Como viajar o mundo sozinha sendo professora de inglês

17/11/2016 12:50 / Atualizado em 07/05/2020 04:27

Eu já estava morando fora do Brasil há pouco mais de três anos, quando embarquei num intercâmbio com o intuito de estudar inglês. Durante esse período, trabalhei em mil e uma funções, foi sensacional, um aprendizado maravilhoso. Assim que decidi voltar para casa, escolhi também fazer uma viagem que fosse inesquecível para marcar tudo o que eu havia vivido. Passei um bom tempo da vida querendo viajar, mas nunca tive condições de ir muito longe mas, quando consegui, após anos de planejamento e já cansada da mesmice, tinha certeza que seria algo mágico. Pois eu fiz ser e foi.

O tempo passou, as experiências foram lindas, mas a vontade de voltar era grande, só que o medo também. Mesmo assim me joguei de cabeça na ideia e comecei a pesquisar destinos legais para passar um tempo antes da tão esperada volta.

O Sudeste Asiático esteve sempre no topo da lista, não apenas pela questão turística, mas também pela possibilidade de entrar mais em contato com a espiritualidade e principalmente pelas experiências que poderia fazer por lá. Já havia pesquisado tudo pela Worldpackers, plataforma que te ajuda a encontrar lugares para fazer work exchange.

Nesses três anos fora aprendi muito, muito mesmo. Em todos os aspectos, foi um crescimento lindo. Aliás, se você quer se conhecer melhor vá viajar, passe um tempo fora, desconecte-se e reconecte-se. Pois bem, achei que estivesse pronta para essa aventura. A ideia era começar com o voluntariado por umas semanas, mas depois apenas viajar e turistar.

Passei os 15 primeiros dias em uma Fundação em Bangcoc, capital da Tailândia. A experiência foi incrível. A Thong Tos recebe voluntários de todos os cantos do mundo. E, pela primeira vez, eu estava ali, com crianças de uma língua estrangeira e uma cultura totalmente diferente, para dar aulas de inglês numa escola muçulmana, o que já quebrava logo de início várias ideias distorcidas que tinha a respeito da religião.

Não tivemos problema algum. O único pedido deles foi com relação à vestimenta, cobrindo ombros e joelhos. Exigência comum no país quando se visita templos e lugares sagrados. Nossa forma de comunicação com as crianças era o inglês, básico deles, e muita mímica e desenhos. As primeiras classes foram ainda meio tímidas e sem jeito, não tinha ideia de como montar uma aula. Mas a vontade de estar ali e poder contribuir de alguma forma falavam mais alto. Eles são super carinhosos. Além disso, outros worldpackers também estavam na Instituição, o que facilitava o contato e a conexão com amigos de diferentes nacionalidades.

Dois meses em solo asiático, um sonho se tornava realidade. Tempo suficiente para me ensinar muito e me deixar com mais vontade de voltar para aquela região. Enquanto estava na sala e via os olhinhos daquelas crianças brilhando, eu sabia que tinha valido a pena. Era um amor tão grande, bilhetinhos, abraços carinhosos e lembrancinhas que eles nos davam para demonstrar afeto que, de alguma maneira, eram sinal de agradecimento do fundo do coração.

Os dias foram passando e meu tempo em Bangkok chegou ao fim, o próximo destino foi o norte da Tailândia, onde fiz um retiro de meditação e aproveitei para a conhecer a região por uns dias também. Na sequência segui para o Camboja, onde ficaria por poucos dias e depois iria para o Vietnã para mais uma experiência pela Worldpackers.

 
 

Decidi atravessar a fronteira da Tailândia para o Camboja por terra. Apesar de saber que eles aplicam muitos golpes em turistas, eu resolvi encarar mas acabei caindo em um também. Percebi a roubada já próximo à fronteira, tentei escapar, mas eles são espertos e muito rápidos. Ganham dinheiro em cima de cada um que passa por ali cobrando a mais pelo visto e você não consegue fazer muita coisa (a dica é: se você resolver ir de ônibus pesquise muito bem a companhia antes, mas se puder, opte pelo avião). Tive uma dor de cabeça com essa história e um cansaço tão grande que decidi não ir ao Vietnã (já que teria que fazer o trecho por terra também). Como em toda boa viagem, os planos nunca seguem o planejado, e isso torna a viagem ainda mais interessante e aberta a novidades.

Resolvi então pesquisar pela Worldpackers alguma instituição no próprio país. Acabei encontrando em Siem Reap e resolvi ficar uma semana. A BCI (Bridges Cambodia International) é um orfanato, ou seja, as crianças moram lá e o quarto dos voluntários fica ao lado da sala de aula. Passamos o dia inteiro rodeado pelas crianças, foi ainda mais mágico. São duas horas de aula pela manhã e duas depois do almoço. À tarde, as crianças brincam por algumas horas, mas também trabalham.

O orfanato fica numa área rural da cidade, então eles são os responsáveis por cuidar dos animais, das plantações e também da própria casa. Sim, essa é a realidade do Camboja, muitas crianças trabalhando. Cortou muito o coração, mas a alegria que eles encaram a vida é lindo de se ver. Foi transformador para mim. Antes de ir embora, organizamos uma festinha de despedida, na qual eles cantaram algumas músicas e dançaram muito. Por ali o nível de inglês é bem melhor, dizem ser a única forma de tentar uma vida diferente no país.

Nos primeiros dias de BCI, achei que não conseguiria completar o ciclo, foi um choque muito grande, apesar de saber que existem muitos lugares assim, é bem diferente quando se está por perto. Mas foi mesmo o susto, depois de uns dias já estava adaptada, fiquei ali por eles. É pura inspiração! Saí com a sensação de dever cumprido e com a vontade de quero mais. Continuei minha viagem por outros países por mais algumas semanas, dessa vez apenas como turista mesmo, e antecipei meu retorno para Bangkok em uma semana (de onde sairia meu vôo) só para poder ficar um pouco mais com as crianças de novo e viver aquela experiência incrível mais uma vez! Ali eu percebi que a viagem estava me trazendo ainda mais do que aqueles três anos que eu já tinha passado fora.

Pronto, minha última semana foi voluntariando com a Thong Tos de novo. E foi mais uma vez memorável. Eu já estava bem mais à vontade com os pequenos, as aulas fluíam bem mais legais. Aquelas crianças não fazem a menor ideia, mas eles foram mais importantes na minha vida do que eu para eles, aprendi muito. É um amor tão grande, uma vontade de aprender, uma simplicidade, que durante todo esse processo o medo de voltar para o Brasil depois de tanto tempo foi sumindo, as questões já eram outras. Uma vontade de fazer o mesmo nas terras tupiniquins foi nascendo, voltei ainda mais motivada e inspirada.

Sou grata pela oportunidade de viajar o mundo sozinha!

Relato por Millena Rodrigues

Se você acredita que mais mulheres podem (e devem) viajar o mundo sozinhas, use a hashtag #ITravelAlone com a sua história de viagem e compartilhe nas suas redes sociais. Vamos juntas revolucionar a forma como viajamos o mundo.