Números mostram interiorização acelerada do novo coronavírus em SP
Vírus chega ao interior paulista e acende alerta para enfrentamento da covid-19 em todo o estado
Na última quinta-feira, 21, o ministro da Saúde interino, Eduardo Pazuello, em coletiva à imprensa, admitiu que a interiorização do contágio do novo coronavírus no Brasil é uma questão inevitável.
Os números mais recentes sobre a doença confirmam a avaliação do governo federal. Sobretudo no estado de São Paulo, onde os registros de covid-19 crescem de forma acelerada e atinge novas regiões.
Dados da Secretaria Estadual de Saúde mostram que, entre 30 de abril e 18 de maio, o percentual de casos confirmados e mortes por covid-19, em todas as 15 regiões administrativas do estado, superou o índice registrado na Grande São Paulo _ até então epicentro da doença no país. Nesta segunda-feira, 25, 8 a cada 10 cidades tinham casos confirmados.
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Abril: vírus se espalha 4 vezes mais rápido no interior
Se em meio ao avanço da doença, em abril, a região metropolitana de São Paulo saltava de 2.793 casos para 24.309, em um aumento de 770% do número de casos, no interior o quadro de contágio atingia proporção ainda mais alarmante.
Até o início de abril, as 606 cidades fora da Grande São Paulo somavam 129 casos confirmados e fecharam aquele mês com 4.389 infectados, com alta de 3.302% no mês. Proporcionalmente, quatro vezes mais rápido do que nas cidades no entorno da capital. Confira na animação abaixo, da Lagom Data:
Maio: covid-19 muito mais forte em outras regiões
Levantamento realizado pela Secretaria de Estado da Saúde, com apoio do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo, mostra que em maio a aceleração do vírus no interior ganhou ainda mais força.
Enquanto a Grande São Paulo registrou aumento de 108% no período de 30 de abril a 18 de maio, nas demais regiões a taxa de casos foi, proporcionalmente, muito maior: Presidente Prudente (379%), São José do Rio Preto (309%), Ribeirão Preto (234%), Sorocaba (227%), Bauru (210%), Franca (197%), Vale do Ribeira (185%), Barretos (184%), São José dos Campos (178%), Marília (173%), Campinas (170%), Itapeva (167%), Araraquara (167%), Baixada Santista (156%) e Araçatuba (138%).
Aumento de mortes em seis regiões
Também entre 30 de abril e 18 de maio, o ritmo do número de mortes provocadas pelo novo coronavírus em seis regiões administrativas do interior e litoral foi proporcionalmente maior que o da Grande São Paulo, que registrou 104% de elevação nos óbitos.
Os índices foram maiores em Barretos (267%), Araçatuba (260%), São José do Rio Preto (167%), Itapeva (150%), Baixada Santista (121%) e Bauru (107%).
Menos óbitos
As regiões com aumentos de mortes por covid-19 em ritmo menor que o da Grande São Paulo foram Campinas (90%), São José dos Campos (84%), Presidente Prudente (80%), Sorocaba (80%), Marília (71%), Franca (67%), Ribeirão Preto (55%), Araraquara (33%) e Vale do Ribeira (33%).
Isolamento e taxa de ocupação dos hospitais
Desde que a quarentena foi decretada, em 24 de março, em todo o estado de São Paulo, o índice de isolamento social oscila na medida do acirramento de ânimos entre o governador João Doria e o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo levantamento feito pelo Sistema de Monitoramento Inteligente Central de inteligência, a atual taxa de isolamento na capital paulista é de 51%. A medição foi feita na última terça-feira, 26, em meio à tentativa conjunta de prefeitura e governo estadual de estimular a quarentena com o adiantamento de três feriados. A adesão ideal para controlar a disseminação da covid-19 é de 70%.
Ocupação dos leitos
Dados divulgados pela Secretaria Estadual da Saúde mostram a realidade dos hospitais no estado. Na região metropolitana, os últimos números alertam para o alto índice de internações_em enfermarias (77, 1%) e UTIs (86,7%). No interior e no litoral a capacidade dos leitos é acompanhada com atenção, mediante a ocupação de 73,3% dos quartos de UTIs e 56,6% nas enfermarias.
O governador João Doria anunciou nesta quarta-feira, 27, um plano de “retomada consciente”, em que as medidas de isolamento social vão depender dos aspectos particulares de cada região do estado. Confira os detalhes do Plano São Paulo.
Especialista indica subnotificação
Para o jornalista Marcelo Soares, idealizador da plataforma de monitoramento de dados Lagom Data e que tem feito um monitoramento da covid-19 atualizado diariamente com informações das Secretarias de Saúde, números colhidos pelas autoridades estaduais são pouco explicativos, sobretudo pela pouca capacidade de detalhamento da situação. “Vários estados brasileiros são do tamanho de países inteiros, tanto na extensão quanto na população. Há muita desigualdade também entre os municípios. Então, passei a cruzar os dados do coronavírus com outros dados municipais: porte do município, PIB per capita, IDH, papel (capital, interior, metropolitano), se fica na Amazônia, se fica no litoral etc. Com isso, venho observando como a doença avança em algumas regiões importantes. Esses dados também me indicam onde pode estar havendo subnotificação.”
Riscos da interiorização
Ao falar sobre o processo de interiorização da epidemia, Soares chama atenção para os riscos que isso implica, lembrando que é, justamente o interior do país em que historicamente há menos infraestrutura de saúde e saneamento básico. “Cada vez mais, cidades pequenas do interior têm registrado casos de coronavírus. Se a prevalência das doenças nas capitais já era preocupante, porque pode sobrecarregar o sistema de saúde, imagine o perigo que se corre quando a doença chega ao interior, onde historicamente há menor infraestrutura de saúde e saneamento. No Amazonas, onde a situação é talvez a mais triste do país, só a capital tem leitos de UTI. No interior ribeirinho, água tratada para lavar as mãos é praticamente só um desejo. E aqui estou falando de cidades pequenas e pobres – nem sequer estou falando das aldeias indígenas”, afirma.