Prefeitura do Rio remove moradia de travesti na rua e perde paradeiro

Ela morava há um mês embaixo de um ponto de ônibus

14/11/2019 15:46

Carmem, de 37 anos, é uma travesti que morava há cerca de um mês em um ponto de ônibus na Praça Nossa Senhora do Amparo, em Cascadura, zona norte do Rio de Janeiro, mas foi removida em uma ação conjunta de três secretarias da Prefeitura do Rio de Janeiro, sob gestão de Marcelo Crivella (PRB), na noite desta quarta-feira, 13, após a reportagem do jornal Extra contar sua história.

Travesti disse que só quer dignidade de volta e um emprego
Travesti disse que só quer dignidade de volta e um emprego - IStock/ Imagem Ilustrativa

No local, segundo a reportagem, Carmem montou um quarto embaixo do ponto com cama, poltrona, cômoda, tapete, lixeira e vaso de flor. O local foi limpo pela Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) e a prefeitura perdeu seu paradeiro.

A Coordenaria Especial de Diversidade Sexual chegou a dizer que ela tinha ido para um abrigo, mas a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH) negou.

Nascida em Belém (PA), Carmem não concluiu o ensino médio. O pai é capitão do Exército e não a aceitava, por isso há dez anos ela decidiu sair de casa e “morar” na rua. “Não o julgo, sei que a mente é de outra época e de uma outra geração”, disse à reportagem.

Na manhã desta quarta-feira, a SMASDH do Rio conversou com ela e ofereceu acolhimento, mas ele foi recusado.

Carmem justifica sua decisão dizendo que nem todo mundo sabe lidar com homossexuais, que no abrigo acontecem brigas e podem tentar abusar dela enquanto dorme.

Ela é portadora do vírus HIV e já trabalhou como diarista e faxineira. Hoje diz quer ter a dignidade de volta e um emprego.

Saiba o que fazer e como denunciar casos de homofobia

Com uma morte a cada 23 horas de uma pessoa LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, trans e travestis) e no topo do ranking de mortes de transexuais, é inegável que exista homofobia e transfobia no Brasil. Saiba como denunciar:

Pela internet
Em casos de homofobia em páginas da internet ou em redes sociais, é necessário que o usuário acesse o portal da Safernet e escolha o motivo da denúncia.

Há aplicativos que também auxiliam na denúncia de casos de homofobia. O Todxs é o primeiro aplicativo brasileiro que compila informações sobre a comunidade, como mapa da LGBTfobia, consulta de organizações de proteção e de leis que defendem a comunidade LGBT.

Com a criminalização aprovada pelo STF, o aplicativo Oi Advogado, pensado para conectar pessoas a advogados, por exemplo, criou uma funcionalidade que ajuda a localizar especialistas para denunciar crimes de homofobia.

Delegacias
Toda delegacia tem o dever de atender as vítimas de homofobia e de buscar por justiça. Nesses casos, é necessário registrar um Boletim de Ocorrência e buscar a ajuda de possíveis testemunhas na luta judicial a ser iniciada.

As denúncias podem ser feitas também pelo 190 (número da Polícia Militar) e pelo Disque 100 (Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos).

Em alguns estados brasileiros, há órgãos públicos que fazem atendimento especializado para casos de homofobia. Lista de como denunciar em alguns estados brasileiros.