Obra que dividia zona norte e “escondia” arte urbana dá lugar a diálogo sobre revitalização
A queda do Muro de Santana
Em abril de 2011, 11 grafiteiros foram presos por estar pintando as colunas que sustentam a linha 1-Azul do Metrô na Avenida Cruzeiro do Sul, Zona Norte de São Paulo. A partir desse momento, começou a se concretizar o projeto no qual esse grupo, com apoio da Secretaria de Estado de Cultura, criaria o Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU).
Como resultado, em seis meses foram 68 painéis pintados por 58 artistas brasileiros e estrangeiros. As obras ficaram expostas às pessoas que passassem por ali a pé ou de carro até que, no dia 4 de setembro deste ano, os moradores foram surpreendidos com a instalação de muretas e grades de aproximadamente dois metros de altura no trecho da avenida que vai da estação Carandiru até a Portuguesa-Tietê.
Reintegração
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Artistas, incentivadores do MAAU e moradores apóiam o desenvolvimento de projetos alternativos para a região, que sejam focados na reintegração do local à vida da comunidade. Uma das ideias é a criação de um “Parque Linear integrado com o Parque da Juventude e com a Biblioteca São Paulo”, como explica Baixo Ribeiro, curador da Choque Cultural.
“Temos uma excelente referência para o projeto que é a bem-sucedida revitalização verde da Avenida Brás Leme, com ciclovia, áreas gramadas e de passeio”, explica Baixo. A proposta ainda inclui a pintura periódica de novos painéis, ações educativas e o tombamento do Museu.
“Mas, para que isso aconteça, artistas, moradores, Secretaria de Estado da Cultura, Subprefeitura, Metrô e CET precisam conversar e chegar num acordo”, ele conta. “As obras foram paralisadas, o que mostra que o projeto não foi bem aceito pela comunidade e teve uma má repercussão”, conclui.
Por enquanto, essas entidades têm se reunido para dialogar a respeito do futuro das obras. Em um encontro realizado no dia 10, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, por meio de sua técnica Helena Magozo, informou que já iniciou um diálogo com o Metrô, e que vai acompanhar a avaliação de propostas junto com a subprefeitura.
Polêmica
A obra, que pretende gradear 750 metros, tinha como pretexto a revitalização da região e a “segurança” das dependências do Metrô, usualmente habitadas por moradores de rua. Ela é responsabilidade da Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) Energia Vital, que assinou um termo de cooperação com a Subprefeitura de Santana/Tucuruvi e com o Metrô para a instalação do gradil. Tanto a companhia quanto a subprefeitura, contudo, negavam ser responsáveis pelo local.
Em meio a reclamações de artistas e moradores, a Prefeitura determinou, no Diário Oficial do dia 6 de outubro, que as obras deveriam ser paralisadas até que o Metrô comprovasse ser proprietário do espaço. Em nota, a empresa disse que, na região, “não foram identificadas áreas de propriedade da companhia”.
“O próprio Metrô e o Governo do Estado perceberam que a obra não fazia muito sentido, que os moradores dão valor ao trabalho que a gente já vêm fazendo ali”, conta o artista Chivitz, idealizador e curador do MAAU. “Um dos pretextos da instalação das grades foi uma suposta demanda dos moradores, o que não pode ser comprovado, tendo em vista o próprio abaixo-assinado que eles fizeram”, explica.