Jalapão, um paraíso remoto em pleno Norte brasileiro
O @entaovah te leva nessa expedição remota pelo Jalapão, no Tocantins.
Tocantins era um estado nunca antes explorado por mim. O Jalapão era um sonho a ser vivido.
Pesquisando bastante achei que o melhor era ir com uma agência de viagens. Seria a única maneira de dormir dentro do Jalapão e já tive amigos com experiências complicadas com carro próprio.
Por ser um lugar remoto e ainda pouco explorado, às condições podem ser adversas e tem que ter espírito aventureiro. Estradas bem ruins e que mudam bastante pelas condições climáticas, poucas placas informativas além da internet que não funciona.
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Quando digo remoto é real. O Jalapão tem 0,8 habitantes por quilômetro quadrado!
Pra quem não quer dormir no parque!
Se não for dormir dentro do Jalapão a base mais comum é Mateiros, com estrutura de mercado, restaurante, sorveteria de frutos do cerrado, além do artesanato de capim dourado, fonte de renda na região. As pousadas são bem simples e não vá esperando amenities.
O parque é imenso e o maior do estado Tocantins e ir com a ideia de ver tudo pode ser muito frustrante. Os deslocamentos no Jalapão são longos e não necessariamente fáceis, mas vão ser os mais lindos da sua vida. Com paisagens que mudam a todo o instante, fechar os olhos por 10 minutos te leva a um lugar diferente!
A máxima que o importante é a jornada e não só o destino, vale para o Jalapão.
Se prepare para esquecer do mundo literalmente. Na região do parque não tem sinal e a internet não pega. O celular é só para tirar fotos.
Quando ir ao Jalapão
A época do ano é importante para o Jalapão apesar de dar para ir o ano todo. Recomendo no fim da estação chuvosa. Já não chove tanto, o clima é ameno e não está tão cheio. Eu fui em março e não me arrependo. Choveu, mas não atrapalhou a experiência.
Achei bom já que fiquei imaginando o sol intenso e sem sombra que deve ser na seca, que vai de maio à setembro. A estação chuvosa de outubro à abril.
Como ir ao Jalapão
A única agência que encontrei que dava a experiência de dormir dentro do parque, proporcionando uma imersão completa à natureza, portanto a melhor, foi a Korubo. O site é completo e você tem todas as informações ali mesmo, conseguindo fechar sua experiência em 5 minutinhos e a que melhor combina com você.
A hospedagem é feita em tendas confortáveis e nada lembram um camping comum. Com camas altas, banheiro dentro da cabana, ponto de luz e varanda. Fiquei feliz da vida que ia conseguir descansar já que a programação pelo Jalapão é intensa!
A Korubo tem o acampamento fixo, por isso não faz a volta circular no parque, o que não te deixa com menos lugares maravilhosos.
Palmas
A expedição começa por Palmas e está tudo incluso no programa, desde o translado do aeroporto até o hotel e vice versa como todos os passeios e taxas.
Você só precisa tirar dinheiro da carteira se quiser trazer lembranças para casa.
Em Palmas ficamos no Hotel Girassol Plaza, que tem o básico bom. Cama, chuveiro e café da manhã, além de uma ótima localização.
Chegamos no fim da tarde e aproveitamos para conhecer um pouco da cidade. Começamos pela Praça dos Girassóis, que é a segunda maior praça urbana do mundo e está cheia de monumentos e homenagens a esse povo lindo do Tocantins. O Monumento aos Dezoito do Forte de Copacabana, o Memorial Coluna Prestes projetado pelo Oscar Niemeyer e o Palácio Araguaia foram os que mais me impressionaram.
A praça é realmente um local de encontro da comunidade!
Saindo dali, fomos caminhando por uns 20 minutos até a Feira 304 Sul, um lugar que tem que ser visitado. Uma feira livre local e coberta, utilizada pelos locais para abastecer a vida de alimentos gostosos. Ali também tem uma imensa praça de alimentação para poder experimentar os diferentes sabores do Tocantins.
Essa feira funciona de terça e sexta até às onze da noite e sábado até a uma da tarde!
Comemos bem e ficamos com sede, acabamos no Bar do Colombiano, com cerveja de garrafa, sinuca e uma música extremamente democrática, já que os cervejeiros as escolhiam em uma juke box. Ali os universitários se encontram para tomar umas e outras, entre grafites provocativos.
Voltamos ao hotel para descansar, o dia seguinte começaria cedo para nossa tão esperada expedição!
Estrada
O dia começou com um café da manhã no hotel já conhecendo quem seriam nossos companheiros de viagem. Nosso grupo era de 10 pessoas, além do guia incrível Walley (peçam por ele!), dos motoristas foférrimos e do grupo de cozinheiros, que tinham mãos de anjos!
