Rota incrível explora vulcões ativos em Hokkaido, no Japão
Ilha de Hokkaido, no Japão, oferece aventuras e paisagens esculpidas por vulcões em tours sustentáveis
O círculo de fogo do Pacífico, faixa no oceano com os vulcões mais perigosos do Planeta, passa em cheio pelo Japão, que tem na ilha de Hokkaido sua maior concentração.
Hokkaido é natureza na veia. Só nesta ilha é encontrado o urso marrom japonês, que chega a medir 3 metros.
Montanhas, trilhas, rios e vulcões convidam a roteiros maravilhosos de bike, hikking, caiaque e escaladas. Além de aproveitar a gastronomia ímpar, essas são as formas japonesas de viver em harmonia com os vulcões.
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A história de Hokkaido é recente para o Japão, pois foi ocupada por japoneses há 150 anos. Ao visitar a ilha é preciso também entender a cultura local, muito ligada aos Ainus, o povo milenar originário.
Há diversos lugares em Hokkaido para mergulhar na cultura Ainu, os índios japoneses, como o museu Upopoy National Ainu Museum and Park.
Nele, é possível ver toda história desse povo milenar, as roupas que usavam, os costumes e até uma réplica de uma vila rústica onde ainus moravam.
Aproveite para tomar o famoso sorvete de Hokkaido, mais especial ainda no sabor matcha (chá verde), famoso por ser desintoxicante.
Para chegar a Hokkaido, ilha diferente de onde está Tokyo, o viajante pode pegar um voo ou mesmo o trem-bala.
Saiba como pegar o trem-bala, que chega a 360 km/h.
Sustentabilidade, vulcões e Sapporo
Na topografia recortada, 70% do Japão é formado por montanhas e vulcões, sendo 111 deles ativos. Mas muita gente só se lembra do Monte Fuji, localizado na ilha onde está Tokyo.
Minha viagem à Hokkaido foi desenhada para explorar esses vulcões com tours incríveis, que mostram como conviver em harmonia com os gigantes, além de visitar florestas e trilhas fantásticas.
O roteiro fez parte do evento ATWS 2023, da Adventure Travel Association, organização americana de aventuras e turismo sustentável pelo mundo.
Localizada entre o Mar do Japão e o Oceano Pacífico, a ilha de Hokkaido, no Japão, não poderia ser melhor escolha.
O destino coloca em prática ações sustentáveis aos turistas, que você pode observar durante a viagem.
Falo de prioridade a pequenos produtores locais, tanto na alimentação como serviços, observação de animais livres em seus habitats, sem interferir na vida dos bichos, restaurantes com comidas sazonais e incentivo ao transporte público, com investimento.
Também da valorização da cultura indígena, os ainus, redução de plástico de uso único e viagens em grupos pequenos, entre outras iniciativas.
Este é justamente o ponto-chave da sustentabilidade no turismo: conhecer para preservar. Aprender para levar para outros lugares. Viver a natureza para valorizá-la.
O evento oficial ATWS 2023 aconteceu em setembro, em Sapporo, a maior cidade de Hokkaido.
Com um aeroporto internacional e trens para outras cidades do Japão, Sapporo será sua porta de entrada neste roteiro pela ilha.
Reserve pelo menos 4 dias para esta cidade imperdível. Você pode procurar seu hotel neste link.
É lá que está o The Okurayama Ski Jump Stadium, o estádio usado nas Olimpíadas de inverno de 1972.
Do topo do Monte Okura, de onde saltam os atletas, a vista para Sapporo é maravilhosa.
Sapporo pode ser visitada inteira com o transporte público. A linha de metrô, praticamente uma cidade subterrânea, chega a todos os pontos da cidade.
Além de templos e parques lindos, a cidade tem prédios gigantes e iluminados, como em Tokyo, vida noturna agitada e muitos restaurantes fantásticos.
Em Sapporo está localizado o famoso Ramen Alley (beco do Ramen), com os melhores ramens do mundo.
