Proteção animal: pesquisa revela que a indústria de carne suína não respeita o bem-estar dos bichos
Criada pela ONG Sinergia Animal, plataforma Porcos em Foco monitora as práticas adotadas pelas principais empresas suinocultoras do país
Você se preocupa com a origem dos alimentos que chegam ao seu prato? Pois saiba que a indústria da carne suína no Brasil ainda adota muitas práticas que causam dor e sofrimento aos animais.
E é nosso papel, como consumidores conscientes, exigir que as empresas sempre optem por tratamentos que não provoquem sofrimento aos bichinhos.
Uma medida simples que você poderia tomar é evitar marcas que tenham práticas insuficientes em relação ao cuidado com os animais. Para te ajudar nessa tarefa, a ONG Sinergia Animal lançou a plataforma Porcos em Foco, que monitora as principais empresas suinocultoras do país.
Recentemente, uma pesquisa lançada pela instituição revelou que nenhuma das nove mais relevantes empresas do setor – Pamplona, BRF, JBS, Aurora, Frimesa, Pif Paf, Alegra, Alibem e Master Agroindustrial – mostrou um nível de excelência no tratamento de seus porcos.
Isso significa, por exemplo, que todas essas empresas ainda mantêm as porcas em gaiolas minúsculas em que os animais ficam praticamente imobilizados.
Para exigir mudanças e melhorias, as gigantes do setor foram ranqueadas de acordo com o seu nível de comprometimento em acabar até 2026 com as piores práticas adotadas pela indústria nacional: como o confinamento intensivo dos bichos em gaiolas de gestação; o uso de antibióticos em animais saudáveis; e procedimentos dolorosos, como a retirada dos testículos, sem nenhum alívio de dor.
A partir de oito critérios estabelecidos pela ONG Sinergia Animal (que são detalhados abaixo), as empresas foram analisadas e ganharam pontos em cada uma dessas categorias.
Para determinar essa pontuação, a plataforma leva em conta as informações oficiais disponíveis no site das empresas e os dados fornecidos por elas para a última edição do Observatório Suínos 23 (um relatório da organização Alianima sobre as práticas e metas da indústria).
Vale mencionar que as empresas não ganham ponto (0 pontos) quando não há compromisso nem declaração pública favorável a esse tema por parte das empresas; recebem 1 ponto se existe declaração pública favorável, mas ainda não há nada oficializado no site da empresa, com prazo adequado para implementação; +1 ponto, quando há o compromisso publicado no site da empresa, mas ainda não corresponde completamente às boas práticas; e +3 pontos, quando as empresas já atendem inteiramente ao critério ou anunciaram as mudanças em seus canais de comunicação, com linguagem clara e um prazo coerente.
A partir dessa pontuação, as empresas foram divididas em seis categorias, de A a F. Nenhuma atingiu o padrão de excelência máximo, como você pode conferir aqui no relatório completo da ONG Sinergia Animal.
Que tal conhecer melhor esses critérios?
Banir em 100% o uso de gaiolas de gestação em todas as operações
Para quem não sabe, as gaiolas de gestação são celas individuais de metal que têm praticamente o mesmo tamanho do corpo das porcas, impedindo movimentos básicos como se virar, caminhar, fuçar no solo e interagir livremente com outros animais.
Chamadas de “matrizes suínas”, as porcas ficam praticamente imobilizadas durante quase todo o período de gravidez, que dura entre três e quatro meses, e, por isso, muitas vezes apresentam problemas como enfraquecimento dos ossos, infecções urinárias, lesões e frustração.
Essa ação é totalmente proibida ou regulamentada em países como a Noruega, Reino Unido, Suíça, Suécia e em vários estados dos EUA. No Brasil, no entanto, não existe, até o momento, o compromisso de banir totalmente as gaiolas de gestação em todas as operações.
