Série ‘Milton e o Clube da Esquina’ relembra movimento musical mineiro
A ideia inicial era uma cinebiografia de Milton Nascimento e de seus parceiros do Clube da Esquina – não que o projeto tenha sido descartado –, mas o que acabou se concretizando, pelo menos por enquanto, é a série documental sobre o movimento musical mineiro surgido nos anos 1970 que revolucionou a MPB.
Com produção da Gullane e direção de Vitor Mafra, que assina o roteiro com Danilo Gullane e Marcelo Dantas, Milton e o Clube da Esquina estreou no Canal Brasil e agora pode ser assistida por streaming. Bituca, Ronaldo Bastos e os irmãos Márcio e Lô Borges são protagonistas do programa, que tem Ney Matogrosso, Gal Costa, Seu Jorge, Samuel Rosa, Criolo, Maria Gadú e Iza como convidados especiais. Todos cantam e contam histórias.
A empreitada teve início em 2017, quando a produtora Gullane adquiriu os direitos do livro Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges. “A gente já comprou pensando num longa-metragem, mas a partir do momento em que começamos a conviver tão perto com o Milton, com o Marcinho e o Lô, veio o insight de mergulhar no universo deles, cantar aquelas músicas. Assim surgiu a ideia da série documental”, explica Fabiano Gullane, responsável pelo argumento.
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Cada um dos seis episódios, de 30 minutos, tem as canções como eixo condutor – não só as do antológico álbum Clube da Esquina 1 (1972), como de antes e depois do disco. “O coração é o Clube 1, tanto que temos 10 faixas dele. Mas não deixamos de abordar outras músicas emblemáticas, como Canção do sal (1966), quando já se inicia a amizade do Milton com o Márcio (Borges), Travessia (1967), que projetou o Bituca para o mundo, e Maria, maria (1975)”, explica o diretor e roteirista Vitor Mafra, um dos fundadores da MTV.
De acordo com Fabiano Gullane, a partir das canções – três por programa –, os artistas vão revelando sua intimidade e os bastidores da criação delas. “Nesse documentário de seis partes, tivemos acesso a muitas informações que não estavam no livro. Algumas, já contadas de forma mais oficial, resgatamos de forma mais íntima. Este é o primeiro passo para um longo projeto em torno do Milton e do Clube da Esquina. Teremos também um longa ou uma série de ficção, que agora começam a se estruturar e formatar”, revela.
MONTANHAS
A série foi gravada durante oito dias no Sonastério, estúdio nas montanhas na região de Nova Lima. Com sua bela arquitetura e a natureza exuberante do local, ele acaba sendo um personagem. A banda montada exclusivamente para o projeto, comandada pelo produtor e diretor musical BiD, reproduziu não só a atmosfera, como os arranjos originais.
“A gente montou uma banda com músicos renomados para tentar se aproximar ao máximo do som daquela época. A ideia era tentar fazer igual. Inclusive, trazendo toda aquela emoção do passado para dentro do estúdio agora em 2020, mas com respeito e carinho. Como disse o Seu Jorge em um dos episódios, participar do projeto é uma graduação para todos nós”, afirma BiD. A intenção é lançar um disco com as canções gravadas no seriado.
O compositor Márcio Borges diz que a aproximação com a origem do movimento é um dos destaques de Milton e o Clube da Esquina, destacando a importância da conexão entre os parceiros. “O enfoque da série foi o musical, até porque a música foi o grande diferencial da nossa vida. Através dela foram surgindo as nossas histórias, os nossos causos. O bacana é que o programa também enfatiza a nossa amizade, as composições como consequência desses laços. O seriado conseguiu levar tudo isso para a tela”, diz.
Lô Borges elogia a produção por captar o clima de fraternidade e musicalidade do Clube, comemorando a oportunidade de se reencontrar com os “irmãos de sangue e fé” em cenário tão especial. “O estúdio tem tudo a ver com Minas. Reviver a nossa história num lugar maravilhoso, numa região linda e fazendo o que a gente mais gosta – música – me comoveu demais. É um projeto espetacular”, comemorou.