Depois de duas horas de carro a partir de Sapporo está a região de Lake Toya, com banhos vulcânicos, trilhas nos vulcões e subida ao topo do icônico Monte Usu.
Vulcão Monte Usu: perigo e bênçãos
Sim, Monte Fuji, ao lado de Tokyo, é espetacular. Mas já ouviu falar do Mt. Usu, em Hokkaido?
Com 733 metros de altura, ele é um vulcões mais ativos, dono de vistas deslumbrantes, e também um dos mais perigosos do mundo.
Importante ressaltar que nenhum desses caminhos pelos vulcões pode ser explorado como viajante independente.
É indispensável contratar guias especializados, pois além de quase todas as placas estarem em japonês, em alguns locais só se entra mesmo com guia.
São poucos os especialistas para explorar essa área vulcânica, e eu, sinceramente, não poderia ter encontrado apoio melhor
Estive com Takafumi Homma, que nasceu na ilha e já foi secretário de turismo na região, além de Gen Tokoi, especialista que comanda a Hokkaido Treasure Island Travel, um verdadeiro achado.
Há duas perspectivas sobre o Mt. Usu San, como é respeitosamente chamado pelos japoneses.
De um lado está o monitoramento 24h, para gerar alertas sobre sua próxima erupção. Ao sinal de qualquer terremoto, toda comunidade ao redor é alertada, caso precise evacuar.
De outro, as belezas e maravilhas do vulcão, que atraem turistas do mundo todo.
A história do gigante se revela por trilhas, cidades reconstruídas, comidas deliciosas vindas do solo vulcânico e um parque com bondinho até o topo.
Erupção de 2000
De acordo com o monitoramento, as erupções do Monte Usu acontecem a cada 20 anos. A última foi no ano de 2000, erupção que devastou a pequena cidade de Lake Toya, ao pé da montanha.
Como estamos em 2023, a próxima pode acontecer a qualquer momento.
Minha primeira parada foi Lake Toya, a cidade reconstruída depois da erupção de 2000.
O Lake Toya, que dá o nome à cidade é, na verdade, um caldeirão vulcânico. Também foi resultado de outra explosão do Mt Usu, há 110 mil anos.
A erupção de 2000 durou meses. Uma série de terremotos que precede a explosão do vulcão avisou aos moradores para evacuar a região. Felizmente, não houve vítimas.
Mas, como sempre acontece quando Mt Usu entra em fúria, a destruição foi imensa, engoliu prédios, casas, carros e estradas.
A cidade se reconstruiu e hoje é um balneário onde turistas visitam para tomar banho de água vulcânica nos famosos Onsens, que conto mais abaixo.
Trilha pelo vulcão
Outra forma de explorar o vulcão é pela trilha do Toya-USU Unesco Global Geopark, que contorna o gigante para revelar belezas e tragédias causadas pelo gigante.
Trata-se de uma caminhada relativamente fácil, de 2 horas (1,8 km).
É possível ver ônibus e casas destruídas até o desaparecimento de parte da estrada National Road, a estrada nacional, uma das mais importantes de Hokkaido. A cada passo, as imagens impressionam.
E é o tipo de trilha que não dá para fazer sozinho, mas sim, acompanhado por um especialista, mesmo porque, toda sinalização está em japonês.
Meu grupo foi guiado por Rie Egawa, guia da Sotoasobu, Toya-Usu e mestre em vulcões no Usu Unesco Global Geopark.
Natural de Hokkaido, Rie convive com vulcões desde sempre.
“A atividade vulcânica, parte da vida na Terra, cria topografias maravilhosas, que ajudam em muitas formas de vida, inclusive, humana. Não podemos nos mudar porque temos desastres aqui. Temos que coexistir com os vulcões e saber equilibrar desastres com bênçãos das montanhas”, explica.
Essa trilha que passa pelo vulcão termina em um picnic com matcha. Depois, é hora de explorar o alto do vulcão. Há mais fotos neste artigo.
