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‘É minha missão de vida’, diz paulista que plantou 23 mil árvores

O que estão fazendo com o meu quintal?” Foi essa a frase que surgiu no pensamento de Hélio Silva, de 66 anos, em uma das manhãs em que caminhava pela avenida Governador Carvalho Pinto, na Penha, zona leste da cidade de São Paulo.

Hélio Silva, 66 anos, o paulista que plantou 23 mil árvores
Créditos: Picasa
Hélio Silva, 66 anos, o paulista que plantou 23 mil árvores

O pensamento o tomou como o estalo de um galho que se parte em uma pisada. Hélio anda por ali desde 1958, ano em que se estabeleceu naquela região da capital paulista – ele nasceu em Promissão, interior do Estado. Assim, acompanhou de perto o processo de degradação da área. “Quando cheguei, era tudo mato. E era bom.”

Naquela manhã de 2003, chegou a comentar com alguém que caminhava a seu lado: “Até 2013, eu vou transformar todo esse ambiente, e isso só será possível porque eu vou me transformar também”.

Ele explica que grandes mudanças têm de vir de dentro pra fora. “Quando você muda, transforma tudo ao seu redor. E o que surgia com mais força, naquele momento, dentro de mim, era a generosidade.”

Sem ela, ele diz, o espaço público, que, em tese, é de todos, vira uma terra de ninguém. “Resolvi devolver para São Paulo um pouco do que São Paulo me deu”, afirma, referindo-se a um trabalho que diz adorar, ao casamento e a três filhos e três netos.

Formado em administração de empresas, Hélio é executivo da empresa Native, que faz produtos orgânicos. “Trabalho até hoje porque gosto, não por dinheiro”, ressalta.

E foi nos finais de semana, em seus dias de folga, que começou a plantar. “Não classifico essa iniciativa como um desafio ou uma meta, mas como uma missão”, diz. “E missões só são delegadas àqueles que as irão cumprir.”

Assista ao curta “The Planter”, de Rafael Machado e Rômulo Villela, premiado no festival MegaCities:

A sua envolve obstinação. “Eu meti as caras”, conta. As primeiras 200 mudas que plantou foram arrancadas por comerciantes da região que usavam o solo devastado como estacionamento. A prefeitura também não colaborava, proibindo-o de semear o chão árido.

Aos poucos, por teimosia, e costurando alianças, foi vencendo resistências. “Fiz amizade com políticos como Eduardo Jorge, Serra, Alckmin”, cita. Em 2008, “com muita persistência”, já havia plantado por ali 5.000 árvores. E não espécies quaisquer, porque, da missão, fazia parte estudar as plantas nativas da região para reconstitui-la de acordo com suas origens. A cada 12 árvores plantadas, uma é frutífera, para atrair pássaros.

O esforço resultou no reconhecimento do projeto pela própria prefeitura: o “quintal” de Hélio, o Tiquatira, tornou-se o primeiro parque linear da cidade. “O parque não é meu”, ele frisa, aliás. “É dos meus e dos seus tataranetos, porque um jequitibá [uma das espécies plantadas], por exemplo, vive 2.000 anos.”

E não é só das pessoas também, faz questão de dizer. “É das árvores. Não pense que estou louco pelo que vou falar, mas elas batem o maior papo entre elas. Quando vou lá, sinto-me abraçado por elas. Você pensa que as observa, mas elas é que olham para você. Um dia o homem vai entender isso.”

E a conversa deve estar pra lá de boa, afinal, porque Hélio já plantou mais de 20 mil árvores – ou, mais precisamente, 23.245 contabilizadas até o dia 13 de janeiro deste ano, entre mais de 150 espécies da Mata Atlântica – várias delas genuinamente brasileiras, caso da grumixama.

E a missão já dá frutos em outro ponto da cidade, onde está a ponte estaiada do Tatuapé, sobre a avenida Salim Farah Maluf. Ali, em cujas redondezas fica o escritório da Native, já foram plantadas cerca de 500 árvores.

Hoje, Hélio Silva é membro do Conselho Gestor de Arborização da Cidade de São Paulo, ligado à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Dá palestras sobre seu projeto em escolas e faculdades – “não cobro nada, quando querem pagar não vou” – e prepara um livro sobre o tema.

Como se vê, o barulho daquele estalo de 15 anos atrás reverberou. Mas até quando? “Fiz um pacto com Deus”, afirma Hélio. Vou viver mais 21 anos, até os 87. E vou plantar até meu último olhar. Quero morrer embaixo de uma árvore, companheira e amiga.”

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Curadoria: engenheiro Bernardo Gradin, especialista em soluções sustentáveis.