‘Intersecções’: mostra celebra narrativas negras, indígenas e periféricas em SP

‘Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo’: uma exposição necessária, imperdível e gratuita! Bora saber mais?

Quem realmente fomenta a base cultural da maior cidade do Brasil? A exposição “Intersecções: Negros (as) indígenas e periféricos(as) na Cidade de São Paulo” traz para o foco as narrativas que constroem a cultura paulistana nos dias de hoje.

A mostra gratuita ocupa o Museu da Cidade de 25 de janeiro, 469º aniversário de São Paulo, até o fim de julho. A visitação acontece de terça a domingo, das 9h às 18h.

Exposição “Intersecções” reúne obras de negros, indígenas e periféricos que fomentam a base da cultura de São Paulo
Créditos: Noelia Nejera
Exposição “Intersecções” reúne obras de negros, indígenas e periféricos que fomentam a base da cultura de São Paulo

A exposição apresenta mais de 300 objetos entre fotografias, pinturas, vídeos, instrumentos musicais e figurinos de diversas linguagens artísticas produzidos por mais de 100 artistas paulistanos nos últimos 40 anos.

A curadoria coletiva ficou por conta a empresária Adriana Barbosa, criadora da plataforma Feira Preta, o jornalista Nabor Jr. e o historiador Eleilson Leite, em colaboração com a líder indígena Jera Guarani. A produção é da Ayo Cultural e a identidade visual do ilustrador e designer Alexandre de Maio, um dos principais nomes do jornalismo narrativo.

A abertura da exposição conta com a apresentação do Coral Kalipety, formado por integrantes da Aldeia Kalipety da Terra Indígena Tenondé Porã, localizada no extremo sul da cidade de São Paulo. Os primeiros 200 visitantes devem receber um colar consagrado pelo Pajé da aldeia paulistana com a água da cachoeira Capivarí.

Exposição tem conceituação e curadoria de Eleilson Leite, Adriana Barbosa e Nabor Jr.
Créditos: Divulgação/Griot Assessoria
Exposição tem conceituação e curadoria de Eleilson Leite, Adriana Barbosa e Nabor Jr.

“Intersecções”: Territórios, Sujeitos e Imaginários

Setorizada em três eixos que convergem entre si, a exposição apresenta relevantes movimentos artísticos e culturais que contribuíram não somente para fomentar as narrativas negras, indígenas e periféricas na cidade nos últimos 40 anos, como também foram fundamentais para a construção do que entendemos como cultura paulistana nos dias de hoje.

Essa exposição parte de um pensamento decolonial”, destaca Adriana Barbosa. “Se hoje a gente tem um processo crítico em relação à produção intelectual e cultural, se deve a esses movimentos que ajudaram a construir esse campo de arte-ativismo que temos hoje”.

Pagode da 27, tradicional roda de samba do Grajaú
Créditos: Nego Jr
Pagode da 27, tradicional roda de samba do Grajaú

Lúdica, sensorial e educativa, a exposição proporciona aos visitantes uma oportunidade de revisitar memórias e reconhecer o processo de formação de identidades e movimentos culturais a partir destes três eixos.

Um deles aborda os ‘Territórios“, como o quilombo urbano Aparelha Luzia, o Museu Afro Brasil, o Centro Cultural Quilombaque, a Festa de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, a Feira Preta, o Festival BixaNagô e rodas de samba como o Pagode da 27 e o Samba da Vela.

No eixo “Sujeitos“, o destaque fica por conta dos vídeos da equipe de baile Black Mad e Zezão Eventos, assim como para os populares fluxos que ocorrem nas comunidades de Heliópolis e Paraisópolis.

Em “Imaginários“, a reflexão em torno da popularização da expressão “da ponte pra cá” e do tradicional “futebol de várzea”, pois embora geograficamente não existam várzeas na cidade, também se tornou um termo comum para falar sobre o futebol amador que ocorre nas periferias.

Narrativas indígenas, que também são periféricas, compõe a mostra “Intersecções”
Créditos: Pedro Salvador
Narrativas indígenas, que também são periféricas, compõe a mostra “Intersecções”

Realidades em retratos inéditos

Em formato imersivo e cronológico, a exposição teve o cuidado de conectar de forma simétrica os conceitos de negritude, periférico e indígena, sem sobrepor uns aos outros, compreendendo essas zonas de cruzamento e horizontalidade.

A exposição apresenta obras e experiências inéditas, e até mesmo impossíveis de serem reproduzidas por pessoas de fora de determinados contextos sociais, como os famosos fluxos – os bailes que acontecem nas favelas.

Situar o público de que o povo indígena está às margens da cidade, e por isso também compõe sua periferia, irá possibilitar o acesso à conhecimentos como o fato de que somente no município de São Paulo existem mais de 20 aldeias, e inclusive uma cachoeira.

Aldeia indígena em SP
Créditos: Pedro Salvador
Aldeia indígena em SP

O núcleo indígena também apresenta a reprodução de uma casa de rezas, com áudios gravados da aldeia guarani Tekoa Kalipety. E até mesmo proporciona o contato visual com elementos naturais da aldeia, como a água da cachoeira Capivari da terra Tenondé, que é a única e última com água limpa dentro do município de São Paulo.

Outras experiências inéditas serão a exibição de duas pinturas do artista plástico Sidney Amaral, além de um estandarte do bloco Ilu Inã, de autoria de Dona Jacira.

Carnaval: samba, pagode e blocos afro

Com a aproximação do maior evento cultural de rua, a exposição também traz elementos que rememoram as narrativas de como essa celebração por meio dos blocos afro, das rodas de samba e do pagode dos anos 90 fizeram parte dessa construção.

Até o período final da exposição, o museu deve propor atividades artísticas com base nas obras e movimentos da curadoria, de saraus a batalhas de rap, contemplando também roda de samba e apresentação de bloco afro, a programação detalhada será divulgada ao longo dos próximos meses.

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