Cable car: topo do vulcão
É possível subir quase no topo, a 540 m, onde chega o cable car Mont USU Ropeway, o bondinho que nos leva ao alto.
O passeio Mont USU Ropeway não tem só o bonde. Trata-se de um complexo com cafeteria, trilhas lá do alto, sala que simula uma erupção, centro de informações sobre vulcões e uma loja fofa.
Assista ao vídeo deste passeio. Quem não quiser fazer trilhas pode ficar apenas na plataforma, para observar o vale de vulcões e lagos formados por erupções, lá do alto.
Aos mais dispostos, há trilhas e escadarias que levam a plataformas ainda mais altas e observação de crateras.
Já de volta ao solo, aproveite a lojinha com um cuco que dá show de hora em hora. Fique atento.
Onsen: banho de água vulcânica
Fiquei hospedada em Lake Toya, aos pés do Mt. Usu, a cidade que foi arrasada pelo vulcão em 2000.
Também foi minha primeira oportunidade de tomar banho em um onsen, o famoso banho termal japonês.
As águas naturais do onsen, vindas do solo vulcânico e ricas em minerais, podem chegar a 40 graus celsius. E há um ritual para o banho, que deve ser tomado pelado.
O onsen pode ser público, no meio da cidade, ou dentro de um hotel.
Para se banhar, é preciso vestir um yukata, kimono cedido pelo hotel, sem nada por baixo. Para entrar na piscina de água termal, nem biquíni é aceito.
As alas feminina e masculina do onsen são sempre separadas.
Há mais regras. Em alguns onsens bem tradicionais, não é permitido entrar com tatuagem à mostra. Saiba mais sobre as regras do Onsen neste post.
Além do onsen com vista pra o lago Toya e montanhas, o hotel Toyako Manseikaku Lakeside oferece outra experiência japonesa que não se pode perder na terra do sol nascente: dormir em um ryocan.
Ryocan é a hospedagem tradicional japonesa, geralmente com jardins lindíssimos, decoração e comida típica, rituais e quartos onde dormimos no chão. Você pode encontrar seu ryocan com onsen neste link.
Calma. Dorme-se, na verdade, no tatame, onde será colocado um futon, e, assim, sua noite macia estará garantida.
O hotel tem ainda um restaurante com buffet japonês bem interessante para jantar e café da manhã, inclusive com opções vegetarinas e veganas.
Comida é um dos pontos fortes de Hokkaido. Tudo fresco, farm to table, como acontece no restaurante Sakkuru, ao lado de Lake Toya.
Neste restaurante é praticado o tradicional “aka kaiseki”, estilo gastronômico em que vários pratos são servidos.
Com cardápio desenhado sob medida para o visitante, a chef Makiko, de 74 anos, recebe visitantes em sua casa. Ela também produz toda verdura utilizada no restaurante.
Makiko, chef há 23 anos, prepara a sequência de pratos, que inclui muitas entradinhas, principal, sobremesa e chá.
No nosso programa, inteiro vegetariano e vegano, serviu 20 pratos (isso mesmo, 20!) que custaram no final, aproximadamente, apenas 15 dólares por pessoa.
Você pode ver mais comidas lindas veganas e vegetarianas nesta região de Hokkaido neste link.
Trilha sobre o Pacífico
Perto dali está uma das trilhas mais lindas que já fiz. Ela se localiza 30 metros acima do Oceano Pacífico e fica na cidade de Toyoura.
O nome, Kamuichashi, significa “Forte de Deus”, na linguagem Ainu. São 130 degraus para chegar até a trilha.
Na verdade, é uma pequena caminhada com um mirante de encher os olhos. Vale levar uma mochila para fazer um picnic no local.
Você pode ver o vídeo da experiência sobre o Oceno Pacífico neste post.
Karaokê, bike e floresta em Kuromatsunai
Floresta de árvores gigantes e centenárias, a Utasai Beech Forest também é a casa do urso negro, que pode chegar a 3 metros de altura.
