Com medo de ser preso, Weintraub diz que prioridade é ‘sair do Brasil o quanto antes’

Ex-ministro da Educação é investigado em inquérito do STF que apura fake news contra membros da Corte

19/06/2020 11:48

Um dia após pedir demissão do ministério da Educação, Abraham Weintraub afirmou que viajará nos “próximos poucos dias” para Washington (EUA), onde deve assumir um cargo no Banco Mundial. A pressa se deve, segundo o ex-ministro, às ameaças de morte que estaria sofrendo e o temor por uma prisão.

“A prioridade total é que eu saia do Brasil o quanto antes”, afirmou em entrevista à CNN Brasil. “Agora é evitar que me prendam, cadeião e me matem”, acrescentou.

Ex-ministro da Educação Abraham Weintraub afirmou que viajará nos “próximos poucos dias” para Washington
Ex-ministro da Educação Abraham Weintraub afirmou que viajará nos “próximos poucos dias” para Washington - Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ex-ministro confirmou ainda que presidente Jair Bolsonaro escolheu o atual secretário-executivo do ministério, Antonio Paulo Vogel de Medeiros, para assumir o comando da pasta interinamente.

Mais cedo, Weintraub escreveu no Twitter que quer”ficar quieto” e pediu para o  deixarem em paz,

“Aviso à tigrada e aos gatos angorás (gov bem docinho). Estou saindo do Brasil o mais rápido possível (poucos dias). NÃO QUERO BRIGAR! Quero ficar quieto, me deixem em paz, porém, não me provoquem!”, escreveu.

A permanência de Abraham Weintraub no governo Bolsonaro ficou insustentável após a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril em que o ex-ministro diz que, por ele, botava “esses vagabundos” do Supremo Tribunal Federal na cadeia.

Assista ao vídeo do anúncio da saída:

Entenda o que levou à saída de Weintraub do MEC

Weintraub assumiu a chefia do Ministério da Educação (MEC) em abril de 2019, ficando no posto por um ano e dois meses. Ele ocupou o cargo de Ricardo Vélez Rodríguez e acumulou desafetos e disputas públicas com diversos grupos sociais – entre eles, a comunidade judaica e a representação da China no Brasil –, além de defender a prisão dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), em reunião ministerial do dia 22 de abril.

Nesta última polêmica, Weintraub chamou os ministros do STF de “vagabundos”. “A gente tá perdendo a luta pela liberdade. É isso que o povo tá gritando. Não tá gritando pra ter mais Estado, pra ter mais projetos, pra ter mais… o povo tá gritando por liberdade, ponto. Eu acho que é isso que a gente tá perdendo, tá perdendo mesmo. A ge… o povo tá querendo ver o que me trouxe até aqui. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”, declarou.

O vídeo da reunião foi divulgado em meio ao inquérito que apura a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal. O ministro do STF, Celso de Mello, relator da investigação, declarou que é possível analisar crime de injúria por parte de Weintraub. Em consequência, ele enviou ofício aos membros da Corte.

O ex-ministro da Educação foi citado em outro inquérito no Supremo por causa da declarações feitas na reunião ministerial: o que investiga esquemas de disseminação de fake news e ofensas a ministros do STF e demais autoridades.

Relator dessa investigação, o ministro Alexandre de Moraes determinou que Weintraub fosse ouvido sobre a fala. No entanto, quando uma equipe da PF foi à sede do MEC, ele usou o direito de ficar em silêncio, garantido pela Constituição.

O pedido do ministro da Justiça, André Mendonça, para que o então chefe da Educação fosse excluído desse inquérito foi rejeitado nesta quarta-feira, 17, em votação no plenário virtual do STF.

Em outro inquérito no STF, Weintraub é investigado por suposto crime de racismo cometido contra a população chinesa. O relator Celso de Mello intimou o então ministro a depor, mas ele apenas entregou uma manifestação por escrito.

Em abril, ele fez uma publicação e insinuou que a China poderia estar se beneficiando, de propósito, da crise causada pelo novo coronavírus. No post, que foi apagado logo depois, ele ridicularizou o sotaque com que alguns chineses falam português.