Petição pressiona governo por testes em massa para controlar crise
Entre os países mais afetados pela pandemia, o Brasil, entretanto, é o que menos testa a população
Isolamento social e testes em massa. Segundo especialistas, essas são, por enquanto, as duas principais armas disponíveis para combater a aceleração dos casos e mortes provocados pelo novo coronavírus. Entre os países mais afetados pela pandemia, o Brasil, entretanto, é o que menos testa a população. Preocupada com essa realidade, Kátia Maria de Albuquerque van der Linden lançou uma petição para pressionar o governo a mudar isso.
Moradora de Recife, capital de um dos estados que mais vêm sofrendo com o avanço da pandemia, Kátia criou um abaixo-assinado na plataforma Change.org pedindo que a população brasileira seja testada em massa. A petição, aberta há um mês e uma semana, já reuniu 70 mil apoiadores, que também entendem a importância da realização dos testes. Os dados não são claros, mas estima-se que o Brasil faça 296 exames por milhão de habitantes.
“No período em que escrevi o abaixo-assinado, víamos o sucesso do controle da pandemia na Coreia, tendo como principal fator os testes em massa. De imediato, achei importante pressionarmos as autoridades que nos representam a cumprirem seu dever com a população”, comenta a autora da petição. De acordo com dados divulgados, a Coreia do Sul tem uma taxa de 11.221 testes por milhão de habitantes – 38 vezes mais de que o Brasil.
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Especialistas da área da saúde e ciência explicam que a testagem é fundamental para que os governos saibam a proporção que a pandemia está tomando e possam direcionar corretamente suas ações e orientações sobre prorrogação ou flexibilização da quarentena, por exemplo. “É de extrema importância que este acompanhamento seja claro e verdadeiro”, pondera Kátia, ressaltando também que há subnotificação nos dados de infectados e mortos.
Estudos de pesquisadores de universidades brasileiras e estrangeiras indicam que o número de mortos pela covid-19 no Brasil pode ser até nove vezes maior que o dado oficial, isso porque nem todas as pessoas que falecem por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) são testadas. Cenas do sistema público de saúde entrando em colapso em algumas regiões, bem como covas sendo abertas em cemitérios, comprovam alguma subnotificação.
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“Teste, teste, teste”
Em pronunciamento, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, definiu a realização de teste em larga escala para os casos suspeitos da doença como a melhor alternativa contra a disseminação do vírus. “Não se consegue combater um incêndio com os olhos vendados. Você não consegue parar essa pandemia se não souber quem está infectado”, afirmou, pedindo em seguida: “Teste, teste, teste”.
Além da testagem ser importante para rastrear e acompanhar de maneira fidedigna a evolução da curva da pandemia, orientando a tomada de decisão das autoridades de saúde, ela permite identificar quem porta o vírus. Desta maneira, os infectados poderiam ser devidamente isolados, interrompendo, portanto, a cadeia de transmissão da doença.
No Brasil, porém, são comuns os casos de pacientes que procuram atendimento médico com sintomas característicos da covid-19 e voltam para casa sem diagnóstico, por falta de exames. “Muitas famílias estão enterrando seus entes queridos sem um diagnóstico exato, o que torna esse momento ainda mais doloroso”, diz trecho da petição aberta por Kátia.
A autora do abaixo-assinado indigna-se, ainda, com a maneira que Jair Bolsonaro tem conduzido a crise. “Acho muito preocupante, além da falta de interesse em fazer os testes como uma das principais ações para a prevenção, o atual presidente tem sido extremamente irresponsável quando estimula as pessoas a não obedecerem o isolamento social”, afirma. Ela conta que tem parentes que se expõem ao risco por influência desse “descaso com a doença”.
Apesar do medo e preocupação, Kátia não tem registros de infectados na família e diz que em sua casa todos seguem as medidas recomendadas. Ela se angustia ainda com as populações mais pobres, que sequer possuem saneamento básico para cuidar da higiene. “A população mais vulnerável está desprotegida e lançada à própria sorte ou azar. Considero este presidente responsável pelo agravamento da situação da pandemia no Brasil”, pontua.
O desafio para testar
Um dos desafios para aumentar a capacidade de examinar a população é o acesso a testes e insumos, que não são produzidos no país. Sendo assim, o Brasil precisa “disputar” a importação no momento em que praticamente todo o mundo está em busca dos mesmos recursos. Em notícia publicada no portal do Ministério da Saúde, o ministro Nelson Teich disse que o governo federal “abriu diversas iniciativas, da compra de equipamentos e testes a elaboração de diretrizes, dentro de um cenário de crise e escassez de insumos mundiais”.
Em comunicado anterior, a pasta informou que “até 20 de abril, foram realizados 189.080 exames do painel viral (vírus respiratórios diversos) para investigação de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), em que se busca identificar a covid-19, as influenzas, vírus sincicial e outros vírus respiratórios. Destes, 132.467 foram específicos para covid-19”.
O Ministério anunciou a aquisição de 10 milhões de testes via Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Segundo o órgão, no último dia 22 chegou o primeiro lote com 500 mil testes RT-PCR (biologia molecular). “O restante dos testes chegará de forma escalonada, sendo cerca de 500 mil por semana”, completa a nota divulgada pela pasta.
Na última terça-feira (28), o governo federal anunciou que, com o objetivo de ampliar a rede de testagem e reduzir a demanda por serviços públicos de saúde, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou farmácias e drogarias a fazerem testes rápidos para detectar o novo coronavírus. O órgão esclareceu, entretanto, que esses exames não têm finalidade confirmatória, servindo apenas para auxiliar no diagnóstico da covid-19.
Movimento contra o coronavírus
O abaixo-assinado criado por Kátia segue aberto para mobilizar mais gente. A petição foi incluída em um movimento de enfrentamento ao coronavírus, lançado pela plataforma Change.org, que conta com mais de 200 campanhas propondo alternativas à pandemia.