Vereador pede salões de beleza abertos na quarentena para mulheres ficarem bonitas para os maridos

OPINIÃO: Brasil já tem 800 mortos por covid-19, mas a preocupação de Wellington é manter viva a masculinidade tóxica dos machos

08/04/2020 18:44

O vereador Wellington de Oliveira (PSDB-MS) gerou revolta após um vídeo do político fazendo um discurso repleto de machismo cair na rede. Na gravação, realizada na Câmara de Vereadores de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul (MS), ele defendeu a reabertura do comércio da cidade em meio à pandemia do novo coronavírus.

Wellington de Oliveira caprichou no discurso machista a ponto de a gente nem saber o que dizer
Wellington de Oliveira caprichou no discurso machista a ponto de a gente nem saber o que dizer - Reprodução/Instagram

E o que mais chamou atenção no discurso de Oliveira foi a tamanha importância que ele deu aos salões de beleza que se encaixam em serviços essenciais. Agora a melhor parte: o vereador acha isso porque, segundo deu a entender no vídeo, as mulheres precisam ficar bonitas para os seus parceiros. Caso contrário, “não tem marido nesse mundo que vai aguentar”.

“Salão é importante. Imagina a mulher sem fazer sobrancelha, cabelo, unha, não tem marido nesse mundo que vai aguentar, tem que tratar da autoestima”, disse ele.

E os absurdos não param por aí. Wellington também defendeu a reabertura das igrejas usando como justificativa a violência doméstica. Segundo ele, “se a pessoa quisesse matar a mulher e os filhos, ele vai e bate na igreja, está fechada. Daí ele fala: ‘É um aviso de Deus para eu voltar lá e matar’. Então igreja é essencial, tem que criar mecanismos novos para que a igreja funcione”.

Assista ao discurso abaixo:

Após repercussão negativa do caso, o vereador pediu desculpas dizendo que tudo não passou de um mal entendido e explicou o verdadeiro significado de suas palavras:

“A intenção era dizer que o marido não aguentaria a mulher reclamando por não ter salão aberto e não pelo fato da mulher estar ou não de sobrancelhas feitas. No geral, para muitas mulheres é um serviço essencial ir ao salão. É mais que estético, é terapêutico, é um momento de valorização pessoal”, disse ao Universa, do Uol.

Já sobre justificar a abertura das igrejas para os homens não agredir as mulheres, sem levar em consideração que o real motivo da violência doméstica é tratar a vítima como posse, o vereador disse que a declaração foi tirada de contexto.

Independentemente de qual tenha sido a intenção do vereador Wellington, não dá pra negar que existe, sim, um machismo enraizado em suas palavras, dando a entender que a auto-estima da mulher é regada apenas à aparência exterior. No momento em que vivemos, uma pandemia, discursar a favor da reabertura de comércio, do corpo da mulher e da violência que ela sofre todos os dias é ignorar que já foram confirmadas até esta quarta-feira, 8, 800 mortes pela covid-19, e que, nós, mulheres, só queremos sobreviver a tudo isso em paz: sem ter dedo apontado, sem marido reclamando do mau humor da parceira, sem masculinidade tóxica contaminando mais do que novo vírus.

Por que é importante lutar contra o machismo

Com a popularização de campanhas feministas, a luta contra o machismo tem ganhado cada vez mais força. O aumento das denúncias de assédio sexual, violência doméstica e estupro fortaleceu o movimento e também revelou que as agressões persistem no dia a dia de grande parte das mulheres.

Mas, afinal, o que é machismo? O que faz uma pessoa ser ou reproduzir falas machistas? Por que é importante lutar contra o machismo? A Catraca Livre vai te explicar tintim por tintim.

O que machismo?

O machismo é o preconceito que se opõe à igualdade de direitos entre os gêneros, favorecendo o gênero masculino em detrimento ao feminino. Em bom português: é toda a opressão sofrida por mulheres e produzida por homens.

Por exemplo, uma pessoa machista é quem acredita a mulher não deve se portar e ter os mesmo direitos de um homem ou que julga a mulher como é inferior ao homem em aspectos físicos, intelectuais e sociais.

O pensamento machista é totalmente cultural e pode vir de todo canto da sociedade, independente da classe social, posição política, religião ou família.

Por ter sido tratado como algo normal por muito tempo, há apenas algumas décadas esse comportamento é problematizado, especialmente pelos movimentos feministas, que lutam pela igualdade de gênero.

E mesmo com o avanço da luta feminista, não é todo mundo que concorda que o machismo deve ser combatido. Isso faz com que, mesmo com os esforços feministas, ele ainda esteja presente em tantos ambientes.

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