Professor diz que contato com diferenças transforma uma cultura

De acordo com professor, o contato com alteridade transforma uma cultura.

Reconhecer e valorizar o ser humano em sua integridade, com suas características e costumes, é um passo importante para que uma sociedade seja mais justa, igualitária e participativa. Mas, como se constroi a alteridade nos indivíduos? A escola tem algum papel neste cenário?

Para falar sobre essas questões – e também sobre como garantir que as relações existam a partir da valorização dos contextos inter e transculturais –, o professor José Luiz Aidar Prado, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), conversou com o Centro de Referências em Educação Integral.

Doutor em Comunicação e Semiótica, Aidar coordenou de 2002 a 2008 o projeto de pesquisa “A Invenção do Outro na Mídia Semanal”, que visava entender como os discursos midiáticos também incidem sobre a construção da alteridade.

Na entrevista, o docente fala sobre as representações da cultura desconhecida que pode ora aproximar, ou afastar alguém do outro – e que assim é que se constroi a alteridade. Para exemplificar, ele citou em uma possível análise do Islã como se fosse uma só civilização, há o perigo de uma generalização infundada, já que eles são mais de 1 bilhão de pessoas e não há critério único de união entre elas em um só conjunto civilizacional.

Segundo Aidar, há misturas entre as culturas e povos ao longo dos séculos que fazem com elas se transformem intensamente. Par ele, o contato com a “alteridade transforma uma cultura sem cessar”, ficando difícil localizar a “essência” imutável de cada uma, aquela que não se altera em contato com a alteridade. “Quando se coloca o outro na posição daquele que nos impede de sermos nós mesmos, como fez o nazismo em relação aos judeus, estamos no pior dos mundos”, explica.

A escola tem seu papel na construção da alteridade.

Sobre o papel da escola na construção da alteridade, Aidar diz que ela pode apresentar aos alunos a força da cultura e dos imaginários, explicitando o movimento desses contatos interculturais, transculturais, que produzem mudanças em cada uma das partes.

Para o professor, a escola pode exercitar um olhar compreensivo da cultura do outro, produzindo, ao mesmo tempo, reflexão sobre a necessidade de diálogo. Ou seja, ele explica que a escola pode ajudar a compreender a diferença entre culturas, na busca de algo que ultrapasse o meramente relativista, de algo que possa unir a partir das (e não contra as) diferenças.

Aidar diz que o aprendizado sobre a alteridade deveria fazer parte do contexto cotidiano das disciplinas, da vivência da cidade, da leitura das mídias, da compreensão da literatura e da política. Os temas disciplinares deveriam ser aproximados daqueles da vida cotidiana em que os vários grupos sociais vivem realidades culturais e sociais diferentes.

O professor ainda problematizou o dimensionamento errôneo do outro com o atentado de 11 de Setembro nos Estados Unidos. Segundo ele, após a destruição das torres gêmeas, ocorreu uma intensificação de uma visão do árabe como terrorista ameaçador e uma generalização disso para toda a cultura árabe. Ou seja, houve perda de alteridade.

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Com informações de Centro de Referências em Educação Integral.