O grupo era incrível com pessoas que fizeram da viagem muito melhor e que espero levar pela vida.
A Korubo nos buscou com um micro ônibus que nos levaria até o Portal Sul da entrada do parque do Jalapão, Ponte Alta. O último ponto com acesso a internet. Esse dia seria basicamente de estrada e paisagens.
Por lá almoçamos em uma pousada e passamos para um truck de safari com um baita mirante em cima com a sensação que a aventura estava realmente começando.
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A primeira parada foi no Cânion da Sussuapara e suas cascatas dos desejos. Uma fenda na terra incrível, onde descem águas cristalinas e potáveis por um paredão de 12 metros de altura que parecem pinturas. As cascatas dos desejos, basta você parar embaixo e fazer seu pedido. A energia do universo se encarrega do resto.
As pedras no fundo são coloridas e parecem que foram pintadas para compor o visual.
No fundo do cânion ainda tem uma cachoeira forte de queda baixa para começarmos lavando o corpo e a alma. A trilha para chegar ali são de uns 10 minutos por degraus bem tranquilos.
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Ficamos ali uns 40 minutos e seguimos viagem com paisagens lindas entre sol ameno e chuviscos. Tivemos a sorte de ver um fenômeno raro que acontece nessa temporada que é a formação de cachoeiras formadas na serra. O visual de ver a chuva se formando e caindo longe no horizonte deixava tudo mais mágico!
No caminho conseguimos ver a Serra da Jalapinha, a Serra do Espírito Santo e a Serra Geral da Bahia.
Paramos na estrada para um lanche da tarde e dar um relax no cerrado. A próxima parada seria o camp imerso na natureza.
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Chegando lá foi uma feliz surpresa, mirante de sol, mirante de estrelas com redes, refeitório, banheiros, redário e uma praia de rio no quintal de “casa”. Tínhamos o final da tarde para reconhecimento de área e descansar da viagem. O jantar foi servido e era delicioso! Nos restou admirar as estrelas e dormir.
Fervedouros
Fomos acordados cedo para um café da manhã de campeões e pegar estrada rumo aos famosos fervedouros. Paramos na beira do Rio Novo, que é o mesmo rio da nossa praia.
Por ser estação de chuva o rio estava cheio e forte.
Seguindo estrada tivemos a certeza que as Serras nos acompanhariam por todo o caminho, o que é de encher os olhos.
Chegamos no Fervedouro do Ceiça, que fica em Mateiros e fizemos uma trilha bem simples de uns 15 minutos para chegar em um paraíso. Os fervedouros são nascentes de rio e tem entrada controlada para não desestabilizar o ecossistema. Esse é um cuidado que os paraísos tem que ter com o turismo.
Nesse fervedouro só entram 06 pessoas por vez por 20 minutos. Como estávamos na baixa temporada não tinha filas e foi rápido. De muitos tons de verdes, bananeiras em volta e águas muito cristalinas, o lugar é realmente impressionante. A curiosidade é que nessas nascentes é impossível afundar, já que a pressão da água surgindo vem com pressão e movimenta a areia, permitindo flutuar por cima desse fenômeno que é pura vida da natureza.
O próximo fervedouro não era longe e está dentro de uma comunidade quilombola, que são os nativos da região. O Fervedouro do Soninho nos recebeu com tempo bom e almoço preparado pela própria Korubo. A família que mora ali vive do capim dourado e era apaixonante.
Ali também tem o tal fenômeno que não te deixa afundar e tivemos mais tempo ali para sentir a cócegas que a água nascente causa. Eu amei! Ficamos ali quase uma hora e aproveitei para dar uma energizada nos meus cristais e carregá-los para aguentar a Selva de Pedras.
A próxima parada era a Cachoeira da Formiga que é incrivelmente fascinante. A água é transparente e tem uma queda forte e ideal para uma massagem natural pelo tempo que você quiser. A dica é ir por baixo d’água para não ter que lutar com a força da queda.
Meditar em cima da cachoeira também é uma boa pedida além de explorar todos os cantinhos desse lugar mágico. A única coisa difícil ali é ir embora.
O que a Korubo facilita, já que tinha um lanche da tarde nos esperando para seguir estrada.
Nossa última parada era Mateiros para dar uma sacada nos artesanatos e tomar um sorvetinho de frutos do cerrado. Aproveitamos também um gole de internet no meio do retiro para dar um alô pro mundo virtual!
A possibilidade de ver o pôr do sol no meio do nada em cima do mirante do truck foi um presente. O céu era um grande quadro multicolorido e vimos a noite chegar ainda na estrada.
Chegando no camp foi banho, jantar e um dos pontos altos da viagem. Ir para o mirante das estrelas e ver chuva de cadente (<3) deitada na rede ouvindo os sons da natureza. Acabei tirando o melhor cochilo da minha vida!
