‘Como foi transar com uma vítima de estupro’ repercute nas redes
O texto foi criticado por tirar o lugar de fala das mulheres e romantizar uma situação de violência sexual
Nos últimos dias, viralizou nas redes sociais um relato de um homem que narra como se sentiu fazendo sexo com uma vítima de estupro (leia neste link). O texto recebeu muitas críticas na internet principalmente por tirar o lugar de fala das mulheres, além de expor e romantizar uma situação de violência sexual.
O abuso não é algo que acontece apenas com a exceção. Provavelmente, você conhece ou já conversou com mulheres que foram vítimas de estupro ou abuso em algum momento da vida. E pode ter certeza que não é nada fácil para elas viverem com esse trauma ou lerem um texto de um homem dissertando a respeito.
Fato é que a repercussão trouxe o assunto para o debate, seja entre homens ou mulheres. No país em que um terço das pessoas ainda acredita que a culpa do estupro é da vítima, é mais do que necessário refletir sobre o tema e parar, de uma vez por todas, de achar que a mulher “pediu” para ser violentada.
Foram muitas reflexões nas redes sociais depois do relato. “Narrativas sobre estupro são nossas. Homens não tem direito de falar e ganhar aplauso por serem aparentemente desconstruídos em relação a esse assunto. Quem estupra é a classe masculina e o cara que escreve sobre isso pra ~alertar~ outros homens hoje pode ter sido o estuprador de uma mulher ontem”, escreveu uma usuária.
Logo que o depoimento começou a ser compartilhado, surgiram outros textos impactantes sobre o tema. Relatos corajosos e reais de quem sofre diariamente as dores e consequências do abuso sexual.
No “De uma vítima de estupro sobre o texto ‘Como foi transar com uma vítima de estupro’‘”, a autora fala sobre o quanto é difícil para as mulheres retomarem a vida sexual após serem violentadas. “Não sei se por falta minha, mas nunca li um texto de uma mulher descrevendo a primeira vez que fez sexo depois de lidar com o impacto emocional de um estupro”, afirmou.
Confira alguns textos (escritos por mulheres) e a repercussão na internet:
- De uma vítima de estupro sobre o texto “Como foi transar com uma vítima de estupro”
- Como foi transar depois de ter sido estuprada
- Ressignificando o sexo após ter sido vítima de estupro
Estupro
A cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil. Os dados, divulgados pelo 9º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelam uma situação alarmante: são mais de 50 mil vítimas de violência sexual todos os anos no país. E esse número pode ser ainda maior, pois a pesquisa só leva em conta casos que foram registrados em boletins de ocorrência – apenas 35% do total.
Já uma pesquisa divulgada no dia 21 de setembro mostra que as mulheres não culpabilizadas pelo abuso que sofreram. De acordo com o instituto Datafolha, um em cada três brasileiros (33,3%) acredita que, em casos de estupro, a responsabilidade é da vítima.
O quadro ainda piora se levado em conta, especificamente, a opinião dos homens: 42% acreditam que mulheres que se dão ao respeito não são estupradas. Entre as mulheres, 32% concordam com a afirmação.