“Intempéries – O Fim do Tempo” em exposição na OCA

A arte que expressa o estranhamento do homem diante das transformações climáticas que assolam o mundo é palco de Intempéries – O Fim do Tempo. A mostra reúne obras de 29 artistas, de 16 nacionalidades distintas, apresentadas em grandes projeções de vídeos e fotografias. Com coordenação de Marcello Dantas, curadoria internacional de Alfons Hug e nacional de Alberto Saraiva, a exposição está estruturada a partir dos quatro elementos – fogo, água, ar e terra – que dividem os 7 mil metros quadrados da mostra nos quatro andares da Oca.

“Antigamente, o tempo era simplesmente tempo. Era como uma segunda pele para as pessoas, e, apesar de suas ocasionais inclemências, fazia com que nos sentíssemos parte de algo maior na natureza. Mas, agora, o tempo chegou ao fim e transformou-se em clima, uma entidade física, anônima e amedrontadora que, a qualquer momento, é capaz de deflagrar uma catástrofe”, explica Alfons Hug.

Com as mudanças climáticas que veem ocorrendo nos últimos anos e a transformação do tempo em clima, o que era de todos passou a dizer respeito apenas a especialistas.  Entretanto, afirma o curador, as qualidades metafísicas e simbólicas do tempo não podem ser apreendidas em gráficos e levantamentos estatísticos. “As mudanças climáticas, sejam elas causadas pelo homem ou pela natureza, sempre veem acompanhadas de mudanças culturais: muda a atitude que temos em relação a nós mesmos e ao próximo; o corpo e os sentidos são expostos a novas experiências”, diz o curador.

Hug ressalta ainda que os fenômenos climáticos, cada vez mais midiatizados, precisam ser novamente “culturalizados” e, dessa forma, um tratamento artístico do tempo e da paisagem, como proposto nesta exposição, poderá eventualmente contribuir mais para a preservação de ambos do que um procedimento meramente científico. Ele acredita também na capacidade da massa crítica da arte ativar processos de conscientização no público.

Os artistas brasileiros Tina Velho, Zalinda Cartaxo, Marcos Abreu, Vicente de Mello e Paulo Climachauska fazem, segundo Alberto Saraiva, uma referência clara à Antártida, com a cor branca, considerada uma não-cor pelos impressionistas, mas que, nos olhos de Kandinsky, é um “muro intransponível, indestrutível, que se dirige ao infinito”, e um silêncio, que de repente pode ser entendido.

Do Equador ao Pólo Sul, os artistas encontraram a intempérie. Alguns trabalhos lidam com a luz, vinda dos ciclos do Sol, outros com o tempo congelado e o branco vazio das terras gélidas da Antártida. George Osodi realizou uma pesquisa das condições apocalípticas na produção de petróleo no delta do Níger e Diana Lebensohn  das ruínas das metrópoles modernas. Já Guido van der Werve mostra como um navio quebra-gelo persegue um andarilho solitário no congelado Golfo da Finlândia, enquanto Thiago Rocha Pitta é testemunha de um naufrágio.

Yang Shaobin reconheceu as minas de carvão no norte da China e visitou os hospitais nos quais são tratados os pulmões dos mineiros. Andrej Zdravic testemunhou uma erupção vulcânica no Hawaii e Laura Vinci as cataratas de Iguaçu.

Alexander Nikolaev e Simon Faithfull adentraram no território da cordilheira do Hindukush e encontraram na Antártica inóspitos desertos de gelo. Ann Veronica Janssens registrou um eclipse de sol na Europa e Caio Reisewitz visitou a igreja ortodoxa na base russa Bellingshausen, na Antártida. Eugenio Ampudia e Reynold Reynolds, em seus trabalhos, veem o mundo sucumbir num mar de chamas.

Michael Sailstorfer, por sua vez, incendeia uma choupana de madeira, até que no fim somente sobra a estufa incandescente. “Parece remeter ao poema de Lord Byron A Escuridão, onde os homens põem fogo em casas, somente para verem luz”, analisa o curador.

As informações são da organização do evento.

Por Redação