Peça ”A Idade da peste” terá duas apresentações gratuitas nesta quarta em Ribeirão Pires
O Vila Mundo é uma iniciativa do Instituto Acqua em parceria com a Catraca Livre
A peça de teatro ”A Idade da peste” terá duas apresentações gratuitas nesta quarta-feira (19/04), em Ribeirão Pires (SP). Solo com atuação e direção da premiada atriz Cácia Goulart com dramaturgia do também premiado Reni Adriano será no Anfiteatro Arquimedes Ribeiro às 18h e às 20h30.
O que aconteceria se uma mulher branca de classe média alta realmente se descobrisse branca? A que custo isso se daria, e qual o discurso possível dessa constatação? Foi a partir dessa provocação que o dramaturgo Reni Adriano e a atriz Cácia Goulart conceberam o solo A idade da peste.
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Em cena, Senhora C. assiste ao assassinato do filho da empregada, encurralado pela polícia, dentro da sua casa de classe média alta. O episódio desencadeia um profundo exame de consciência em que os desejos inconfessados da branquitude emergem como um marcador racial aterrorizante, questionando a própria possibilidade de justiça em um mundo feito à imagem e semelhança dos brancos.
Mas engana-se quem espera da atuação de Cácia Goulart uma personagem branca se autoelogiando como “antirracista” ou performando mea culpa e comiseração. “Senhora C. não tem esse complexo de Princesa Isabel; não pretende ser reconhecida como a ‘branca redentora’ da causa. Pelo contrário: ela é consciente da infâmia do lugar racial que ocupa, sabe que esse lugar é indefensável”, reflete Cácia, que também assina a direção da peça. Para ela, o risco da abordagem pelo viés escolhido seria a tentação de redimir a personagem, ou cobri-la de elogios por sua consciência racial. “Mas a desgraça dela é saber que não basta ter consciência: ela está, como branca, submersa na indignidade, uma vez que reconhece seu lugar na branquitude, mas é incapaz de desocupar esse lugar privilegiado”, conclui.
Para o dramaturgo Reni Adriano, esse assunto costuma ser violentamente rechaçado por pessoas brancas, porque instintivamente reconhecem que subjaz a esse tema-tabu uma dose dolorosa de vergonha e infâmia. “Mas o status da branquitude se perpetua e se atualiza justamente nesse silenciamento”, pondera. Além disso, o autor, que é negro, ironiza que escrever para uma atriz branca funcionaria como uma espécie de mascaramento para que brancos possam ouvi-lo de boa vontade. “O fato de sermos um país em que negros não têm um dia sequer de descanso só é possível ao preço de que os brancos tenham uma dignidade muito frágil. Eu quero questionar essa dignidade frouxa dos brancos. Debater racismo com negros é fácil; o que eu quero é racializar os brancos em cena e situá-los no lugar de suas responsabilidades”, crava.
Escrita por um dramaturgo negro, portanto, para atuação de uma atriz branca, a peça mobiliza e tensiona os marcadores identitários raciais de modo a evidenciar que, antes de ser um “problema de negros”, o racismo é um flagelo de brancos. O exercício de franqueza de uma mulher branca sobre a perversão de seu próprio status identitário torna A idade da peste uma assombrosa reflexão em que pensar o racismo é um debate sobre o mal.
A circulação do espetáculo pelo ABC Paulista conta com apoio do ProAC 2022.
Sobre Reni Adriano
Mineiro de Santa Luzia, o autor da peça, Reni Adriano, vive na capital de São Paulo. Mas foi em Diadema que ele residiu, dos nove anos de idade aos primeiros anos da vida adulta. Na cidade é que o autor teve o primeiro contato com diferentes linguagens artísticas, nas diversas oficinas espalhadas pelos bairros. Em uma delas é que arriscou mostrar seus primeiros escritos, e foi encorajado a continuar a escrever em workshops ministrados pela poeta Beth Brait Alvim.
Serviço
Quando: Quarta-feira (19/04) às 18h e 20h30
Onde: Anfiteatro Arquimedes Ribeiro (Rua Diamantino de Oliveira, 218, Jardim Pastoral, Ribeirão Pires-SP)
Gratuito
Classificação: 16 anos
retirada de ingresso 30 minutos antes do espetáculo
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