‘Não me importo se as pessoas sabem ou não’, diz jovem sobre ser gay assumido e cristão
Henrique Moysés, 19 anos, fez parte da campanha #SomosMaisJuntos, iniciativa que apresenta os grupos do Facebook como uma importante rede de apoio LGBTQIA+
“Eu sou da igreja até hoje, mesmo gay, continuo indo. Não me importo se as pessoas sabem ou não”, diz o jovem modelo e estudante de violino Henrique Moysés, de 19 anos, sobre ser um jovem gay assumido e cristão.
“Uma coisa que essas pessoas precisam entender é que igreja é amor e na Bíblia diz para amar o próximo como a ti mesmo. Então, não vou deixar a minha fé de lado por conta da minha orientação sexual”, afirma.
Morador de Cidade Dutra, na zona sul de São Paulo, a quase 25 km do centro da cidade, Henrique frequenta uma igreja conhecida por ser rígida e bem tradicional.
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“É muito complicado porque muitas pessoas vão te julgar, repreender, é preciso ser forte. Já passei por isso, mas não ligo. O negócio é entre mim e Deus, não entre mim e as pessoas da igreja. Me sinto bem naquele espaço, onde posso adorar e exercer a minha fé”.
O orgulho de ser quem você é, sobretudo quando se é jovem, é um processo – e muitas vezes doloroso. Nesses casos, grupos de apoio em redes sociais são aliados. No Facebook, por exemplo, há diversos deles. Henrique faz parte de grupos como o Filhos do Arco-Íris – Grupo de Apoio aos LGBT+, Cartazes & Tirinhas LGBT e LGBTQIA+ Brasil.
São ambientes em que é possível encontrar pessoas que passaram ou estão passando pelos mesmos dilemas. “Gosto de ver as postagens e as histórias das pessoas que contam como foi sair do armário. Quando vejo relatos que me identifico, vou lá e comento. Gosto de entrar nesses grupos, acompanhar os temas e dar apoio a quem precisa”, comenta.
#SomosMaisJuntos
É justamente esse o propósito da campanha “Somos Mais Juntos”, que reúne histórias reais e inspiradoras de pessoas que fazem parte dos Grupos do Facebook.
Ali, usuários se sentem encorajados para se assumirem, com diálogo e empoderamento. A iniciativa surge por conta da urgência em visibilizar temas de inclusão social, como desigualdade de gênero, racismo e LGBTQIA+fobia e abordar esses assuntos de forma produtiva e empática.
A icônica e inconfundível música “I’m Coming Out”, na voz de Diana Ross, destaca o vídeo da campanha, veiculada na TV e em diversas plataformas. Nas cenas, vemos pessoas livres, corpos em movimento, expondo sua sexualidade com orgulho para além das redes.
Um dos participantes do filme é Henrique Moysés. Segundo ele, “foi tudo muito espontâneo”. “Fui para o set de gravação, me soltei, comecei a dançar, coloquei a minha essência para fora”, diz ele com um sorrisão no rosto. “Nunca passou pela minha cabeça que eu poderia participar de algo assim. É uma sensação única!”
Saindo do armário para os pais
Por conta de seu jeito afeminado em toda a adolescência, Henrique conta que sofria agressões verbais constantemente na escola em que estudava no ensino fundamental. “Tinha uns meninos que todos os dias me perturbavam. ‘Seu bichinha, seu viadinho’, me falavam. Diziam que o meu banheiro era o das meninas. Eu chorava e vivia na diretoria”, desabafa.
O que era ainda pior, segundo ele, era o fato de ter de guardar toda a angústia para si. “Era péssimo porque eu guardava isso para mim. Eu não contava para os meus pais”.
O momento de sair do armário para os pais foi este ano. “Sentei com a minha mãe e quando comecei a conversar com ela parecia que tinha algo prendendo a minha garganta que não deixava eu dizer: ‘mãe, eu sou gay!’. Parecia que tinha um cadeado bloqueando a minha fala.” Foi quando ele sentiu um ímpeto momentâneo e soltou o que gostaria.
Infelizmente, são comuns as histórias de pessoas LGBTGIA+ que contam sobre sua sexualidade ou gênero para a família e a reação é violenta. Henrique tinha esse medo. Os pais do estudante são evangélicos e, de acordo com ele, sua mãe ficou em choque na hora.
Depois, os ânimos se apaziguaram e ele pôde ouvir dela: “Eu quero que você saiba que eu te amo, independente de tudo. Você é meu filho, sempre será meu filho”. Ele conta emocionado.
Já a conversa com seu pai foi um tanto conflituosa. “Ele chegou a envolver a Bíblia. Aquilo me incomodou bastante. E ele pediu para que minha irmã orasse por mim, para que Deus ‘tirasse essa coisa’ de dentro de mim. Parecia que eu era um brinquedo quebrado que precisava de conserto”, relata. Apesar disso, ele diz que seus pais o respeitam, sabem que ele usa maquiagem, por exemplo, e não o impedem de nada.
Paixão pela música e violino
A música, a dança e a arte fazem parte da vida de Henrique há muito tempo. Ele estuda canto e violino no CEU (Centro Educacional Unificado) Cidade Dutra, no programa Guri Santa Marcelina, que oferece educação musical de forma gratuita.
Seu primeiro violino, aos 17 anos, foi um presente inesperado de uma tia. “Eu não sabia. Quando ela tirou da sacola o estojo do instrumento, eu já estava em choque. Foi uma emoção! É um instrumento clássico, muito delicado, e ele não é barato. Meus pais ficaram felizes também porque eles não estavam em condições de me dar esse violino”, conta.
“O violino tem lá suas dificuldades. Quando a gente aperta as cordas para sair a nota, nossos dedos começam a doer. Mas para quem quer realizar o sonho de ser um grande violonista, toda essa dor que a gente sente, todo esse esforço, vai valer a pena lá na frente”, avalia, perseverante.
A campanha #SomosMaisJuntos destaca o importante papel dos Grupos do Facebook em se tornarem um local de conversa que funciona como uma rede de apoio e respeito a LGBTQIA+ e seus familiares.
Entre os grupos que ganharam destaque na campanha, estão: Mães pela Igualdade, Afrodengo LGBTT+, Gaymers Br e Filhos do Arco-Íris – Grupo de Apoio aos LGBT+.
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