Banir o uso de gaiolas de gestação somente em novas unidades e ampliações de granjas existentes
Existe uma alternativa às gaiolas de gestação. As fêmeas podem ser mantidas em baias de gestação coletiva após constatação de gravidez, em um sistema chamado “cobre e solta”.
Entretanto, atualmente, apenas uma empresa brasileira adota essa política — e só para as novas unidades e ampliações de granjas já existentes, não para todas as operações.
Redução parcial do uso de gaiolas de gestação
A medida mais adotada pelos suinocultores como alternativa à gestação em gaiolas é o sistema misto. Mas essa prática apenas reduz o tempo de confinamento para quatro ou cinco semanas, ao invés de baní-lo.
Por esse motivo, para a ONG Sinergia Animal, essa não é a solução ideal. É preciso acabar de uma vez com as práticas cruéis.
Cinco das nove marcas analisadas já atendem completamente a esse critério ou têm compromissos oficiais de transição publicados em seus sites, com linguagem clara e inequívoca e prazo para implementação adequado.
Banir a castração cirúrgica
Ao invés de fazer a castração cirúrgica, ou seja, remover os testículos dos porcos sem uso de anestesia e analgesia, a ONG espera que as empresas optem pela imunocastração, que consiste na aplicação de uma vacina.
Dessa forma, há uma diminuição significativa da dor e do estresse dos animais. E, se for para fazer castração cirúrgica, é necessário utilizar anestésicos e analgésicos.
Cinco das nove marcas analisadas na plataforma Porcos em Foco já se comprometeram a adotar essa prática em um prazo razoável.
Banir o corte de dentes e permitir o desgaste de dentes somente em casos excepcionais
Como uma forma de reduzir a incidência de lesões na pele dos leitões e nas mamas das porcas durante a amamentação, as empresas cortam ou desgastam os dentes dos leitões. No entanto, boas práticas de manejo têm comprovado que o uso rotineiro dessa medida é desnecessário.
Para manter um nível adequado de bem-estar animal, é fundamental adotar o desgaste dos dentes apenas quando ele é necessário.
Cinco das nove empresas já assumiram compromissos formais com essa mudança em um tempo aceitável.
Banir o corte de orelha
É comum que a indústria mutile os porcos, removendo partes de suas orelhas, como maneira de identificá-los. Além de ser um procedimento bastante dolorido, a ONG entende que ele pode ser facilmente substituído pela colocação de brincos.
Quatro das nove empresas analisadas assumiram compromissos formais de mudar sua forma de funcionamento.
Banir o corte de cauda
Para evitar lesões em casos de surto de canibalismo entre os leitões, é comum que cortem a cauda dos animais — e isso geralmente é feito em filhotes com poucos dias de vida, sem anestesia ou analgesia.
Mas existem alternativas melhores no mercado para atenuar o problema, como enriquecimento ambiental (espaços que imitem condições mais naturais) e a adoção de uma menor densidade de porcos nas baias.
Nenhuma das empresas analisadas assumiu o compromisso oficial de banir essa prática em um prazo razoável.
Banir o uso não terapêutico de antibióticos
A indústria de suínos brasileira costuma fazer uso indiscriminado de antibióticos em animais não doentes. Como consequência disso, pode haver o surgimento de bactérias resistentes a esses remédios que, através da contaminação dos alimentos e do ambiente, podem chegar até os humanos e gerar um problema de saúde pública.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, essas superbactérias já matam 700 mil pessoas por ano e, até 2050, podem matar até 10 milhões anualmente.
Por isso, essa prática deve ser banida o quanto antes. O uso de antibióticos só deveria acontecer quando sua aplicação é necessária para tratamento de doenças. Entretanto, nenhuma das empresas analisadas assumiu compromisso nem declaração pública favorável a respeito do tema.
Para estar sempre por dentro das questões relacionadas à proteção dos bichinhos e das boas práticas adotadas pela indústria, acompanhe o site da ONG Sinergia Animal.