Entenda por que está faltando dipirona por todo país
Os secretários de saúde do país se mobilizam frente à falta de interesse da indústria farmacêutica com o medicamento básico para diversos tratamentos
A dipirona monoidratada de 500mg injetável, um dos remédios mais utilizados na rede de saúde, indicado para o tratamento de dor e febre, está faltando em todos os estados do país.
Segundo o secretário de Saúde do Estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, afirmou em entrevista à rádio Nova Brasil FM, a dipirona “teve a sua descontinuidade de produção por seus fabricantes e isso fez com que houvesse um desabastecimento. Dessa maneira, pegou todos os 27 estados absolutamente de surpresa”.
“Nós sabemos que alguns medicamentos, o problema é mundial relacionado a falta de insumos, mas isso é pontual a um ou outro produto. A maioria dos casos, a descontinuidade dos medicamentos ocorrem por desinteresse comercial das empresas, em que o lucro é mais baixo e elas dizem: ‘não vou produzir mais’. E esse é o problema, porque impacta na ponta, pessoas que acabam deixando de receber medicações de uso continuo e param o seu tratamento no meio”, ressaltou Gorinchteyn.
O problema foi comunicado ao Ministério da Saúde há mais de um mês pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e por entidades médicas. Mas a pasta federal não deu uma resposta.
Vale lembrar que os produtos farmacêuticos subiram 6,13% no mês de abril, segundo dados do IBGE.
No caso da dipirona, a principal empresa farmacêutica que produz o remédio no país e é responsável por quase 60% da produção no Brasil, anunciou uma pausa nas operações por “questões de mercado” e parou de distribuir o remédio para as redes pública e privada.
Em São Paulo, desde o mês passado, o Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios, representante da rede privada, relata a falta de medicamentos, especialmente de dipirona, mas também ocitocina, neostigmina, aminoglicosídeos e imunoglobulina.
No ofício enviado para ao Ministério da Saúde pelo Conasems mostra um levantamento feito com cinco laboratórios brasileiros fabricantes da dipirona. Em três, houve a parada da produção. Outros dois estavam com alta demanda.
Apenas uma fabricante de dipirona injetável relatou a suspensão temporária da fabricação para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em decorrência “do alto custo e baixo valor agregado para venda”.
“Vimos perante V. Sa. solicitar ações urgentes deste Ministério da Saúde para intensificação da regulação do mercado e uma articulação forte com o setor farmacêutico para que possamos ter acesso garantido e a oferta regular e sustentada destes tratamentos”, disse o Conasems, no ofício.
Nelson Mussolini, presidente-executivo do sindicato que reúne a indústria farmacêutica (Sindusfarma), disse que a produção da dipirona injetável está inviável para a indústria em razão da diminuição da margem de lucro por causa da alta dos insumos, que são 100% importados.
“Houve uma grande demanda pelo medicamento na pandemia e o preço dos insumos aumentou muito, além do frete e da ampola. A gente até pensou que o frete diminuiria com o controle da pandemia, mas não ocorreu”, destacou.
Um em cada quatro hospitais privados de São Paulo (25,2%) aponta falta de medicamentos ou dificuldade para compra como o principal problema enfrentado atualmente, mostra uma pesquisa do Sindicato dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do estado de São Paulo (SindHosp).
De acordo com o levantamento realizado no período de 29 de abril a 12 de maio, que ouviu 76 hospitais privados no estado de São Paulo e são responsáveis por 1.518 leitos de UTI e 5.725 leitos clínicos, os medicamentos que mais apresentam dificuldade de acesso, diz o estudo, são: Dipirona (em falta em 25% dos centros de saúde), Dramin B6 (18%) e Neostigmina (17%). Também há alta falta de soro em muitos hospitais (9,5%).
O Ministério da Saúde afirmou que “trabalha sem medir esforços, juntamente com a Anvisa, para verificar as causas e articular ações emergenciais para mitigar o desabastecimento dos medicamentos citados”. Porém até o momento nenhuma medida para solucionar o problema foi tomada.