A natureza da alimentação mudou com quarentena e com a nossa própria natureza

Em parceria com Alexandre Canatella
30/04/2020 19:16

A natureza mudou, depois que deixamos as ruas. Com a natureza humana não foi diferente.

Se voltarmos no tempo para analisar, desde a época das cavernas entendemos que havia uma ameaça do lado de fora. Saíamos para caçar o alimento e voltávamos para prepará-lo no ambiente protegido. Em um momento de pandemia e isolamento social, descobrimos a natureza do que fomos. Corremos para os supermercados em busca de alimentos para estocar. Fizemos isso por medo, na busca por uma sensação de segurança, e nos fechamos.

Maritacas aprendem a cozinhar durante a pandemia em minha cozinha – Brooklin, São Paulo/SP – abril 2020
Maritacas aprendem a cozinhar durante a pandemia em minha cozinha – Brooklin, São Paulo/SP – abril 2020 - Alexandre Canatella

Voltamos aos tempos das cavernas, mas agora numa era mais moderna, com todos em suas cavernas individuais e se conectando, trocando experiências. E, uma das atividades que mais estamos falando é a de cozinhar, de se alimentar. Esta nova era fez com que pensássemos no alimento de forma recorrente e diferente.

Temos no Brasil uma diversidade imensa de produtos, o que nos permite criar, brincar na cozinha e, melhor ainda, estarmos reunidos com nossos familiares. Quem nunca ouviu a frase de que “a cozinha é o coração de uma casa?”.  Todo mundo gosta de ir até o fogão, espiar as panelas, sentir aromas que trazem boas memórias. Comer voltou a ser um hábito de prazer e não só uma obrigação.

Em grandes cidades, centros urbanos e na mídia houve a crença que em novos tempos, seria possível se alimentar de maneira conveniente e mais econômica por meio do delivery a cozinhar na própria caverna. Entretanto, nos esquecemos que comer é um ato político, social e humano, “demasiadamente humano”, diria Nietzsche. Ou seja, existem medos que não vinham dos predadores de fora. Em consequência disso se elencam as seguintes indagações:

O que cozinhar de maneira simples?

O que fazer além do repertório conhecido?

O que fazer com a caça que eu tenho em casa?

O ato político de manipular o alimento nos fez deparar com discussões sobre origem, validade e destino, quando sobra. Não é mais sobre conveniência. É sobre impactar o mundo e a forma como vivemos.

Isso reflete a natureza humana e nós voltamos a ela.

Sobre a natureza de como colocamos afeto no alimento dentro da caverna, falarei mais no próximo artigo. Assim sendo, coloque a água pra ferver.