Crianças brancas pintadas de preto em evento de escola gera revolta

O Colégio Adventista de Gurupi postou foto em rede social e afirmou que alunos foram "caracterizados" para comemorações do Dia da Consciência Negra

Crianças brancas com o rosto e o corpo pintados de preto, em um evento do Dia da Consciência Negra, em uma escola de Gurupi, no sul do Tocantins, gerou revolta nas redes sociais.

Crianças brancas pintadas de preto em evento escolar gera revolta
Créditos: Reprodução @colegioadventistaguarupi
Crianças brancas pintadas de preto em evento escolar gera revolta

No post feito pelo Colégio Adventista de Gurupi uma criança branca aparece pintada com tinta preta e usando uma peruca simulando o cabelo black power. Na legenda a escola afirmava que o objetivo era caracterizar os estudantes.

“Dia 20 de novembro comemora-se o Dia Nacional da Consciência Negra. E hoje nossos alunos vieram caracterizados para comemorarmos este dia tão importante e para refletirmos o quanto Deus nos tornou irmãos e que perante Ele, somos todos iguais. Me conta aqui nos comentários se você gostou da caracterização dos nossos alunos”, disse a escola no Instagram.

Crianças brancas pintadas de preto em evento escolar gera revolta
Créditos: Reprodução/Instagram
Crianças brancas pintadas de preto em evento escolar gera revolta

A prática conhecida como blackface (veja sobre abaixo) foi criticada nos comentários da publicação e após diversas denúncias, o post foi apagado. Algumas horas depois, o Colégio Adventista publicou uma nota de esclarecimento e afirmou que não pintou e nem estimulou as crianças. Também disse que quis “valorizar a cultura negra e afrodescendente na escola e fora dela, assim como promover a reflexão e resgate da identidade negra” (confira a íntegra no final da matéria).

Os movimentos negros do Tocantins repudiaram a ação da escola.

O Coletivo Nacional de Juventude Negra – Enegrecer – afirmou que “é inconcebível uma escola que se propõe educar futuros cidadãos, se preste ao papel de expor e incitar crianças a discriminação ou preconceito de raça, cor”.

O Coletivo Negro de Gurupi disse que a estratégia pedagógica usada pela escola foi inadequada e que a população negra não quer ser ridicularizada pelo tom de pele, cabelo e outros traços. “Não vamos aceitar atitudes que há muito tempo provocam ridicularização e rebaixamento”.

Blackface

O blackface (do inglês, black, preto, e face, rosto) surgiu por volta de 1830, quando homens brancos se pintavam de preto de forma caricata para se apresentavam à aristocracia branca com o objetivo de satirizar a população negra.

Anos depois, a prática ganhou popularidade nos cinemas e televisão, como ferramenta de entretenimento cultural, ridicularizando ou negando papéis a artistas negros.

Nota emitida pela escola

A direção do Colégio Adventista de Gurupi esclarece que é contrário a todo e qualquer tipo de discriminação racial. O Colégio ressalta que o projeto pedagógico do Dia da Consciência Negra, realizado com as turmas do 4º e 5º ano, teve como objetivo valorizar a cultura negra e afrodescendente na escola e fora dela assim como promover a reflexão e resgate da identidade negra.
O Colégio incentivou os estudantes a celebrarem de forma livre esse importante dia com respeito e admiração pelas pessoas. Em nenhum momento, os estudantes foram pintados ou estimulados a pintarem o rosto.
O Colégio pede desculpas pela situação que se criou e se compromete a proporcionar mais momentos com discussão sobre o tema. Com isso, a ideia é contribuir para promoção de uma sociedade cada vez mais libre de preconceitos.