Mandetta a Bolsonaro: ‘estamos preparados para ver caminhões com mortos?’

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, o presidente teria ameaçado demitir o ministro da Saúde em reunião

29/03/2020 11:41

Em reunião com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) neste sábado, 28, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, apresentou possíveis cenários para o Brasil durante a pandemia do novo coronavírus. Em um deles, segundo o jornal O Estado de S. Paulo, Mandetta questionou: “estamos preparados para ver caminhões do Exército transportando mortos pelas ruas? Com transmissão ao vivo pela internet?”.

Durante a reunião, o ministro também alertou Bolsonaro de que a covid-19 não se trata de uma “gripezinha”, e traçou um paralelo comparativo: a morte de mil pessoas no país é equivalente à queda de quatro aviões comerciais de grande porte. Segundo dados divulgados neste sábado, 28, pelo ministério da Saúde, o Brasil já teve 114 mortes em decorrência do novo coronavírus.

Presidente da República, Jair Bolsonaro e o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta
Presidente da República, Jair Bolsonaro e o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta - Isac Nóbrega / PR

Segundo o Estadão, o ministro pediu a Bolsonaro que crie “um ambiente favorável” para um pacto entre governo federal, estados, municípios e setor privado, em busca de uma ação conjunta contra o coronavírus. O pedido teria como objetivo unificar regras e medidas, colocando critérios científicos sempre como prioridade no controle do contágio.

Mandetta teria sugerido ainda a criação de uma central de pessoal e equipamento para possibilitar o remanejamento rápido de leitos, respiradores, médicos e enfermeiros entre estados. Além disso, pediu para que Bolsonaro não menospreze a gravidade da situação em manifestações públicas, admitindo a possibilidade de criticá-lo na resposta. O presidente, segundo o jornal, rebateu e falou que iria demitir o ministro nesse caso.

O Estadão ainda afirmou que Mandetta não irá pedir demissão em meio à crise, mas admitiu deixar o ministério ao fim da pandemia se for o caso.