Peça ‘Audiência’ faz crítica à censura e ao totalitarismo

Montagem da obra do dramaturgo tcheco Václav Havel comemora os 30 anos da democracia na República Tcheca

Por: Redação

Até 16 de dezembro de 2019

Segunda - Sexta - Sábado - Domingo

Às segundas, às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h. Classificação: 12 anos. Duração: 75 minutos

Diante dos tempos sombrios pelo qual atravessa a cultura no Brasil, o Coletivo Cardume estreia o espetáculo “Audiência”, do dramaturgo e ex-presidente tcheco Václav Havel (1936-2011), que faz uma crítica à censura e ao autoritarismo e cria uma reflexão sobre o valor da democracia.

“Audiência”, de Václav Havel, comemora os 30 anos da Revolução de Veludo, que acabou com o regime comunista na Tchecoslováquia
Créditos: Luis Felipe Labaki - divulgação
“Audiência”, de Václav Havel, comemora os 30 anos da Revolução de Veludo, que acabou com o regime comunista na Tchecoslováquia

A montagem também marca as comemorações aos 30 anos da Revolução de Veludo, que pôs fim ao regime totalitário na antiga Tchecoslováquia e deu início ao processo de democratização no país.

A peça foi escrita em 1975 a partir de uma experiência similar vivida pelo próprio Havel na chamada “Normalização” (1968-1989), período de fortalecimento do regime comunista na Tchecoslováquia que deu fim ao processo de liberalização ocorrido durante a Primavera de Praga (1968). O autor foi impedido de ter suas peças encenadas por ser crítico ao autoritarismo e foi obrigado a trabalhar durante alguns meses em uma cervejaria na cidade de Trutnov.

O espetáculo narra a conversa entre o ex-dramaturgo Vaněk e o Mestre Cervejeiro. Entre várias garrafas de cerveja, o chefe pergunta ao seu subordinado sobre a vida anterior ao trabalho maçante de rolar barris na cervejaria e sobre as atrizes e personalidades com quem ele convivia no teatro.

O Mestre Cervejeiro se lembra dos próprios velhos tempos, extravasa sobre suas desilusões e propõe a Vaněk um novo trabalho em troca de um favor. O poeta e dramaturgo dissidente deveria escrever os relatórios solicitados pelo serviço secreto sobre as próprias atividades “subversivas”.

Além de poeta e dramaturgo, Václav Havel foi presidente da República Tcheca
Créditos: Luis Felipe Labaki - divulgação
Além de poeta e dramaturgo, Václav Havel foi presidente da República Tcheca

A ideia da encenação é defender a democracia e a liberdade de pensamento e expressão ao mostrar como os dois personagens – o operário e o intelectual – são afetados pelo regime totalitário de maneiras diferentes.

Com direção de Juliana Valente, “Audiência” foi traduzida diretamente do tcheco por Luis Felipe Labaki, que também interpreta a trilha sonora ao vivo ao lado de Francisco Turbiani. O elenco conta com a participação de Marô Zamaro e Pedro Massuela.

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A peça fica em cartaz entre 29 de novembro e 16 de dezembro, na SP Escola de Teatro – sede Roosevelt, na Sala Hilda Hilst. As apresentações acontecem às segundas, às sextas e aos sábados, às 21h, e aos domingos, às 19h. E os ingressos custam R$30.

Havel

Nascido em uma família abastada de empresários e intelectuais, Havel despontou como escritor e poeta em meados da década de 1950 e iniciou sua carreira no teatro em 1959 como técnico de palco no Teatro ABC, em Praga. Sua primeira peça, “Noite em Família”, foi escrita naquele mesmo ano. Ele ficou conhecido como dramaturgo graças ao sucesso das peças “A Festa no Jardim” (1963), “Comunicado” (1965) e “A Crescente Dificuldade de Concentração” (1968), que faziam duras críticas ao regime opressor e à situação do homem moderno contemporâneo.

“Audiência” tem trilha sonora ao vivo, interpretada por Luis Felipe Labaki e Francisco Turbiani
Créditos: Luis Felipe Labaki - divulgação
“Audiência” tem trilha sonora ao vivo, interpretada por Luis Felipe Labaki e Francisco Turbiani

Devido à militância política, Havel foi preso em diferentes ocasiões e impedido de ter suas peças. Ele liderou o movimento Fórum Cívico, formado na emergência dos protestos da Revolução de Veludo, que no dia 17 de novembro de 1989 pôs fim ao regime comunista na Tchecoslováquia.

Por conta dos seus escritos sobre liberdade de expressão e de pensamento, Havel foi o porta-voz do movimento, sendo o responsável por negociar com o regime comunista a entrega do poder e por encabeçar a transição entre os governos.

Naquele mesmo ano, o dramaturgo foi eleito o último presidente da Assembleia Federal. Com a independência da Eslováquia, em 1993, ele ainda foi eleito o primeiro presidente da República Tcheca e governou o país até 2003, em dois mandatos.