Exposição é acusada de blackface ao retratar famosos como negros

A 'Pourquoi pas?' é uma mostra da ex-consulesa da França no Brasil, Alexandra Loras

Silvio Santos, Xuxa e João Doria estão entre as figuras retratadas

Nos últimos dias, uma exposição da ex-consulesa da França no Brasil, Alexandra Loras, provocou um intenso debate sobre o uso do “blackface” no mundo da arte. A “Pourquoi pas?” (“Por que não?”), cuja proposta é mostrar um “mundo invertido”, reuniu imagens de 20 personalidades brancas e escureceu digitalmente o tom de suas peles.

João Doria, Dilma Rousseff, Gisele Bündchen, Silvio Santos, Donald Trump e Xuxa estão entre os famosos que tiveram seus retratos modificados, ganhando traços afrodescendentes. No entanto, após a divulgação da mostra em sua conta no Facebook, internautas acusaram Loras de usar o “blackface” nas fotos, prática considerada racista.

  • O que é o “blackface”:
  • O blackface surgiu por volta de 1830, quando homens brancos se pintavam de preto – de forma estereotipada – e se apresentavam para a aristocracia branca com o objetivo de satirizar a população negra. Anos depois, a prática ganhou popularidade nos cinemas e televisão, como ferramenta de entretenimento.

“Black face?? Doria? Temer? Gisele Bündchen? Elizabeth II? Pq ñ colocar então o Rei do Lesotho, alguma top model negra, os fundadores da Frente Favela Brasil (se o objetivo era questionar a falta de lideranças políticas negras)? Que representação esses personagens têm para a causa negra?? Eu digo: nenhuma! Nenhum compromisso com as lutas do povo negro! Pintar seus rostos de negro ñ tem qualquer significado de ativismo negro!!”, disse uma seguidora.

Diante da polêmica, a ex-consulesa publicou uma nota de esclarecimento sobre a exposição nesta segunda-feira, dia 27. “Como artista negra, meu objetivo é fazer uma reflexão sobre o protagonismo do negro na sociedade brasileira sem dar qualquer conotação pejorativa aos personagens retratados, mas sim mostrar como o eurocentrismo atual é chocante e absurdo para os negros“, escreveu.

Em sua origem, o blackface é uma técnica de maquiagem teatral adotada no século 19 por atores brancos americanos que…

Posted by Alexandra Loras on Monday, November 27, 2017

Após a defesa de Alexandra Loras, os comentários na internet continuaram questionando a escolha das figuras representadas e a mensagem passada pelas obras. A exposição acontece entre os dias 2 e 22 de dezembro na galeria Rabieh, em São Paulo.

Veja algumas das obras:

View this post on Instagram

Sabíamos que esta exposição poderia incomodar. Mas a arte seria ainda arte se ela fizesse unanimidade e não causasse  debate? Uma das funções da arte não é ter um impacto na sociedade, questionando algumas regras sociais,  e quebrando os códigos atuais? Os artistas Matisse, Derain e Vlaminck foram vaiados e causaram escândalo no Salão de Outono de Paris em 1905. Depois dessa repulsa, o "Fauvismo" foi criado e se tornou um dos principais movimentos da pintura do século XX. Com o nosso titulo "Pourquoi pas?" nós obviamente não pretendemos mudar o curso da arte no século XXI. Como já dissemos, a nossa intenção é de estimular o debate e o questionamento na nossa sociedade atual. Por consequência,  respeitaremos todas as opiniões que foram ou serão formuladas, por mais duras que sejam. Algumas criticas vêm até das grandes figuras da comunidade negra por  quem temos respeito e admiração. Esses pontos de vista nutrem esse debate que consideramos indispensável e saudável. Referente a critica de fazer "black face" nesta exposição, achamos que se tiver blackface, nao esta nos retratos dessas celebridades brancas com pele negra, mas muito mais no olhar de uma parte da sociedade, que ve nestes retratos primeiramente (ou unicamente) a cor negra ou ainda pior uma caricatura de negro. Algumas reações abrasivas sugerem que os brancos não são os únicos em questão …

A post shared by Alexandra Loras Palestrante (@alexandraloras) on

View this post on Instagram

@dilmarousseff Em sua origem, o blackface é uma técnica de maquiagem teatral adotada no século 19 por atores brancos americanos que pintavam seus rostos com carvão para representar os negros de forma estereotipada e jocosa. Em momento algum essa antiga prática norteou a concepção das obras da minha exposição, que será inaugurada no dia 2 de dezembro. Como artista negra, meu objetivo é fazer uma reflexão sobre o protagonismo do negro na sociedade brasileira sem dar qualquer conotação pejorativa aos personagens retratados, mas sim mostrar como o eurocentrismo atual é chocante e absurdo para os negros, pois não somos representados de maneira digna, respeitosa e igualitária. Ao propor um mundo “invertido”, com negros em papéis de destaque na sociedade, me pergunto se faríamos os mesmos comentários preconceituosos ou se teríamos as mesmas posturas. Meu desejo é provocar uma reflexão e não resgatar uma ferramenta considerada racista e que ridiculariza o negro.

