Bolsonaro nega Racismo, diz que é ‘daltônico’ e não cita João Alberto
"Nossos problemas são muito mais complexos e vão além de questões raciais", disse o presidente
No dia em que o Brasil se indignou com o assassinato de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, o homem negro espancado e asfixiado até a morte, em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS) por dois seguranças brancos, na véspera do Dia da Consciência Negra, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi ao Twitter negar o racismo no Brasil, dizer que é ‘daltônico e não citou o caso.

“Estamos longe de ser perfeitos. Temos, sim, os nossos problemas, problemas esses muito mais complexos e que vão além de questões raciais. O grande mal do país continua sendo a corrução moral, política e econômica. Os que negam este fato ajudam a perpetuá-lo.”, escreveu Bolsonaro.
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“Não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos. Problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado”, escreveu Bolsonaro.
– Não adianta dividir o sofrimento do povo brasileiro em grupos. Problemas como o da violência são vivenciados por todos, de todas as formas, seja um pai ou uma mãe que perde o filho, seja um caso de violência doméstica, seja um morador de uma área dominada pelo crime organizado.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 21, 2020
“Existem diversos interesses para que se criem tensões entre nosso próprio povo. Um povo unido é um povo soberano, um povo dividido é um povo vulnerável. Um povo vulnerável é mais fácil de ser controlado. E há quem se beneficie politicamente com a perda de nossa soberania”, afirmou Bolsonaro.
“Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos. Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença”, completou Bolsonaro.
– Não nos deixemos ser manipulados por grupos políticos. Como homem e como Presidente, sou daltônico: todos têm a mesma cor. Não existe uma cor de pele melhor do que as outras. Existem homens bons e homens maus. São nossas escolhas e valores que fazem a diferença.
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) November 21, 2020
Diferentemente do que aponta Bolsonaro, a realidade brasileira evidenciada nas pesquisas de instituições públicas e privadas do país é outra. Segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estátistica (IBGE), negros têm maiores dificuldades de acesso à moradia, 7 em cada 10 pessoas que moram em casas com inadequação são pretos ou pardos.
De acordo com estudo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), trabalhadores negros recebem salário 17% menor que o de brancos que têm a mesma origem social, em média.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020 aponta que oito a cada dez pessoas mortas pela polícia em 2019 eram negras.
Em nenhuma das mensagens, Bolsonaro cita esses dados ou menciona João Alberto.