5 destaques da palestra que marcou a vinda de Malala ao Brasil

A ativista paquistanesa mais jovem a receber o Nobel da Paz anunciou investimento em três projetos brasileiros em prol da educação

10/07/2018 16:36 / Atualizado em 12/07/2018 10:49

“Uma criança, um professor, um livro e uma caneta podem mudar o mundo. Educação é a única solução”, disse Malala Yousafzai durante discurso na ONU, em 2013 – Nova York (EUA). “A educação é o melhor investimento sustentável a longo prazo”, afirmou também a ativista em evento em São Paulo, 2018.

Duas importantes falas que, separadas por cinco anos de ativismo, demonstram como a voz poderosa da jovem paquistanesa, que completa 21 anos em 12 de julho, ganhou proporções e são traduzidas em ações efetivas. O Malala Fund, organização sem fins lucrativos para promover a educação às meninas, atua no Afeganistão, na Índia, no Líbano, na Nigéria, no Paquistão, na Turquia e anuncia expansão pela América Latina.

A ativista paquistanesa Malala Yousafzai, em visita à capital paulista, no Auditório Ibirapuera
A ativista paquistanesa Malala Yousafzai, em visita à capital paulista, no Auditório Ibirapuera - Rovena Rosa/Agência Brasil

“Existe 1,5 milhão de meninas sem acesso à escola no Brasil. Quero encontrar meios para mudar isso”, explicou Malala sobre sua vinda ao país pela primeira vez, quando se apresentou no Auditório Ibirapuera, zona sul de São Paulo (SP), na última segunda-feira, 9. A Catraca Livre esteve lá e destaca cinco importantes momentos da palestra:

  • Ativistas locais e investimento em projetos brasileiros

“Recebi muitas cartas de apoio e mensagens do Brasil, pedindo que eu um dia viesse aqui. Este país tem uma grande energia que emana dos jovens, e minha esperança é encontrarmos maneiras de todas as meninas daqui terem acesso à educação, sobretudo de comunidades afrodescendentes e indígenas”, pontuou a ativista mais jovem a ganhar o Prêmio Nobel da Paz.

Segundo ela, os ativistas locais são importantes para a construção de soluções dos problemas da educação em regiões menos favorecidas. São com essas pessoas que Malala quer trabalhar para integrar a Rede Gulmakai, uma iniciativa do Malala Fund.

Serão investidos US$ 700 mil em projetos de três mulheres ativistas em prol da educação no Brasil: Sylvia Siqueira Campos, presidente do Movimento Infanto-juvenil de Reivindicação (Mirim), de Recife (PE); Ana Paula Ferreira de Lima (BA) uma das coordenadoras da Associação Nacional de Ação Indigenista (Anaí); e Denise Carreira, coordenadora adjunta da Ação Educativa, em São Paulo (SP).

  • Importância dos pais no incentivo ao estudo

A palestra também abordou o empoderamento feminino por meio da leitura. Em relação a isso, a paquistanesa destacou que “o papel dos pais e das mães é fundamental”. Para exemplificar, compartilhou uma situação de quando era aluna em seu país: uma colega da escola chegou atrasada para a aula e explicou que precisava esperar os pais saírem de casa para poder ir estudar, escondida.

Malala conta que outras amigas de sua classe também defendiam a educação feminina. No entanto, a diferença era que seus pais a apoiavam.

“Havia muitas meninas da minha turma que queriam levantar suas vozes pela educação. Eu não tinha nada de especial nem era mais inteligente do que qualquer garota do Vale do Swat [Paquistão]. Mas a minha diferença é que meu pai não me impediu de continuar. Meu pai foi um homem que quebrou barreiras por me deixar estudar”, disse.

  • Vingança e raiva

Quando questionada se gostaria de se vingar de quem a atacou – quando tinha 15 anos, Malala sobreviveu a um atentado de membros do Talibã simplesmente por querer estudar, levou um tiro na cabeça dentro do ônibus escolar –, a jovem sorriu e respondeu: “A melhor maneira de me ‘vingar’ é pela educação, educar todas as crianças do mundo, inclusive filhos e filhas dos que me atacaram. E de alguma maneira estamos conseguindo”.

Malala se apresenta em São Paulo, durante visita ao Brasil
Malala se apresenta em São Paulo, durante visita ao Brasil - SM2 Fotografia

“Eu não sinto raiva. Quando você fala com raiva e violência, a mensagem é perdida. Uma mensagem pacífica tem um poder oculto. Quando você converte a energia da raiva em energia positiva ninguém pode te ignorar”, completou ela, seguida pelos aplausos fervorosos da plateia em São Paulo.

“Sei que às vezes existe raiva ou falta de esperança, mas a sua luta e o seu ativismo têm o poder de fazer mudanças. Vocês não devem esperar que alguém fale por vocês. Vocês sempre têm de erguer suas vozes“, incentivou.

  • A mulher na sociedade

Para Malala, a educação das mulheres transforma o mundo e que os homens também são responsáveis por uma sociedade igualitária. “Fui um alvo [do Talibã] porque eles entenderam que o empoderamento feminino vinha da educação, que tem a ver com emancipação”, falou.

“Trata-se não só de aumentar o conhecimento das mulheres, mas também crescer economias, fortalecer democracias e dar estabilidade aos países. A educação é o melhor investimento sustentável a longo prazo“, concluiu a convidada.

Sobre a luta, ela sabe que não é fácil. “Meninas da Nigéria estão enfrentando o extremo perigo de serem raptadas, enquanto garotas de Paquistão, Índia e América Latina são forçadas a se casar muito cedo ou são vítimas de abusos sexuais. Elas continuam a lutar e não perdem a esperança. Se elas não perdem a esperança, porque deveríamos nós?”, disparou.

  • Diversidade nas escolas

“Eu acho que diversidade é uma coisa extremamente importante, para mim significa beleza e traz beleza ao nosso ambiente, ao nosso país e às escolas que a celebram. É muito importante você celebrar a diversidade sempre, seja onde for, na TV, nas empresas…”, ressaltou.

“Toda a população precisa receber oportunidades iguais, principalmente na escola. É importante que as crianças saibam pelos livros e professores que têm oportunidades iguais para todo mundo, que ter a cor diferente ou a religião diferente não significa que não podem ter as mesmas metas”, respondeu a ativista paquistanesa.