Caiaque e dunas
Dormimos até um pouco mais tarde já que o dia anterior tinha sido puxado. Levantamos pra um café da manhã com chipas fritas. Se você não sabe o que é isso, tá perdendo metade da vida!
Nos paramentamos e tivemos instruções para descer o Rio Novo de caiaque. Nos esperavam três pequenas quedas de baixa dificuldade e saímos da própria praia do camp.
Um passeio de mais ou menos uma hora com paradas para banho de rio.
Para dar uma adrenalinazinha a mais, competição com o guia que claramente eu perdi. O menino Walley nasceu naquelas águas do Jalapão. A Korubo faz somente essas quedas por precaução, para os mais aventureiros vale tentar descer mais um tanto do Rio, eu fiquei na vontade.
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O começo da tarde seria de relax na praia do Rio Novo com sol intenso. Perfeito para renovar o bronze do verão enquanto esperava o almoço!
A água é cristalina e cheio de peixinhos fofos com a temperatura ideal. Os espertos aproveitaram o redário e eu seguia na pira do sol! Uma tarde para nos aproximar dos viajantes e criar carinho suficiente para não querer que aquilo tudo acabasse.
Hora de pegar a estrada de novo rumo às Dunas do Jalapão e entender como um lugar com tanto verde e com tanta água também pode ser um deserto. Parada estratégica para foto na Serra da Jalapinha e para apreciar o tamanho que temos no meio de um lugar tão remoto e extremo.
Seguimos para o destino e quase chegando nos deparamos com um oásis no meio do deserto, com a Serra do Espírito Santo de fundo. De chorar de lindo.
As dunas são imperdíveis e é um lugar ideal para ir com tempo e de preferência no fim do dia. Para chegar, uma trilha fácil de 15 minutos até a base das dunas com mais quase 10 minutos de subida.
Daí fica a seu critério o quanto quer caminhar e se perder pelas areias douradas de quartzo. De cima, se vê às falésias que vão mudando de cor durante o cair do sol.
A vegetação do deserto é sempre um espetáculo à parte e ali tem flores que não se encontra em mais nenhum canto do globo. Parar para pensar que ali já foi um oceano é uma piração louca.
Voltamos para o camp, jantamos delícia e uma fogueira nos esperava com poema do nosso querido guia e muitas estórias sobre o Jalapão. Pudemos entender melhor como funciona a vida da população, seus percalços e suas glórias. Além de claro, ver pela última vez aquele céu surreal.
Nascer do sol e volta para Palmas
Dia de acordar antes do sol, afinal o espetáculo seria vê-lo nascer. Corremos para o Mirante enrolados em cobertores e ainda de pijama! Chegamos a tempo de ver astro rei sair por detrás da Serra e os passarinhos acordando para um dia lindo.
Café da manhã, malas, adeus ao paraíso e estrada. Muito grata por toda aquela experiência de esquecer da vida, da cidade grande e da internet!!
Nem sempre esquecer coisas é ruim. Nesse caso tivemos que parar em uma casa quilombola para esperar e pudemos conhecer essas riquezas.
A Cachoeira da Velha foi nossa primeira parada do dia. Com mirante e passarela conseguimos chegar bem perto das águas onde o banho não é permitido pela força e violência das águas. Uma escada te leva ainda mais perto para que em silêncio possa contemplar e agradecer por aquilo existir.
O volume da água é imenso e intenso e te faz lembrar um pouquinho de Foz do Iguaçu (lembra que eu te contei aqui?)
Seguimos para a Prainha da Cachoeira de correnteza forte de um lado e que te faz se sentir um peixe boi! Entra por cima e deixa a correnteza te levar e sai por baixo. Capaz de fazer isso por horas sem parar! Do outro lado uma piscina natural bem tranquilinha.
Seria nosso último banho no Jalapão.
Almoçamos na Fazenda do Pablo Escobar. Sim, você ouviu certo. Pablito que não era bobo nem nada entendeu quão remoto o lugar é e comprou um tanto de terra, que funcionava como refinaria de cocaína. Ele mesmo foi lá umas três vezes e depois de uma denúncia, a polícia se infiltrou no esquema e a casa caiu, mas não literalmente já que você consegue visitar o lugar.
Hoje ele é infestado de marimbondos que reinam e mandam no local. Para os corajosos, é possível entrar nos quartos e banheiros que estão preservados.
Partimos para Ponte Alta, onde o micro ônibus nos aguardava para retornar a Palmas. O pôr do sol mais uma vez na estrada fez com que eu chorasse real oficial de felicidade por ter vivido essa experiência.
Aproveito para tornar público meu muito obrigada a essa galera maravilhosa! Já foi reservar sua expedição para o jalapão? Entaovah
Quem me acompanhou nessa jornada foi o @henriquerangel, meu fotógrafo do <3.