira, do lado de fora.
*Algumas das atrações citadas nesta matéria são exclusividade do cardápio de excursões do Tierra Chiloé.
Como chegar
As principais cidades desse conjunto de ilhas, escondidas entre o continente e o oceano Pacífico são Ancud – a mais turística delas e a mais ao norte da ilha principal; Castro –terceira cidade mais antiga do Chile, fundada em 1567; e Quellón, no extremo sul.
Para quem vem do norte, são 57 km do aeroporto de Porto Montt até Pargua onde se faz uma travessia de 30 minutos em balsa até Chacao (saídas durante todo o dia e noite), no extremo norte da Ilha Grande de Chiloé.
Já quem vem do sul, o acesso é por Quellón, no sul do arquipélago.
Os aeroportos mais próximos ficam em Porto Montt, no continente, e em Castro, capital de Chiloé, onde chegam voos uma vez por semana nos meses de inverno ou diariamente, no verão.
Distâncias
Chacao – Ancud: 33 km
Ancud – Dalcahue: 67 km
Dalcahue – hotel Tierra Chiloé: 12 km
Quando ir
Com um pé na Patagônia e outro no oceano Pacífico, Chiloé costuma ter temperaturas mais baixas, entre 0 e 20°.
Entre maio e setembro, as chuvas são mais fortes e pode chover sem parar, durante semanas.
Julho e agosto são marcados pela temporada de ventos
De dezembro a março, os dias são mais quentes, o mar mais tranquilo e os ventos mais suaves. Fevereiro é o mês mais seco.
Saiba mais
Tierra Chiloé
Os pacotes de duas noites custam, a partir de US$ 1.500 e incluem transfers, pensão completa, open bar e excursões.
A temporada média vai de 1º de setembro a 31 de outubro de 2018, e de 1º a 30 de abril de 2019.
Já a alta temporada no hotel começa no verão, entre os dias 1º de novembro de 2018 e 31 de março de 2019. www.tierrahotels.com.