Áudios endossam tese de que ataque motivou ação da PM em baile funk
As informações contidas nos áudios não condizem com o relato dos moradores de Paraisópolis
Áudios de policiais militares envolvidos na ocorrência do baile funk ‘DZ7’, em Paraisópolis, zona sul, que terminou com a morte de nove jovens, endossam a tese de que um ataque motivou a ação. Os áudios são analisados pelas investigações que correm paralelamente na Polícia Civil e na Corregedoria da PM e foram divulgados, nesta quarta-feira, 18, pela TV Globo.
Em uma conversa por áudio entre os policiais e o Centro de Operações Policiais Militares (Copom), obtida pela TV Globo, confirma a versão da PM de que o 16º Batalhão perseguiu dois suspeitos numa motocicleta na madrugada de 1º de dezembro.
O diálogo começou às 3:41 daquela noite. “Copom, Herbert Spencer… Jogou pra cima da equipe aí”, disse um policial, usando o jargão policial para disparos contra o batalhão. “Herbert Spencer, viatura pra apoiar. 101 tá próximo, Copom”, responde a central. Em seguida, o PM da viatura diz: “105, Herbert Spencer com Ernest Renan”, referindo-se ao cruzamento onde acontecia o baile funk. Mais de cinco mil pessoas frequentavam a festa naquele 1º de dezembro.
Minutos após este primeiro diálogo, o PM descreve os suspeitos na moto. “Copom, dois invidíduos numa XT 660 preta. O garupa, armado, camisa branca. Efetuou vários disparos contra as equipes”, diz à central.
Passaram mais de 20 minutos sem que os policiais e a central se comunicassem. Neste período, moradores registraram imagens onde é possível ver frequentadores da festa fugindo pelas ruas. As testemunhas relatam que a PM realizou uma ação de dispersão do baile funk com o uso de bombas de efeito moral e balas de borracha, mas a polícia nega e diz que estava em meio a uma perseguição que terminou no baile funk, onde foi atacada pelos frequentadores que arremessaram paus, pedras e garrafas contra os agentes de segurança pública.
Frequentadores da DZ7 e moradores de Paraisópolis rechaçam a versão da polícia e mostram vídeos de PMs agredindo jovens, jogando bombas na rua e encurralando uma multidão em dois becos próximos ao baile funk.
Às 4:35, uma policial militar do batalhão aciona a central. “Copom, aciona o resgate na rua Ernest Renan com Adolf Lutz. Teve correria aí, pisoteamento, pode solicitar mais de um resgate aí para o local, QSL?”, ela diz. Minutos depois, a agente cobra da central viaturas de resgate e “médico regulador para fazer o socorro dos indivíduos, a situação é grave”.
Quase meia hora após o primeiro pedido de resgate, os policiais avisam o Copom que vão levar as vítimas para o hospital. “Vamos socorrer, QSL? Vários indivíduos aqui…”, diz o PM. A central então pergunta quantos indivíduos estão desacordados no local. O PM responde: “a princípio nove”.
As informações contidas nos áudios, mais uma vez, não condizem com o relato dos moradores de Paraisópolis, que afirmam terem sofrido ameaças por parte dos PMs para impedir o socorro às vítimas.
A informação do áudio, entretanto, não bate com os relatos feitos pelos moradores. Segundo eles, policiais teriam ameaçado moradores para impedir o socorro de vítimas. Um chamado feito por uma jovem ao Samu chegou a ser cancelado por um agente do Corpo de Bombeiros, sob a alegação de que a PM já teria feito o atendimento.