A controversa lógica de quem cuida da saúde se aglomerando

Não é razoável que existam pessoas que coloquem o objetivo de manter um corpo ‘sarado’ acima dos cuidados de distanciamento social

Com o número de mortos por covid-19 no Brasil escalando exponencialmente desde o início desse ano, torna-se evidente a necessidade de revermos nossas prioridades, principalmente no caso daqueles que ainda insistem em desrespeitar as recomendações de isolamento e distanciamento sociais. Com uma média superior a 2 mil mortos por dia, e várias cidades e estados com hospitais em colapso, não é razoável que ainda existam pessoas que coloquem o objetivo de manter um corpo ‘sarado’ acima dos cuidados que todos temos que ter para ajudar o país a sair da maior catástrofe sanitária da sua história.

Evidentemente, a questão aqui não envolve criticar quem se exercita. Muito pelo contrário. Exercitar-se, respeitando-se a necessidade de isolamento social, é uma prática fundamental não apenas para a nossa saúde física, mas, em contexto de quarentena, principalmente para a saúde mental de todos nós.

O ponto é outro. Infelizmente ainda há um grande número de pessoas que insistem em se exercitar de maneira inadequada, colocando todos nós em risco, e contribuindo, assim, diretamente, para manter a situação de colapso em nossos hospitais.

Cuidar da saúde se aglomerando em plena pandemia é algo que não faz sentido
Cuidar da saúde se aglomerando em plena pandemia é algo que não faz sentido - Maarten Zeehandelaar/istock

Refiro-me aqui a todos que vêm praticando exercícios aglomerando-se em praças e em frente a parques e outros espaços públicos. O entorno do Parque Ibirapuera na cidade de São Paulo, por exemplo, é uma triste ilustração nesse sentido. Centenas de pessoas aglomeradas, revezando diversos instrumentos – de halteres a cordas e fitas –, e suando em bicas sob máscaras milimetricamente colocadas abaixo do queixo ou do nariz.

Não há dúvida de que se exercitar em casa tem os seus limites. O mesmo vale para os exercícios ao ar livre com máscara, em horários alternativos e respeitando-se isolamento social. Mas agora essa não é que uma questão de escolha.

A pressão estética, aqui definida como pressão social, perpetuada e difundida pela sociedade na tentativa de encaixar pessoas em padrões férreos de beleza, e que normalmente vem disfarçada de discurso de saúde, deve ser combatida de forma ainda mais veemente no momento em que vivemos.

Enquanto não nos conscientizarmos e não agirmos de maneira mais responsável, continuaremos a ser diretamente culpados pelas milhares de mortes diárias ceifadas pelo vírus, além de estarmos desrespeitando nossos médicos e enfermeiros, cada vez mais exaustos, e que vêm atuando bravamente na linha de frente nos hospitais.

Seja um exemplo e um perpetuador de bons hábitos nesse momento tão difícil e triste. Se puder, fique em casa, exercitando-se com segurança e em respeito a regras de isolamento social. Com isso, mesmo que seu corpo não fique exatamente da forma como você quer, você estará protegendo a sua vida e a do próximo.

Texto escrito pela nutricionista Marcela Kotait.