Amazônia, Cerrado e Abrolhos: movimentos protestam pelo clima
Da internet às ruas, líderes de campanhas online em defesa do meio ambiente participarão da Greve Global pelo Clima e da Semana do Clima em Nova York
Uma onda de protestos em defesa do meio ambiente vai invadir as ruas de diversas cidades do mundo nesta sexta-feira, 20, para denunciar que o planeta Terra está em estado de emergência climática. A Greve Global pelo Clima levará para as ruas alguns movimentos gigantescos, criados na plataforma de abaixo-assinados Change.org, pelo fim do desmatamento e das queimadas na Amazônia, pela proteção do Cerrado e contra a exploração de petróleo no entorno de Abrolhos.
As petições formaram uma avalanche de mobilização na plataforma, com um total de 11,5 milhões de assinaturas somando-se as quatro maiores campanhas. O autor de um dos abaixo-assinados, que pede providências do governo e de congressistas para investigar e acabar com as queimadas na maior floresta tropical do mundo, o advogado acreano Gabriel Santos de Souza, levará a mobilização para a Semana do Clima de Nova York, que acontece entre os dias 23 e 29.
“É uma representação simbólica”, afirma Gabriel. “Ir a Nova York para a Semana do Clima, para a Greve Geral pelo Clima, discutir os impactos do que está acontecendo na nossa realidade, na minha realidade, especificamente, lá no Acre, é muito significativo e simbólico. Acho que traz uma nova percepção, para mim pelo menos, da importância de se mobilizar, da importância de correr atrás daquilo que a gente acredita, e principalmente de se posicionar e agir”, completa o jovem.
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Gabriel, que tem 25 anos e mora na periferia da cidade de Rio Branco, reuniu até o momento 4,8 milhões de assinaturas em sua petição, que também foi entregue à Câmara dos Deputados, e conseguiu pressionar o presidente da Casa, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), a instalar uma comissão externa para avaliar e monitorar a qualidade das políticas públicas ambientais.
“O Brasil precisa retomar a liderança sobre o debate climático no mundo. Não é possível que o país com a maior floresta do mundo, maior biodiversidade e recursos hídricos se comporte como coadjuvante num tema tão importante. Acredito que nossa geração está passando uma mensagem clara: nós queremos ter um futuro”, fala Gabriel. “É isso que dizemos quando 4,8 milhões de pessoas assinam um abaixo-assinado em favor da Amazônia em tempo recorde”.
A proteção da Amazônia também foi abraçada pela estudante de Direito e moradora de Manaus (AM), Valéria Magalhães, de 20 anos, autora da maior campanha da história da Change.org em todo o mundo. A jovem juntou 5,3 milhões de apoiadores pelo fim do desmatamento na Amazônia.
“Aqui em Manaus, a gente acordou com o clima todo cinza, com fumaça das queimadas. E isso prejudica a respiração e a saúde das pessoas. Um dia desses andando na rua, eu vi um tamanduá atravessando, mas isso é comum aqui em Manaus em áreas isoladas, mais perto da mata, onde tem floresta por perto. Não é normal na zona urbana. A gente está vivendo um desequilíbrio ecológico muito grande e algo tem que ser feito urgentemente”, clama a jovem.
Greve Global pelo Clima
Diante da mobilização gigantesca em defesa do meio ambiente, assim como diversas outras organizações, a Change.org passou a apoiar a Greve Global pelo Clima, conforme explica Rafael Sampaio, diretor-executivo e de campanhas da organização no Brasil. “Temos visto um número crescente de campanhas pedindo ações contra o aquecimento global, contra o desmatamento e a destruição do meio ambiente, não só no Brasil, como em outros países. Esse é um tema que independe de posição política. Você pode gostar de um ou de outro candidato, mas o planeta que você vive é um só, é a sua casa. Por isso, a Change.org decidiu apoiar esta mobilização mundial”.
Junto com a Change.org, várias organizações integram o movimento #AllinforClimateAction, que reúne 88 petições, criadas em diversos países, relacionadas a causas ambientais. Uma delas foi criada pelo mato-grossense e ativista ambiental Kaime Silvestre, que também participará de atividades da Semana do Clima de Nova York. Aproveitando a realização da Cúpula de Ação Climática em Nova York, na próxima segunda-feira (23), a campanha de Kaime visa criar pressão para que o Brasil declare emergência climática e tome soluções práticas pela biodiversidade.
No Brasil, autores de outras mobilizações hospedadas na Change.org devem levar suas causas para as ruas durante a Greve Global pelo Clima desta sexta-feira. Uma delas é a ativista pelo meio ambiente e defensora dos animais Tamires Felipe Alcântara, 32 anos, que mora em Brasília (DF) e lidera uma petição contra o leilão de exploração de blocos de petróleo no entorno do Parque Nacional de Abrolhos, na Bahia, área com a mais rica biodiversidade do Atlântico Sul.
A mobilização criada por Tamires conseguiu até agora 775 mil apoiadores e será defendida por ela no protesto que será realizado em Brasília durante a Greve Global pelo Clima. “Eu acho que essas manifestações são muito importantes no sentido de mostrar que a população não está de acordo com esse desmonte ambiental. Funcionam como uma forma de pressão ao governo, às indústrias, e dão visibilidade à pauta ao redor do mundo”, opina a revisora de textos.
A campanha da ativista alerta para a tragédia ambiental que pode afetar o litoral baiano, o banco de corais do Parque Nacional de Abrolhos e a costa do Espírito Santo caso o leilão seja aprovado e, durante a exploração do petróleo, ocorra qualquer incidente com o derramamento de óleo.
Problemas locais causam impactos globais
Outra petição representativa da causa ambiental, criada na Change.org, é a Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, que reúne 582 mil apoiadores pela proteção do bioma considerado a “caixa d’água” do Brasil. O Cerrado tem quase 5% de todas espécies no mundo e 30% da biodiversidade do país e abriga oito das 12 regiões hidrográficas e três dos principais aquíferos do Brasil. Na região, vivem cerca de 25 milhões de pessoas de comunidades tradicionais.
Emmanuel Ponte, assessor de campanhas da ActionAid, uma das organizações apoiadoras da campanha, destaca que a situação é grave. “O avanço das queimadas sobre a Amazônia e o Cerrado e medidas como a liberação desenfreada de agrotóxicos não afeta apenas ao Brasil, mas impacta a qualidade do ar, os ciclos da água, quantidade de CO2 liberada, a fauna e a flora e a vida de povos indígenas e comunidades tradicionais. A urgência não é apenas em relação ao Brasil. É preciso que governos de todo o mundo assumam a responsabilidade e se comprometam com uma agenda de proteção do meio ambiente”, comenta sobre a emergência climática.
O assessor da ActionAid conta que a organização também vai participar de ações nesta sexta-feira, em 23 dos 45 países onde está presente. Para ele, essas campanhas “são formas de alertarmos as pessoas sobre as causas e efeitos da devastação do meio ambiente”. Emmanuel lembra que, embora algumas pessoas vivam longe das regiões mais atingidas, elas também terão sua vida, água e ar afetados. “Campanhas são fundamentais para mostrar que problemas locais possuem impactos globais”, destaca.