Canal no YouTube traz jovens usando drogas ‘em nome da ciência’

Por: Redação

A Holanda é conhecida por ser liberal com suas políticas públicas relacionadas a drogas. E mais uma vez, o país surpreendeu com um projeto ousado e polêmico.

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O canal no YouTube “Drugslab” (O Laboratório das Drogas, em português) – no ar há  um ano e com 498.473 inscritos – é comandado por três jovens que consomem drogas durante o programa para  “fins educativos”.

A ideia é que os protagonistas do canal, Rens Polman, Nellie Benner e Bastiaan Rosman, além de auxiliar os espectadores sobre quais são as formas corretas de consumo para diminuir os riscos, também relatem os efeitos das drogas usadas.

“No DrugsLab testemos drogas em nome da ciência para ver os efeitos no nosso corpo”, diz um dos apresentadores.

Em cada episódio, um dos apresentadores testa uma droga, antes descrevendo sua substância ativa, como foi criada ou descoberta.

Durante o vídeo, são mostrados os efeitos que elas causam no corpo, por meio de um medidor de batimentos cardíacos e temperatura corporal, e descritas pelo participante que consumiu a droga.

Friday! Drugslabday! At 5:00 PM we’ve got a brand new episode for you with an interesting drug ????

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De um lado, muitos se revoltaram com a proposta de fazer com que jovens se droguem. De outro lado, houve apoio à causa, diante da defesa de que a informação dá o direito da escolha, além de evitar que o mau uso de alguma droga causa consequências ainda mais graves aos seus usuários.

No início do vídeo, o anúncio aponta: “Este é om programa educacional sobre o uso e os efeitos das drogas. Sua intenção não é encorajar pessoas a usar drogas”.

Segundo Jelle Klumpenaar, criador e produtor do Drugslab, disse à BBC Brasil, a ideia do canal é oferecer um serviço e reduzir os danos causados pelo consumo dessas substâncias, não incentivá-lo.

“Educar jovens sobre drogas é uma boa forma de evitar acidentes. E eles preferem pessoas reais contando histórias reais em vez de apresentadores lendo roteiros. Há quem ache nosso conteúdo controverso, e respeitamos isso. Falar sobre o tema ainda é um grande tabu em muitos países. Queremos quebrar esse tabu”, afirma Klumpenaar.

Segundo pesquisas de 2014 do Ministério da Saúde, cerca de 60% dos jovens e adolescentes do País já fizeram uso de álcool ou outras drogas.

O psiquiatra Dartiu Xavier, que coordena há 28 anos o Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), disse à BBC que o canal pode servir como um serviço de utilidade pública, já que as políticas de combate às drogas muitas vezes não são tão efetivas e uma estratégia visando a redução de danos vem ganhando força. Leia matéria completa.

Políticas no Brasil

O Portal as Saúde, do governo federal, traz uma relação das drogas mais comuns e seus efeitos sobre o organismo no intuito de esclarecer aos jovens os riscos ligados ao consumo de cada uma delas.

“Faz parte da adolescência a busca por novas experiências e sensações. Aí entra também a curiosidade pelo uso das drogas, tanto as lícitas, quanto as ilegais. Se você é adolescente, é importante estar informado quanto aos riscos relacionados ao consumo de álcool e outras drogas”, aponta o documento.

Confira a lista de substâncias e seus riscos:

Álcool – Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente proíba a venda de qualquer tipo de bebida alcoólica para menores de 18 anos; entre os jovens de 12 a 17 anos a taxa de dependentes de álcool é de 7%. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) de 2009, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e financiada pelo Ministério da Saúde, mostrou que 27% dos estudantes haviam bebido no último mês.

Riscos – A bebida pode agir como estimulante em uma primeira fase e deixa a pessoa desinibida e eufórica, mas à medida que as doses aumentam, começam a surgir os efeitos depressores, que levam a diminuição da coordenação motora, dos reflexos e sono. O uso prolongado pode causar alcoolismo, cirrose e câncer no fígado. No comportamento, provoca agressividade.
É importante ressaltar que o consumo de álcool pode trazer prejuízos ao corpo do adolescente, ainda em formação. Além disto, pode aumentar a vulnerabilidade para infecções sexualmente transmissíveis, pela ausência do uso de preservativo nas relações; violência e acidentes.
Tabagismo – A produção do cigarro é um processo que leva a adição de vários produtos e processos químicos. Vários componentes do cigarro podem provocar câncer, tais como a amônia, a acetona, o monóxido de carbono. Resultados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE – 2009), elaborada pelo IBGE e financiada pelo Ministério da Saúde revelam que quase 76% dos estudantes brasileiros nunca experimentaram o cigarro.
Riscos – O cigarro costuma provocar doenças a longo prazo. Dentre elas estão o câncer de pulmão, de faringe, de boca, além de problemas cardíacos, circulatórios e pulmonares.

Inalantes – São produtos industriais combustíveis ou de limpeza inalados com o propósito de sentir algum barato. Em poucos segundos podem provocar euforia e fantasias, mas os efeitos desaparecem rapidamente. Geralmente é usado por adolescentes em situação de rua. Exemplos: Solventes, Gases, Éter, clorofórmio.
Riscos – Danos ao fígado, rins, perda de peso, ferimentos no nariz e boca. Em usuários crônicos pode causar danos irreversíveis ao cérebro e até morte.
Maconha –É o nome popular da planta Cannabis sativa. Esta droga, se fumada em pequenas doses pode alterar a percepção do indíviduo quanto ao gosto, tato, olfato e tempo.
Riscos do uso – prejudica a memória, diminui os reflexos, pode causar problemas no aparelho respiratório e aumenta as chances de desenvolver câncer de pulmão.
Cocaína – Substância extraída das folhas da coca que provoca nos usuários a sensação de alerta, euforia, auto-confiança; mas também pode provocar sensação de perseguição, ansiedade, isolamento, pânico e agressividade. Diminui o sono, cansaço e apetite.
Riscos do uso – Quando usada altera as batidas do coração, a pressão arterial e a temperatura. Quando injetada na veia, a overdose desta droga pode levar a morte por depressão, convulsão e falência cardíaca. O uso compartilhado de seringas pode trazer doenças como a AIDS e hepatites.
Ecstasy – Droga sintética que provoca modificação na percepção dos sons e imagens.
Riscos do uso – Aumento da temperatura corporal e desidratação, esgotamento físico e morte súbita. Uso repetido pode gerar ansiedade, medo, pânico e delírios.
Crack – É uma droga proveniente das sobras do refino da cocaína, que pode gerar dependência rapidamente. Em poucos segundos ela atinge o sistema nervoso e produz agitação e euforia. Logo mais, vem a depressão.
Conseqüências do uso: Perda de apetite, perda de peso e desnutrição, insônia, rachaduras nos lábios e gengivas, tosse e problemas respiratórios, problemas cardíacos, depressão e sentimento de perseguição.

A página lembra que em caso de dependência química, a população pode buscar tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) infantil e adolescente ou o CAPS I ou CAPS II, CAPS III. O Sistema Único de Saúde oferece ainda: programas de redução de danos, atenção básica, internação e consultórios de rua. Confira a lista de CAPS aqui.

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