Ouro Preto (MG) ganha museu com acervo do barroco internacional

Pinturas, esculturas e objetos sacros de origens e séculos diversos integram o acervo do Museu Boulieu

Quem visitar Ouro Preto, a partir de agora, vai encontrar na entrada da cidade mineira o novo Museu Boulieu, que ocupa as instalações do antigo Asilo São Vicente de Paulo e acolhe a coleção do casal que dá nome à instituição.

A recuperação do imóvel levou quatro anos para ser concluída, em função da pandemia de covid-19, e foi realizada pelo Instituto Pedra, organização da sociedade civil sem fins lucrativos que desenvolve ações na área do patrimônio cultural.

Pinturas, esculturas e objetos sacros de origens e séculos diversos integram o acervo do Museu Boulieu
Créditos: Nelson Kon/Agência Brasil
Pinturas, esculturas e objetos sacros de origens e séculos diversos integram o acervo do Museu Boulieu

O patrocínio foi do Instituto Cultural Vale, que investiu no projeto cerca de R$ 8 milhões por meio da Lei de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet. O novo espaço abre às portas nesta quinta-feira, 14.

O diretor-presidente do Instituto Pedra, Luiz Fernando Almeida (Nando), informou que além da restauração, coube à instituição realizar a museografia, estudo das peças e montagem do projeto expográfico, entre outras ações.

A edificação tem área de quase 400m² para exposição no pavimento superior, compreendendo seis salas. No térreo, abriga saguão de entrada, bilheteria, café/loja, sala multiuso, sala do Educativo, espaços administrativos e reserva técnica.

Fachada externa do Museu Boulieu, em Ouro Preto (MG)
Créditos: Nelson Kon/Agência Brasil
Fachada externa do Museu Boulieu, em Ouro Preto (MG)

A coleção, doada pelo casal Jacques e Maria Helena Boulieu, reúne, em sua maioria, obras de origem asiática e latino-americana, com destaque para o período barroco. “É um museu raro no Brasil, porque o acervo dele é mais internacional do que brasileiro. É importante, porque está em Ouro Preto e contextualiza o que a gente tem como fenômeno universal”, afirma Nando Almeida.

Acervo do Museu Boulieu

O curador da exposição foi Angelo Oswaldo, antes de se tornar prefeito de Ouro Preto. Estarão em exibição 1.050 peças do total de 2.500 da Coleção Boulieu. As peças restantes vão possibilitar exposições temporárias e uma dinâmica do próprio acervo.

O museu é gerido pelo Instituto Boulieu, criado com essa finalidade em 2008, sob o nome de Instituto Cultural Brasileiro do Divino Espírito Santo (ICBDES).

No saguão, o visitante conhece a história do casal Boulieu e a origem da coleção. No piso superior, ele é recebido, na entrada, por poemas de Fernando Pessoa e Luiz de Camões, na voz da cantora Maria Bethânia.

Parte do acervo do recém-inaugurado Museu Boulieu, em Ouro Preto (MG)
Créditos: Nelson Kon/Agência Brasil
Parte do acervo do recém-inaugurado Museu Boulieu, em Ouro Preto (MG)

A narrativa do museu leva o público a uma viagem pelo novo caminho para as Índias, pelo Oriente, e depois chega à América e ao Brasil.

Para Nando Almeida, o mais interessante que o Museu Boulieu oferece ao público é essa narrativa do olhar para fora do Brasil, para entender o processo todo como algo que ocorreu no mundo. “O barroco brasileiro, por exemplo, não é igual ao barroco português. O barroco do altiplano andino não tem nada a ver com o barroco espanhol. Ele tem dimensão própria, que se deu exatamente a partir do encontro de várias culturas”.

Segundo Almeida, o sincretismo religioso, sob o ponto de vista dogmático, também ocorreu no campo da representação das artes. “O museu está mostrando muito essas continuidades. Determinados elementos indianos estão na tipologia imaginária cristã da Ásia, determinados elementos incas estão na tipologia da pintura andina. Tudo isso permite que a gente tenha uma leitura mais complexa desse processo de extensão dos impérios e da fé dos europeus”.

Exposição de abertura

Fazem parte também da exposição duas obras cedidas temporariamente pela Coleção Ivani e Jorge Yunes, inaugurando o Programa Acervos em Diálogo. Ao percorrer as salas, é possível conhecer alguns dos desdobramentos do barroco pelo trajeto histórico poético proposto pelo curador: “A fé e o império conquistam o mar”; “O mundo encantado das Índias”; “Americanos de Norte a Sul sob o sinal da cruz”; “O brilho dos metais e a luz da religião”; “A América hispânica e o esplendor do culto”; “Os engenhos da arte no Brasil açucareiro”; “A palma barroca na mão do povo”; “O eldorado no coração da grande floresta”; “Esfera da opulência” e “Teatro da religião”.

Completa a programação de abertura do novo espaço a mostra temporária “Aleijadinho – fotografias de Horacio Coppola”, feita em parceria com o Instituto Moreira Salles. O conjunto de fotografias retrata as obras do escultor brasileiro Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a partir da viagem feita por Coppola a Minas Gerais, em 1945.

Coleção
Ao longo de mais de 50 anos, o casal de colecionadores Jacques e Maria Helena Boulieu acumulou cerca de 2.500 peças, sendo a maior parte de arte sacra. Parte da coleção foi doada, em 2011, à Arquidiocese de Mariana, atual donatária e proprietária do acervo. Segundo a Escritura Pública de Doação, “os bens doados são fora de comércio e devem ser permanentemente expostos no Museu Boulieu”.

Em 2021, o casal entregou mais um lote de peças, desta vez ao Instituto Boulieu. Nesse novo lote foram doadas, além de esculturas e pinturas de temática religiosa, peças utilitárias, como mobiliário, utensílios domésticos de prataria inglesa e latino-americana, vasos de cerâmica, tecidos andinos, gravuras e fragmentos de entalhes. Há também um pequeno conjunto de peças arqueológicas pré-colombianas.

Tendo vivido boa parte da vida entre o Brasil e a França, o casal decidiu doar a coleção para a criação do museu em Ouro Preto, devido ao apreço pela cidade, além da intenção de deixar o legado como parte do patrimônio local que, com o acervo, ganhará visão internacional do barroco.

Museu Boulieu
Onde: Rua Padre Rolim, 412, Ouro Preto (MG)
Horário: segundas, quintas, sextas, sábados e domingos, das 10h às 18h
Quanto: R$ 10 e R$ 5 (meia). Às  quartas, a entrada é gratuita das 13h às 22h.
Visitas monitoradas;  podem ser agendadas pelo e-mail educativo@museuboulieu.org.br.