A trilha dura 3 horas, indicada para quem está acostumado a caminhadas longas. Vá preparado com tênis impermeável e calça de caminhada.
Essa floresta é também casa de ursos gigantes, que vivem livremente por lá. Durante a caminhada, pude ver, inclusive, um arranhão recente em uma das árvores, que indica que ele acabou de passar.
Novamente, não é possível fazer esse passeio sem guia. Mesmo porque todas as placas também estão em japonês.
E mais um alerta. Apesar do calor que pode fazer no Japão, nada de colocar bermudas ou shorts para esses passeios.
Aqui, estamos em uma floresta intocada, onde há plantas baixas que podem ser tóxicas ou venenosas só de encostar. Melhor seguir com canelas protegidas.
Descrevi a roupa ideal para esse tipo de trilha. Cheque nos destaques do insta.
Depois da trilha, é possível fazer um picnic ao lado da floresta. O tour organizou um churrasco vegetariano japonês, com legumes e carne de soja na chapa. Deliciosos!
A floresta fica em Kuromatsunai town, cidadezinha simpática pronta para ser explorada com uma bike elétrica.
Também é possível explorar de bike a área rural de Kuromatsunai town, em um roteiro que passa por pequenos produtores da região, bem como lojinhas de doces japoneses.
Esse roteiro foi essencial para entender a vida local. Paramos, inclusive, para um lanche dentro da casa do maior produtor de batatas da região.
Também fizemos uma parada para comprar doces locais, mochis frescos moldados e recheados, que só são produzidos sob encomenda.
Mochi é um bolinho de arroz muito consumido no Japão.
À noite é hora de curtir o clássico programa japonês: jantar tradicional e karaokê. Jantamos no tradicional Ryokan in, cuja apresentação dos pratos é fantástica.
Aliás, por toda região, a comida é fresca e com pratos lindíssimos, como este.
Você pode ver mais comidas típicas neste link.
Depois do jantar, um karaokê na simpática cidade de Kuromatsunai town, regado a muito sakê, revelou vários talentos da música.
Publiquei algumas fotos dessa noite, a mais divertida da viagem, neste link.
Curtir um karaokê, especialmente nestas cidades menores, é algo imperdível no seu roteiro ao Japão.
Pela manhã, prepare-se para remar pelo rio Shubuto, de águas calmas, onde, com sorte, poderá ver salmões selvagens.
Como organizar a viagem ao Japão?
Recentemente, o Japão liberou brasileiros do visto para quem vai a turismo. As regras estão neste post.
Para organizar um roteiro de forma gratuita, o viajante pode seguir o Lado B Viagem nas redes, onde há muitos outros passeios incríveis pelo país.
O brasileiro também pode contar com a ajuda de especialistas da Japan National Tourism Organization (JNTO), tanto no website, que tem muito conteúdo, como na Japan House São Paulo, onde especialistas te atendem pessoalmente, de forma gratuita.
Os especialistas para informações turísticas da JNTO atendem aos sábados, domingos e feriados.
Apesar do destino não exigir seguro viagem, ele é indispensável, pois o serviço médico em caso de emergência pode sair bastante caro.
Usei o seguro da Affinity, que cobre Covid sem custo adicional em todos os planos, e também tem cobertura para quem vai praticar aventuras, exatamente como fiz nesta viagem a Hokkaido.
Para se locomover pelo Japão, e até mesmo para pegar o trem-bala, o viajante precisa viajar com um chip de internet. Usei e indico o chip da Skill Sim, que pegou até nos vulcões remotos e tem plano de dados ilimitados.
Bom lembrar também que o fuso do Brasil e Japão é de 12 horas, ou seja: dia aqui, noite lá.
Você vai demorar pelo menos 2 dias para se acostumar.
A melhor dica, que sigo como viajante profissional, é tentar chegar no destino no começo da noite e não dormir no último voo longo. Isso para entrar no horário local e ter a chance de dormir à noite, já no primeiro dia de viagem.