Série ‘Milton e o Clube da Esquina’ relembra movimento musical mineiro

24/03/2020 13:55

A ideia inicial era uma cinebiografia de Milton Nascimento e de seus parceiros do Clube da Esquina – não que o projeto tenha sido descartado –, mas o que acabou se concretizando, pelo menos por enquanto, é a série documental sobre o movimento musical mineiro surgido nos anos 1970 que revolucionou a MPB.

Milton Nascimento e Clube da Esquina são retratados em série
Milton Nascimento e Clube da Esquina são retratados em série

Com produção da Gullane e direção de Vitor Mafra, que assina o roteiro com Danilo Gullane e Marcelo Dantas, Milton e o Clube da Esquina estreou no Canal Brasil e agora pode ser assistida por streaming. Bituca, Ronaldo Bastos e os irmãos Márcio e Lô Borges são protagonistas do programa, que tem Ney Matogrosso, Gal Costa, Seu Jorge, Samuel Rosa, Criolo, Maria Gadú e Iza como convidados especiais. Todos cantam e contam histórias.

A empreitada teve início em 2017, quando a produtora Gullane adquiriu os direitos do livro Os sonhos não envelhecem – Histórias do Clube da Esquina, de Márcio Borges. “A gente já comprou pensando num longa-metragem, mas a partir do momento em que começamos a conviver tão perto com o Milton, com o Marcinho e o Lô, veio o insight de mergulhar no universo deles, cantar aquelas músicas. Assim surgiu a ideia da série documental”, explica Fabiano Gullane, responsável pelo argumento.

Capa do disco “Clube da Esquina”, com imagem feita pelo fotógrafo Cafi
Capa do disco “Clube da Esquina”, com imagem feita pelo fotógrafo Cafi - Reprodução

Cada um dos seis episódios, de 30 minutos, tem as canções como eixo condutor – não só as do antológico álbum Clube da Esquina 1 (1972), como de antes e depois do disco. “O coração é o Clube 1, tanto que temos 10 faixas dele. Mas não deixamos de abordar outras músicas emblemáticas, como Canção do sal (1966), quando já se inicia a amizade do Milton com o Márcio (Borges), Travessia (1967), que projetou o Bituca para o mundo, e Maria, maria (1975)”, explica o diretor e roteirista Vitor Mafra, um dos fundadores da MTV.

De acordo com Fabiano Gullane, a partir das canções – três por programa –, os artistas vão revelando sua intimidade e os bastidores da criação delas. “Nesse documentário de seis partes, tivemos acesso a muitas informações que não estavam no livro. Algumas, já contadas de forma mais oficial, resgatamos de forma mais íntima. Este é o primeiro passo para um longo projeto em torno do Milton e do Clube da Esquina. Teremos também um longa ou uma série de ficção, que agora começam a se estruturar e formatar”, revela.

MONTANHAS

A série foi gravada durante oito dias no Sonastério, estúdio nas montanhas na região de Nova Lima. Com sua bela arquitetura e a natureza exuberante do local, ele acaba sendo um personagem. A banda montada exclusivamente para o projeto, comandada pelo produtor e diretor musical BiD, reproduziu não só a atmosfera, como os arranjos originais.

“A gente montou uma banda com músicos renomados para tentar se aproximar ao máximo do som daquela época. A ideia era tentar fazer igual. Inclusive, trazendo toda aquela emoção do passado para dentro do estúdio agora em 2020, mas com respeito e carinho. Como disse o Seu Jorge em um dos episódios, participar do projeto é uma graduação para todos nós”, afirma BiD. A intenção é lançar um disco com as canções gravadas no seriado.

O compositor Márcio Borges diz que a aproximação com a origem do movimento é um dos destaques de Milton e o Clube da Esquina, destacando a importância da conexão entre os parceiros. “O enfoque da série foi o musical, até porque a música foi o grande diferencial da nossa vida. Através dela foram surgindo as nossas histórias, os nossos causos. O bacana é que o programa também enfatiza a nossa amizade, as composições como consequência desses laços. O seriado conseguiu levar tudo isso para a tela”, diz.

Lô Borges elogia a produção por captar o clima de fraternidade e musicalidade do Clube, comemorando a oportunidade de se reencontrar com os “irmãos de sangue e fé” em cenário tão especial. “O estúdio tem tudo a ver com Minas. Reviver a nossa história num lugar maravilhoso, numa região linda e fazendo o que a gente mais gosta – música – me comoveu demais. É um projeto espetacular”, comemorou.