A post shared by Alexandra Loras Palestrante (@alexandraloras) on

View this post on Instagram

Você sabe quem é? …. Sabíamos que esta exposição poderia incomodar. Mas a arte seria ainda arte se ela fizesse unanimidade e não causasse  debate? Uma das funções da arte não é ter um impacto na sociedade, questionando algumas regras sociais,  e quebrando os códigos atuais? Os artistas Matisse, Derain e Vlaminck foram vaiados e causaram escândalo no Salão de Outono de Paris em 1905. Depois dessa repulsa, o "Fauvismo" foi criado e se tornou um dos principais movimentos da pintura do século XX. Com o nosso titulo "Pourquoi pas?" nós obviamente não pretendemos mudar o curso da arte no século XXI. Como já dissemos, a nossa intenção é de estimular o debate e o questionamento na nossa sociedade atual. Por consequência,  respeitaremos todas as opiniões que foram ou serão formuladas, por mais duras que sejam. Algumas criticas vêm até das grandes figuras da comunidade negra por  quem temos respeito e admiração. Esses pontos de vista nutrem esse debate que consideramos indispensável e saudável. Porém, no que diz respeito ao "blackface" da exposição, não buscamos nenhum paralelo entre essa prática e os retratos dessas celebridades brancas de pele negra. Aliás, seria interessante saber se, na reação de alguns visitantes, eles veem nestes retratos primeiro (ou unicamente) a cor negra ou uma caricatura de negro. Algumas reações abrasivas sugerem que os brancos não são os únicos em questão …

A post shared by Alexandra Loras Palestrante (@alexandraloras) on

View this post on Instagram

Sabíamos que esta exposição poderia incomodar. Mas a arte seria ainda arte se ela fizesse unanimidade e não causasse  debate? Uma das funções da arte não é ter um impacto na sociedade, questionando algumas regras sociais,  e quebrando os códigos atuais? Os artistas Matisse, Derain e Vlaminck foram vaiados e causaram escândalo no Salão de Outono de Paris em 1905. Depois dessa repulsa, o "Fauvismo" foi criado e se tornou um dos principais movimentos da pintura do século XX. Com o nosso titulo "Pourquoi pas?" nós obviamente não pretendemos mudar o curso da arte no século XXI. Como já dissemos, a nossa intenção é de estimular o debate e o questionamento na nossa sociedade atual. Por consequência,  respeitaremos todas as opiniões que foram ou serão formuladas, por mais duras que sejam. Algumas criticas vêm até das grandes figuras da comunidade negra por  quem temos respeito e admiração. Esses pontos de vista nutrem esse debate que consideramos indispensável e saudável. Porém, no que diz respeito ao "blackface" da exposição, não buscamos nenhum paralelo entre essa prática e os retratos dessas celebridades brancas de pele negra. Aliás, seria interessante saber se, na reação de alguns visitantes, eles veem nestes retratos primeiro (ou unicamente) a cor negra ou uma caricatura de negro. Algumas reações abrasivas sugerem que os brancos não são os únicos em questão …

A post shared by Alexandra Loras Palestrante (@alexandraloras) on

View this post on Instagram

A Rainha da Inglaterra Arte engajada #ARTivism Sob a curadoria do artista e grafiteiro paulistano Ėnivo, a exposição apresenta 20 retratos de personalidades brancas que tiveram seus tons pele escurecidos por meio de manipulação digital e ganharam traços afrodescendentes, entre elas Donald Trump, Rainha Elizabeth, William Waack, Marilyn Monroe, Silvio Santos, João Doria, Dilma Rousseff, Michel Temer, Geraldo Alckmin, Xuxa e Gisele Bündchen. Nesse mundo “invertido”, Alexandra Loras propõe, com uma dose de humor e ironia, uma reflexão mais profunda sobre o protagonismo do negro na história. “Será que faríamos os mesmos comentários preconceituosos? Teríamos as mesmas posturas? Tomaríamos as mesmas decisões? Trataríamos os diferentes da mesma forma?”, pergunta Enivo. A ideia da exposição teve o apoio imediato da galerista Lourdina Jean Rabieh e de Vinicius Dapper, CEO da Zeferino, depois de assistirem a ex-consulesa em uma de suas palestras usando essas imagens para refletir sobre o papel do negro na sociedade. “Meu objetivo é provocar uma experiência de empatia profunda nas pessoas mostrando celebridades e políticos brancos no país com a segunda maior população negra do planeta e onde essa maioria é tratada como minoria”, explica. “Apresento essa realidade invertida para provar o quanto estamos longe de uma democracia racial, que só existirá de fato quando tivermos os 54% da população negra do Brasil no Congresso, na mídia, nos boards executivos, ocupando cargos de liderança”. #ARTivismo #diadaconsciencianegra

A post shared by Alexandra Loras Palestrante (@alexandraloras) on

  • Veja também: