Favelas se consolidam como roteiros turísticos para estrangeiros

Vejam só que ironia. O que um dia foi endereço indesejado e temido por brasileiros e estrangeiros, agora se tornou produto turístico.

Atrativos naturais de peso do Rio de Janeiro estão ganhando um novo concorrente: a favela. Saem os passeios de bondinho na cidade brasileira mais cobiçada mundo afora e entram os tours por comunidades como a da Rocinha e do Morro Santa Marta.

De acordo com pesquisa do Mtur (Ministério do Turismo) e da FGV (Fundação Getúlio Vargas) realizada com 400 turistas que visitaram o Morro Santa Marta, em 2012, a experiência atende ou supera as expectativas de 78,9% dos entrevistados.

Muito brasileiro ainda torce o nariz para esse tipo de serviço e para a espetacularização das favelas. Mas se lá fora tem tour de fantasmas, de cervejas e até da maconha, em destinos como Amsterdã e Jamaica, por que não mostrar uma versão menos óbvia do turismo brasileiro?

Na opinião dos moradores da favela de Santa Marta, por exemplo, os principais atrativos são a vista privilegiada da cidade que se tem lá do alto, a alegria e a hospitalidade dos locais. Mais da metade (57,2%) dos visitantes recomendaria a visita ao morro.

Vista da favela da Rocinha, no Rio de Janeiro (foto: Igor Fernando/Flickr-Creative Commons)

O estudo revelou também o potencial econômico da atividade na comunidade, por meio da qualificação e do empreendedorismo. Atualmente, a maioria dos estrangeiros (81,4%)  gasta até R$ 10 durante os tours, sendo que 61,4% tiveram um gasto máximo de R$ 5. Entre aqueles que não compraram nada, quase metade (40,6%) considerou a oferta de produtos pequena.

A rotina do turismo em favelas cariocas está retratada no documentário “Em Busca de um Lugar Comum”, dirigido por Felippe Schultz Mussel. A obra retrata os 12 passeios realizados por empresas e guias locais na Comunidade da Rocinha em 2011, antes da implantação da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora).

“O homem contemporâneo tem desejo do real. Ir ao Rio de Janeiro e visitar somente o Pão de Açúcar e o Corcovado já não basta. Os turistas estão em busca de algo mais”, disse Mussel em entrevista divulgada pelo MTur.

Por Eduardo Vessoni, do site Viagem em Pauta