Professor da UnB é alvo de homofobia em bar no DF por causa de beijo

"Chamou meu amigo de ‘viadinho’ na frente dos policiais", disse uma testemunha

Um professor da Universidade de Brasília (UnB), de 37 anos, foi alvo de homofobia, no último domingo, 15, no Deboche! Bar, localizado em Brasília. De acordo com ele, um cliente que estava no lugar teria se incomodado ao vê-lo beijar o seu companheiro e foi fazer uma reclamação com o objetivo de que o casal não demonstrasse mais afeto diante ao público.

Professor da UnB é alvo de homofobia em bar no DF por causa de beijo
Créditos: Reprodução/DF Legal
Professor da UnB é alvo de homofobia em bar no DF por causa de beijo

O professor, que pediu para não ser identificado, diz que estava no bar com amigos, aproximadamente às 19h de domingo, onde acontecia uma roda de samba.

“Eu estava cansado de dançar e falei para os meus amigos que iria sentar um pouco com o meu parceiro. Aí, eles ficaram um pouco mais longe, e nós fomos sentar. Como só tinha uma cadeira, ele sentou no meu colo, e a gente se beijou”, relatou.

Um pouco depois, o homem percebeu que tinha uma movimentação ao seu redor. “Fui lá ver o que estava acontecendo, porque meus amigos estavam com uma cara séria. Foi quando soube que um homem da mesa ao lado havia chamado minha amiga para ela pedir que a gente parasse de se beijar porque estava incomodando ele”, conta.

Homofóbico pediu para amiga do casal avisar o “incômodo” dele

A nutricionista Carolina Abreu, de 25 anos, amiga da vítima, chegou a testemunhar o momento. “Ele estava com o parceiro dele, que é nosso amigo também, e este senhor se aproximou e falou diretamente comigo para que eu pedisse que eles parassem, imediatamente, de se beijar. Disse que ele não queria que a filha dele visse isso, mas ele estava sozinho lá”, fala a jovem.

Ela, no entanto, disse que não faria tal pedido ao casal. “Foi quando esse senhor voltou com três seguranças, dizendo que estava incomodando, que era para parar. Ameaçou ‘enfiar a mão na cara’ de um amigo meu e disse que, se eles continuassem, iria chamar a polícia.”

Quando o educador da UnB entendeu a situação, acionou a polícia. Carolina disse que mesmo com os militares no bar, o homem continuou exaltado. “Ele me disse: ‘Espero que não tenha família aqui para você ver o que pode acontecer’. Estava muito alterado, parecia bem desequilibrado. Chamou meu amigo de ‘viadinho’ na frente dos policiais”, falou a jovem.

Todos os envolvidos foram para 5ª Delegacia de Polícia (Área Central), onde foi feito um boletim de ocorrência contra o suspeito, que não teve o nome revelado pela Polícia.

Para a vítima, o objetivo de divulgar o caso não é apenas por causa dele. “Eu sou concursado, sou professor efetivo, posso frequentar o local que eu quiser. Mas imagina quem é pobre, preto e gay. Acho que não podemos mais nos calar com esse tipo de coisa”, diz.

Além do registro da ocorrência realizado na delegacia, ele fala que vai ingressar na Justiça com um processo criminal contra o suspeito. “Porque houve ameaça de agressão contra o meu advogado, que é meu amigo também.”

Posicionamento do bar

De acordo com o professor, o bar prestou apoio ao casal vítima de homofobia naquela noite. “O Deboche é conhecido por ser um lugar alternativo, que recebe bem o público LGBTQIA+. Eles foram muito atenciosos e prestaram apoio. O bar estava cheio, mas ficou todo mundo contra esse rapaz”, diz a vítima.

Em nota, o estabelecimento repudiou o acontecimento e disse que “condena qualquer tipo de ação preconceituosa e/ou intolerante”.

“Nossa equipe é treinada para prestar acolhimento à vítima e, posteriormente, acionar a polícia com a permissão do agredido. Infelizmente, casos como esse estão por toda a parte e só serão vencidos se todos estivermos unidos. Preconceituosos não são e, nunca serão, bem-vindos no Deboche. Em tempos como esses, é preciso amor e ação. Sócios e funcionários estarão ao lado da vítima até que todos os fatos sejam apurados.”

Homofobia é crime

Desde junho de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu que o crime de homofobia deve ser equiparado ao de racismo.

Em alguns casos, a discriminação pode ser discreta e sutil, como negar-se a prestar serviços. Não contratar ou barrar promoções no trabalho e dar tratamento desigual a LGBT são atos homofóbicos também.

Mas muitas vezes o preconceito se torna evidente com agressões verbais, físicas e morais, chegando a ameaças e tentativas de assassinato.

Qualquer que seja a forma de discriminação, é importante que a vítima denuncie o ocorrido. A orientação sexual ou a identidade de gênero não deve, em hipótese alguma, ser motivo para o tratamento degradante de um ser humano.