Ex-repórter da Globo relaciona demissão a racismo

Desligamento de Adalberto Neto do grupo tem dado o que falar nas redes sociais

Adalberto Neto foi demitido do grupo Globo e seu desligamento da emissora causou repercussão instantânea nas redes sociais. Isso porque o afastamento do jornalista de suas funções aconteceu após imagens gravadas por ele mostrando parte da equipe de plantão comemorando a conquista da Libertadores pelo Flamengo viralizarem. Agora, o profissional sugeriu que sua demissão possa ter sido causada por racismo.

Adalberto Neto teve demissão relacionada à postagem sobre vitória do Flamengo
Créditos: Reprodução/Instagram
Adalberto Neto teve demissão relacionada à postagem sobre vitória do Flamengo

Por meio de seu Instagram, Adalberto escreveu uma carta alegando que não sabe, de fato, se sua demissão teve algo a ver com os vídeos publicados.

“Realmente, não foi informado o motivo da minha demissão. Meu editor apenas disse que foi um pedido da direção pelo ‘conjunto da obra’, mas ele não soube responder – ou não podia – me informar a respeito”, iniciou.

Além disso, Neto acha muito curioso que só ele tenha sido desligado da empresa, sem advertência prévia, e apontou a questão racial – por ser negro – como razão para demissão: “Para quem tem o mínimo de letramento racial, é impossível não racializar essa minha demissão”, completou ele, dizendo que apesar disso não culpa a empresa: “A culpa não é nossa. Vem lá de trás. Da colonização”.

William Bonner sai em defesa de Cacau Protásio após caso de racismo

“Um país, uma empresa […] são feitos por pessoas. E se as pessoas não conseguem ter um olhar amplo sobre tudo, suas ações, de modo geral, nunca vão ser eficientes e, em alguns casos, bastante injustas, carregadas de conceitos e preconceitos, que nem pensamos na hora, porque fazem parte da estrutura sobre a qual a nossa sociedade se formou. É automático também”, disse.

Adalberto ainda deixou claro que seu pronunciamento não tem o intuito de difamar o jornal ou alguém em específico.

De acordo com o colunista Léo Dias, a assessoria de imprensa do jornal O Globo informou que não comentará o desligamento do repórter.

View this post on Instagram

MEU PRONUNCIAMENTO: Já que o assunto está tomando uma dimensão assustadora, decidi me pronunciar. A mim, realmente, não foi informado o motivo da minha demissão. Meu editor apenas disse que foi um pedido da direção pelo “conjunto da obra”. Cheguei a perguntar de que “obra” se referia, mas ele não soube responder (ou não podia). Enfim, durante os abraços de despedida nos colegas, quase todos me afirmavam que a “obra” consistia em alguns Stories durante a vitória do Flamengo sobre o River Plate por 2 a 1 na final da Libertadores. Só para contextualizar, já que vi em alguns perfis uma galera me chamando de X9, desde a hora que eu saí de casa para trabalhar, eu comecei a gravar, dizendo que, apesar de ser Vasco, naquele dia eu era Flamengo, porque o time representava o Brasil no campeonato internacional. Sei que pode parecer estranho, vindo de um vascaíno, mas eu sinceramente encarei aquilo como uma final de Copa do Mundo e mostrei, em inúmeros momentos do meu dia a expectativa pelo jogo. Aqui, no Brasil, se pararmos para pensar, não temos muitos motivos para comemorações. Alta do dólar, da carne, do gás, do tempo de trabalho… Deixa eu celebrar o Flamengo e idolatrar o Gabigol também, pô! Na redação, durante a partida, não foi diferente. Aliás, como lá era o lugar em que passava a maior parte do meu dia, sempre foi cenário dos meus vídeos diários. Eram muitos. E nunca reclamaram comigo. Pelo contrário, um monte de gente de lá me segue e me acompanha frequentemente. Mostrei nos meus Stories meu otimismo, pessimismo, apreensão, raiva, felicidade, euforia e otimismo de novo durante o jogo. Acho que todo mundo que torcia pelo Flamengo passou por isso. Inclusive o Márvio dos Anjos, editor de Esportes, que é um cara que eu adoro e, só a título de curiosidade, faz parte de um grupo de WhatsApp comigo, o Troncal de Carnaval, em que sugerimos as boas do carnaval durante o período da folia e, nos outros meses do ano, enviamos memes, figurinhas e falamos de assuntos que vão de A a Z. Fecha parênteses. *** Continua nos comentários ***

A post shared by Adalberto Neto (@oadalbertoneto) on

Racismo: saiba como denunciar

Racismo é crime previsto pela Lei 7.716/89 e deve sempre ser denunciado, mas muitas vezes não sabemos o que fazer diante de uma situação como essa, nem como denunciar, e o caso acaba passando batido.

Para começar, é preciso entender que a legislação define como crime a discriminação pela raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, prevendo punição de 1 a 5 anos de prisão e multa aos infratores.

A denúncia pode ser feita tanto pela internet, quanto em delegacias comuns e nas que prestam serviços direcionados a crimes raciais, como as Delegacias de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), que funcionam em São Paulo e no Rio de Janeiro.

No Brasil, há uma diferença quando o racismo é direcionado a uma pessoa e quando é contra um grupo.

Veja as informações completas abaixo: